Conceito antropológico

CULTURA

Um conceito antropológico

Parte 1

Uma frase que aparece como tema central de várias polêmicas segundo Confúcio que “A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados”. E Heródoto descreve o sistema social dos lícios:

Eles têm um costume singular pelo qual diferem de todas as outras nações do mundo. Tomam o nome da mãe, não o do pai. Pergunte-se a um lício quem é, e ele responde dando seu próprio nome e o da mãe, e assim por diante, na linha feminina. (HERÓDOTO, 424 a.C)

Desde a antiguidade, as tentativas de explicar as diferenças de comportamento entre os homens se tornou comum, a partir de variações dos ambientes físicos. Jean Bodin, filósofo francês desenvolveu a teoria que as pessoas do norte tem como dominação da vida o fleuma, enquanto os do sul são dominados pela bílis negra. Seguindo esse pensamento, os nórdicos são fiéis, leais aos governantes, cruéis e pouco interessados sexualmente, enquanto os do sul são maliciosos, engenhosos, abertos, orientados pelas áreas da ciência, mas mal adaptados para as políticas.

Os antropólogos estão convencidos totalmente que as diferenças genéticas não são fatos determinantes nas diferenças culturais. Em exemplo, se transportarmos para o Brasil uma criança sueca logo após seu nascimento, e a colocarmos sob os cuidados de uma família sertaneja, ela crescerá como uma e não terá diferença nenhuma mentalmente de seu irmão de criação.

A espécie humana se diferencia anatômica e fisiologicamente através do dimorfismo sexual, mas as diferenças de comportamentos existentes entre pessoas de sexos diferentes não são determinadas biologicamente. A antropologia tem revelado que muitas atividades que são realizadas pelas mulheres em outra cultura podem ser realizadas pelos homens.

O comportamento das pessoas depende de um aprendizado, um processo chamado de endoculturação. Um menino e uma menina não agem diferente em função de seus hormônios mas sim por uma educação diferenciada.

O determinismo geográfico considera que as diferenças do ambiente físico condicionam a diversidade cultural. Não é possível admitir que a ideia do determinismo geográfico, ou seja, admitir que a “ação mecânica das forças naturais sobre uma humanidade puramente receptiva”. A antropologia moderna afirma que “a cultura age seletivamente”, e não casualmente, sobre seu meio ambiente, “explorando determinadas possibilidades e limites ao desenvolvimento, para quais as forças decisivas estão na própria cultura e na história da cultura”.

A grande qualidade da espécie humana foi a de quebrar as suas próprias limitações: um animal frágil, com pouca força física, dominou a natureza e se transformou no predador mais temido. Sem asas dominou os ares, mares, tudo isso por ser o único animal possuidor de cultura. Segundo Taylor:

No vocábulo inglês Culture, que “tomado em seu amplo sentido etnográfico é este todo complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, moral, leis, costumes ou qualquer outra capacidade ou hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade”. (TAYLOR, 1917)

O conceito de cultura, utilizado nos dias de hoje, foi definido, portanto pela primeira vez por Tylor. Com a referência de John Locke podemos citar o antropólogo americano Marvin Harris (1969) que explica bem a definição de Locke para a época: “nenhuma ordem social é baseada em verdades inatas, uma mudança no ambiente resulta numa mudança no comportamento”.

O homem é o único ser possuidor de cultura. Em suma, a nossa espécie tinha conseguido, no decorrer de sua evolução, estabelecer uma distinção de gênero e não apenas de grau em relação aos demais seres vivos, é o resultado do meio cultural em que foi socializado, é um herdeiro do longo processo acumulativo e as inúmeras experiências adquiridas pelas gerações que o antecedem. A reconstrução deste conceito é feito a partir de fragmentos teóricos, é uma tarefa da antropologia moderna.

Parte 2

Homens com culturas diferentes usam lentes diferentes e por isso têm visões diferentes das coisas. A nossa cultura desenvolvida através de várias gerações,