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Desigualdade no Lixão de Gramacho

Por:   •  14/11/2018  •  Artigo  •  1.245 Palavras (5 Páginas)  •  125 Visualizações

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Quando o ainda lixão surgiu em Jardim Gramacho, os primeiros catadores que apareceram eram chamados de ―Lideranças, são eles oriundos da Estação de Triagem do Caju, do Ponto Zero da Washington Luís e da Rampa do Xangô, sendo os dois últimos localizados em Duque de Caxias. Essas "Lideranças" tomaram conta do recém instalado vazadouro e criaram normas para quem quisesse trabalhar lá. Entre elas, a permissão de entrada para os demais catadores somente após às duas da tarde. Segundo os catadores, o melhor material de catar nessa época caía na parte da manhã, depois desse horário ficava a xepa, ela conta que catava das duas até às cinco da tarde, fazia um lanche e voltava para trabalhar até as cinco da manhã, horário em que os membros das "Lideranças" chegavam.

 Sempre que vinha um novato para trabalhar no "Lixão de Caxias", as "Lideranças" pediam uma porcentagem do material coletado, além disso, havia um controle de que material poderia ser catado. Caso alguém da "Liderança" catasse papelão, só quem era autorizado por eles poderia catar esse mesmo material, reduzindo drasticamente a possibilidade de garimpo do catador recém-chegado. Havia também, segundo os catadores, abuso sexual com as mulheres, as catadoras bonitas e jovens recebiam permissão para trabalhar mediante a ter relações com os catadores das "Lideranças", e a COMLURB, na época, parecia fazer "vista grossa" com os ocorridos. Nossa primeira personagem não revela por quanto tempo as "Lideranças" ocuparam o aterro, provavelmente saíram logo depois da consolidação do trabalho da Queiroz Galvão.

Cabe ressaltar que serão denominadas como Lideranças nesse trabalho dois grupos diferentes, o primeiro aqui apresentado serão esses catadores que tomaram conta e se apropriaram do direito de catar no lixão de Jardim Gramacho, a designação para esse grupo foi dada pelos próprios catadores. O segundo grupo se trata de ex-catadores que passaram a presidir cooperativas e associações, pessoas que se envolveram na política do bairro em busca de melhores condições de trabalho para os catadores de materiais recicláveis do AMJG.

 Em outras falas de catadores antigos , também não fica claro como ocorreu esse momento de transição. Há inclusive controvérsias sobre quem seriam essas "Lideranças".

 As "Lideranças" eram pessoas que dominavam a rampa chamada Particular e que só lá exerciam autoridade e não em todo o espaço do lixão.

 Para compreendermos melhor essas contradições, é preciso mapear como o espaço era dividido. Aqui haverá então um entendimento pleno da expressão "rampa".

O até então "Lixão de Caxias" era dividido em três rampas, ou seja, lugares onde lixos determinados caíam, eram elas Serragem, Urubu e Particular.

 A Serragem era a rampa menos disputada, onde caía o lixo da Baixada Fluminense, que segundo os próprios catadores, era o lixo pobre.

Na Serragem geralmente catavam senhoras de idade ou novatos, trabalhadores que não catavam em ritmo tão veloz, por ser tratar de uma rampa pouco competitiva.

Urubu era a rampa mais desejada, ali caía o lixo vindo do Rio de Janeiro, reconhecido pelos catadores como o lixo rico. Era nessa rampa que se encontrava a maioria dos trabalhadores, onde a competição para colher o material era intensa, e o trânsito de veículos era em sua maioria de grandes caminhões que despejavam uma imensa quantidade de resíduos. Diferentemente da Serragem onde a maioria dos veículos que circulavam eram BA´s.

 Por fim a Particular, que nos leva à mais uma complexidade do campo. A controvérsia é que alguns catadores dizem que ela recebia esse nome justamente por pertencer as tais "Lideranças", e outros afirmam que se chamava dessa forma porque ali só era despejado o lixo extraordinário . Segundo os catadores, tratava-se de uma boa rampa para conseguir comida, pois ela vinha embalada e poucas vezes fora da validade. Para problematizar ainda mais esse espaço, me utilizo de um trecho do relatório do IETS na parte dedicada à história do aterro: " A recuperação do aterro significou, além de medidas ambientais e remediações técnicas, uma reestruturação do seu funcionamento interno. Ao longo do período em que era um lixão, foi feito um loteamento por funcionários da Apelido dado às pequenas carretas de limpeza urbana que por carregarem menos lixo, tinham os despejamentos considerados como não tão perigosos.

Lixo extraordinário é todo lixo produzido em grandes quantidades, como supermercados, grandes condomínios, grandes empresas, fábricas, etc.

A Empresa COMLURB de espaços dentro do aterro que recebiam o lixo dos caminhões. Estas áreas, genericamente denominadas ―rampas‖, passaram a ter donos que, por sua vez, eram responsáveis pelo pagamento dos caminhões, tratores e catadores que transitavam e trabalhavam em seus lotes. A reforma do aterro, no entanto, gradualmente desfez este arranjo, dando fim às rampas e retomando estes espaços e as funções de seus ―donos‖ para a empresa concessionária." (IETS, 2011,p.12) É difícil concluir com clareza quem eram essas "Lideranças", aonde de fato atuavam, se eram legitimadas pela COMLURB ou apenas um grupo de catadores que se apoderou de algum espaço controlando a entrada e a coleta de material.

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