TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Crítica Keynesiana Ao Modelo Neoclássico

Pesquisas Acadêmicas: Crítica Keynesiana Ao Modelo Neoclássico. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  25/3/2015  •  5.005 Palavras (21 Páginas)  •  473 Visualizações

Página 1 de 21

O PARADIGMA DA INSTABILIDADE E DESEQUILÍBRIO: A CRÍTICA KEYNESIANA AO MODELO NEOCLÁSSICO

Henrique Pereira Campos

Resumo: As ciências econômicas vivem um momento atual de crise paradigmática, onde não se consegue estabelecer uma escola que tenha um pensamento de senso comum entre os economistas. Contudo, nem sempre foi assim. Após a crise de 29, o paradigma keynesiano refuta o paradigma neoclássico e vai se manter hegemônico até os fim dos anos 70. É justamente a transição entre o paradigma neoclássico e o paradigma keynesiano em que o estudo se concentrará.

Palavras Chave: Neoclássicos; Keynes; Instabilidade.

1. Introdução

Uma das grandes transições paradigmáticas da economia foi a transição do modelo Neoclássico para o paradigma Keynesiano. Segundo o paradigma ortodoxo, a economia estaria sempre em equilíbrio, pois suas ideias estavam baseadas na Lei de Say e na Teoria do Equilíbrio Geral. A primeira implica que uma oferta geraria uma demanda em igual proporção e a segunda mostra que a economia tenderia ao equilíbrio através dos ajustes do vetor preço. Contudo, com a crise de 29, esse paradigma não consegue mais explicar o porquê de haver desequilíbrios na economia.

É nesse ambiente econômico de instabilidade que Keynes publica a sua obra “Teoria Geral do Empego, do Juro e da Moeda”. Diferentemente da teoria neoclássica, Keynes aceita e explica as causas do desequilíbrio macroeconômico. Para o autor, esses desequilíbrios eram causados pelas insuficiências de demanda. Essas insuficiências seriam geradas pela reversão das expectativas dos empresários.

Para mostrar de que modo com que Keynes rompeu com a teoria Neoclássica e propôs a sua teoria, esse artigo é divido em duas partes. A primeira consiste em uma apresentação da visão ortodoxa. A segunda parte mostra as ideias de Keynes e a refutação do paradigma neoclássico. Por sim, nas considerações finais é sintetizado os principais pontos de divergência entre as duas escolas.

2. O paradigma neoclássico e a tendência ao equilíbrio: A Lei de Say e a Teoria do equilíbrio geral.

Publicada em 1803, a obra Tratado de Economia Política, de Jean Baptiste Say tem uma grande relevância sobre a ortodoxia, sobretudo com relação à escola neoclássica.

Segundo a Lei de Say, a oferta cria uma demanda em igual proporção. Esse fenômeno pode ser explicado basicamente porque, segundo Say, toda a renda gerada no processo de produção retornaria ao sistema por meio do gasto realizado com os próprios produtos (MOREIRA, 2005, p. 413). Ou de outra forma, tem-se a ideia de que o produtor compra para vender e vende para comprar. Assim, toda a renda gerada pela venda das mercadorias se converteria em uma demanda em igual proporção de outras mercadorias.

De acordo com o próprio Say:

Nos lugares que produzem muito, cria-se a única substância com a qual se compra: refiro-me ao valor. O dinheiro desempenha somente um orifício passageiro nessa troca dupla; e, terminadas as trocas, verifica-se sempre: produtos foram pagos com produtos. [...] um produto acabado oferece, a partir desse instante, um mercado para outros produtos equivalente a todo o montante de seu valor. Com efeito, quando o último produtor acabou um produto, seu maior desejo é vendê-lo para que o valor desse produto não fique ocioso em suas mãos. Por outro lado, porém, ele tem igual pressa em desfazer-se do dinheiro que sua venda lhe propicia, para que o valor do dinheiro tampouco fique ocioso. Ora, não é possível desfazer-se de seu dinheiro, senão procurando comprar um produto qualquer. Vê-se, portanto, que só o fato da criação de um produto abre, a partir desse mesmo instante, um mercado para outros produtos (SAY, 1983, p.139).

É relevante ressaltar que para Say não necessariamente em termos individuais a produção será igual a demanda. Mas em nível agregado, essa igualdade seria necessariamente cumprida. Essa formulação do autor implicaria em uma economia onde não haveria nenhuma possibilidade de superprodução, insuficiência de demanda e desemprego involuntário, pois sempre a oferta levaria a uma demanda em mesma magnitude (MOREIRA, 2005, p.413). Os desequilíbrios entre oferta e demanda que poderiam ocorrer seriam apenas exógenos e temporários, tendendo a se autocorrigir pelo mecanismo de preços (DAMICO, 1985, p.107). De acordo com Say:

[...] as épocas em que certos gêneros não se vendem bem são exatamente aquela em que outros gêneros sobem a preços excessivos; ora, como esses preços elevados seriam motivo para favorecer sua produção, é preciso que causas maiores ou meios violentos, como desastres naturais ou políticos, a avidez ou a incapacidade dos Governos, mantenham por força essa penúria, de um lado, que causa uma obstrução, do outro. Quando cessa essa causa de doença política, os meios de produção se voltam para as estradas em que a produção permaneceu atrasada; [...].

Uma das grandes premissas que contribuem para que se chegue ao raciocínio de que a oferta determina a sua demanda, está no papel da moeda. Para Say, a moeda tem única e exclusivamente o papel de meio de troca. O que a moeda faz é simplesmente intermediar a troca de um produto por outro. Nas palavras do autor “O dinheiro desempenha somente um ofício passageiro nessa troca dupla; e, terminadas as trocas, verifica-se sempre: os produtos foram pagos com produtos” (SAY, 1983, p.139).

O argumento neoclássico que promove a igualdade entre oferta e demanda pode ser dividido em duas partes: a primeira, como explanado anteriormente, refere-se a igualdade contábil, onde a produção promoveria uma demanda em mesma magnitude. O outro argumento para a manutenção dessa paridade seria a taxa de juros (CONCEIÇÃO, 2012, p. 226 e 227). A taxa de juros seria a responsável por igualar o montante de poupança ao montante de investimento (MOREIRA, 2005, p.414). Através desse mecanismo, um aumento na poupança, por exemplo, reduziria a demanda por bens de consumo, mas aumentaria a demanda por bens de investimentos. Esse processo ocorreria porque, com o excesso de poupança, os indivíduos acabariam emprestando seus recursos excedentes a uma taxa de juros mais barata, que levaria os investimentos a se tornarem cada vez mais atrativos, até o ponto onde essa paridade entre investir e poupar entre novamente em equilíbrio. Assim, a queda do consumo inicial seria compensada pelo aumento do investimento em mesma proporção (CONCEIÇÃO, 2012, p. 227 e 228). Deste modo, a poupança seria o gerador do investimento,

...

Baixar como (para membros premium)  txt (31.7 Kb)  
Continuar por mais 20 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com