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A Teoria da Dependência e o Agronegócio

Por:   •  14/10/2021  •  Artigo  •  2.803 Palavras (12 Páginas)  •  142 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA

Ian Monteiro Jesus

Matrícula: 92784

A Teoria da Dependência e o agronegócio: uma análise dos impactos na Câmara dos Deputados em relação ao mundo do trabalho

Viçosa – Minas Gerais

2020

Introdução:

        A partir desse artigo tenho a intenção de utilizar a teoria da dependência para estabelecer uma relação entre o imperialismo internacional e a influência do agronegócio na política brasileira. Assim como entender alguns desdobramentos causados pela oligarquia ruralista que acompanha o Brasil desde a sua colonização. O intuito é compreender melhor como funciona o exercício do poder por parte dos empresários do agronegócio, ao mesmo tempo em que se percebe os impactos desse exercício.

O poder é a questão central de toda sociedade. A razão é simples. É ele que nos irá dizer quem manda e quem obedece, quem fica com os privilégios e quem é abandonado e excluído.” (SOUZA, 2019, p. 11)

É inegável que a banca ruralista é uma das mais influentes no congresso, e é composta principalmente por latifundiários e por indivíduos que possuem uma ligação com estes. Além disso, pode-se perceber que se trata de uma das bancadas mais bem articuladas, que não têm grande dificuldade em unir seu numeroso contingente de integrantes para votar em prol da aprovação de políticas públicas que buscam beneficiar a agricultura empresarial. Além disso, o grande número de políticos ligados aos interesses do agronegócio faz com que diversas pautas, que de alguma forma afetariam o lucro desses latifundiários, sejam barradas. Principalmente, quando se trata de questões ambientais, ou relacionadas aos direitos trabalhistas, ou pautas que buscam uma maior assistência social aos povos indígenas e aos pequenos agricultores.

“A hipótese levantada é a de que a relevância e contínua expansão do agronegócio encontram-se associadas às políticas de natureza imperialista (um novo imperialismo, constituído sobre outras bases), bem como esta relevância/contínua expansão é reprodutora de uma situação de dependência econômica, erigida, também, sobre novas bases, aquelas atinentes ao capital financeiro em proporções globais.” (XAVIER, 2017, p. 151)

Inicialmente, para que o entendimento acerca do assunto seja mais completo, farei uma retrospectiva histórica, analisando dessa forma a produção agrícola no Brasil desde a colonização, assim como a importância desse setor para a economia do país historicamente. No intuito de ser mais específico escolhi compreender os impactos da influência do agronegócio no que tange o mundo do trabalho, e como esses impactos, por meio da precarização, fortalecem ainda mais o status quo.

Teoria da Dependência e retrospectiva histórica

Essa vasta influência que o agronegócio conseguiu estabelecer no cerne da democracia brasileira não ocorreu por acaso. É fruto de uma monopolização de terras e renda que acompanha historicamente o Brasil. De acordo com o autor Theotonio dos Santos existem três formas históricas de dependência, são elas: dependência colonial, financeiro-industrial e tecnológico-industrial. Todas elas podem ser relacionadas com algum período histórico do Brasil.

Desde a colonização o país tem a sua economia baseada na exploração dos recursos naturais. Inicialmente o que chamou a atenção foi a grande quantidade de pau-brasil em suas terras, porém o grande interesse sobre as terras brasileiras veio a pós a descoberta de que o plantio da cana-de-açúcar era extremamente lucrativo devido as condições climáticas e geográficas. A partir desse ponto se iniciou a formação de latifúndios no Brasil, que ficavam concentrados nas mãos dos portugueses influentes que possuíam alguma relação com a coroa. Nesse período, podemos observar claramente uma dependência colonial, na qual os europeus donos de capitais, trabalhando em conjunto com o Estado colonialista, governavam as relações econômicas existentes entre Portugal e Brasil.

Após um período de tempo, devido a diversos fatores, a cana-de-açúcar foi cedendo lugar ao café como o principal produto da economia brasileira, perdurando como tal durante um longo tempo. No decorrer desse período, o mesmo foi sendo cultivado em formas de latifúndio, e assim como a cana-de-açúcar, sempre foi voltado para a exportação. Portanto, podemos perceber que, durante esse período de tempo, os dois principais produtos da economia se tratavam de matérias primas e tinham como único objetivo a exportação, principalmente para os países europeus e para os norte-americanos, dessa forma a dependência brasileira foi sendo construída de forma que beneficiaria uma parcela ínfima da população (os latifundiários) e excluiria todo o resto, assim como beneficiaria os países dominantes. Nesse período, podemos observar claramente uma dependência financeiro-industrial, a qual se caracteriza pela dominação do grande capital nos países poderosos, e consequentemente a sua expansão ao estrangeiro através de investimentos na exploração dos recursos naturais e na produção agrícola, no intuito de abastecer esses centros hegemônicos.

É inegável que, a partir do ponto de vista econômico, o Brasil tenha crescido durante esse período, porém o que acabou ocorrendo foi uma falsa ideia de desenvolvimento, visto que com as sucessivas crises que afligiam os países dominantes, os mesmos que adquiriam os produtos agrícolas brasileiros, a exportação brasileira foi diminuindo cada vez mais, e o fato de que o país não possuía uma diversificação de produção acabou culminando em uma crise arrastada, reflexo dos países dominantes. Logo, podemos perceber que a relação existente entre o Brasil e os países desenvolvidos do Ocidente, acabou assumindo uma forma de dependência, visto que isso ocorre “quando alguns países (os dominantes) podem se expandir e ser autossustentáveis, enquanto outros (os dependentes) só podem fazê-lo como um reflexo daquela expansão, o que pode ter um efeito positivo ou negativo sobre o seu desenvolvimento”. (DOS SANTOS, 2011, p. 6) Dessa forma, podemos observar que, enquanto os países dominantes mantinham um progresso, isso acabou sendo benéfico pro Brasil, porém quando a crise atingiu esses países, o Brasil também acabou sendo afetado.

“Se no contexto de consolidação da indústria nacional (1955-1972) a agricultura representava um entrave dada a baixa produtividade e parca inserção tecnológica, nos tempos atuais, de vigência do chamado agronegócio, ela apresenta, ano após ano, aumento dos índices de produtividade acompanhado de uma massiva inserção de tecnologia em seus processos produtivos.” (XAVIER, 2017, p. 155)

Atualmente, após diversos anos da hegemonia da cana-de-açúcar e do café, o país continua extremamente dependente da produção e exportação agrícola. De acordo com a Confederação da Agricultura e Pecuária no Brasil (CNA) o agronegócio representou cerca de 21% do PIB brasileiro em 2019. Porém, atualmente o produto agrícola mais importante da economia brasileira é a soja, visto que o Brasil é o segundo maior produtor do mundo. Hoje em dia, pode-se observar a terceira forma de dependência, tecnológica-industrial, em vigência no estado brasileiro. Esta acabou se consolidando no período pós-guerra, e se baseia em corporações multinacionais que investem em uma produção voltada ao mercado interno dos países subdesenvolvidos, como a produção e venda de máquinas agrícolas por exemplo.

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