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Ensaio considerações

Por:   •  10/7/2019  •  Ensaio  •  2.161 Palavras (9 Páginas)  •  107 Visualizações

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CONSIDERAÇÕES INICIAIS

        Anteriormente ao meu ingresso na Academia, eu elaborava determinados questionamentos acerca da “ecologia dos saberes” (SANTOS, 2018) ou da “complexidade” dos conhecimentos acadêmicocientíficos, excogitando sobre as “inters” e as “transdisciplinaridades” (MORIN, 2011) que convolvem um enxame de disciplinas. Em 2014, concluí o Bacharelado e a Licenciatura em Ciências Sociais na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), no mesmo ano em que adentrei à Licenciatura em Filosofia na mesma instituição. O primeiro curso é basicamente composto por três eixos ou disciplinas, a saber: Antropologia, Sociologia e Ciências Políticas, produzindo “intertextualidades” (BAKHTIN, 1992a) que dialogam precipuamente com os “campos acadêmicos” (BOURDIEU, 1983) da Economia, História, Geografia, Estudos Literários, Filosofia, Serviço Social, Direito & Psicanálise, apesar de sua circunscrição predial às espacialidades do Centro de Ciências Humanas e Naturais (CCHN). Já o segundo não caracteriza uma ciência, senão um discurso que anseia conhecer o mundo, bem como as artes, as ciências e as religiões, “dialogando polifonicamente” (BAKHTIN, 1992a) com esses conhecimentos.

Nascido e medrado numa família de classe trabalhadora, sou filho de um operário metalúrgico e uma auxiliar administrativo. Ambos imbuídos, respectivamente, de ensino médio incompleto e completo. Em minha trajetória, formei-me técnico em informática pelo Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (SENAI) da região industrial do CIVIT/Serra, em seguida como técnico em automação industrial pela UNED/Serra do antigo Centro Federal Tecnológico (CEFETES, atual campus do IFES na Serra), para somente, bem depois, cursar Ciências Sociais na UFES, configurado pela dinâmica do mundo do trabalho, após ser concursado e nomeado como assistente administrativo da Prefeitura Municipal de Vitória (PMV), em razão de certas demandas e “imponderáveis da vida real” (MALINOWSKI, 1998).

Desde jovem, acredito estar imbuído de uma certa sensibilidade social, inclusive graças às influências da formação protestante e calvinista, durante a minha adolescência na Igreja Presbiteriana do Brasil (IPB), no bairro de Fátima, quando compulsava e meditava, enfaticamente sobre os Evangelhos, inscritos no Novo Testamento da Bíblia Sagrada Cristã. Não obstante, o meu processo de politização apenas adveio quando participei ativamente do movimento sindical, chegando a ser eleito como delegado de base da minha categoria laboral, no Sindicato dos Servidores do Município de Vitória (SINDISMUVI), num momento sócio-histórico de minha existência, em que exercia atividades administrativas na Secretaria Municipal de Saúde (SEMUS). Essas experiências, categoricamente, contribuíram para a minha decisão de cursar Ciências Sociais e, posteriormente, vir a participar de coletivos, culminando atualmente na minha filiação ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), até mesmo, em função do extremo interesse que passei a nutrir acerca de questões, tais como: a “superexploração” (MARINI, 1973) econômica da classe trabalhadora ou do “precariado” (BRAGA, 2012) brasileiro; as desigualdades sociais; as mais variadas formas de desemprego, precarização laboral, pobreza e miséria sociais; o desenvolvimento social e econômico nacionais; a organização do Estado nacional; os direitos humanos, destacando-se os direitos sociais e econômicos da nossa população; o “agenciamento coletivo de enunciados” (DELEUZE; GUATTARI, 2008) realizados pelas potências “ultraimperialistas” (MONIZ BANDEIRA, 2007) contra os interesses nacionais e populares, etc.

Tornando à minha graduação em Ciências Sociais, estudei e ainda estudo, “por minha própria conta”, as referidas questões que “me inundam e me transbordam”. Entretanto, não pude produzir sobre as mesmas, ou mesmo não obtive a oportunidade de fazê-lo, em virtude da existência de uma espécie de censura e cesura hegemônica político-liberal, até mesmo liberal-multiculturalista e pós-moderna, seja na orientação e na configuração das temáticas, na formação dos professores do Departamento ou no caráter das produções aceites na maioria dos eventos, simpósios e revistas. No decurso de minha formação, devido à “vontade de saber” (FOUCAULT, 2003), às relações estabelecidas entre saber e poder, às (super)estruturas institucionais, às relações de força, poder, dominação política e econômica dentro do campo acadêmico, inclusive à autoidentificação com o referido campo das Ciências Sociais, apesar dos pesares, procurei me apropriar do capital cognitivo-intelectual, teórico, epistemológico e cultural perpassado pelo curso, verificando que na codificação do mesmo, havia uma acentuada proclividade para as investigações e as pesquisas de caráter antropológico, muitas delas focalizando, principalmente, bens e patrimônios culturais (de natureza imaterial) capixabas e regionais.

Dessa forma, constatei que eu poderia apreender muito neste meio, em decorrência das possibilidades de variadas incursões ao campo e a abertura para as intervenções pedagógicas participativas, para além dos livros e artigos acadêmicos, possibilitando desenvolvimento intelectual e profissional, além de me permitir outras vivências, interações e relações com populações e comunidades tradicionais que, na melhor das hipóteses, poderiam vir a ser de alta voltagem política. Assim, durante o período em que percorri a graduação, tive a oportunidade de agenciar métodos, técnicas e procedimentos da e na esfera da Antropologia (não somente) para entretecer investigações sobre o ofício das Paneleiras de Goiabeiras, um patrimônio cultural de natureza imaterial capixaba e brasileiro insculpido no Livro de Registro dos Saberes (e ofícios) do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e sobre a dinâmica das relações étnicorraciais no âmbito das escolas públicas da Grande Vitória/ES. Trajetória essa que continuei, sobretudo em uma de minhas especializações sobre políticas de promoção da igualdade racial na escola (UNIAFRO), ensejado pelo Núcleo de Estudos Afrobrasileiros (NEAB) da UFES.

Aproveitando o azo das investigações sociais no galpão da Associação das Paneleiras de Goiabeiras (APG), publicamos em coautoria: As Paneleiras de Goiabeiras e a Arte de fazer Panela de Barro (2012), na Revista Simbiótica (trabalho que, posteriormente, obteve citação na Scopus); As Paneleiras de Goiabeiras: Uma reflexão sobre a cultura do barro (2012), no 9º Encontro de História da ANPUH-ES; As Paneleiras de Goiabeiras e a dinâmica da cultura do barro (2013), na Revista (internacional) da Faculdade de Letras da Universidade do Porto. Já no orbe das pesquisas envolvendo as relações étnicorraciais e a educação, publicitamos, como exemplos: Considerações sobre o racismo no Brasil, a partir das representações acerca do negro, no imaginário das Escolas Públicas, na Grande Vitória/ES (2015), na Revista Simbiótica; e a monografia de especialização, Representações sobre o negro no imaginário social das escolas públicas da grande Vitória/ES: um estudo de caso no Colégio Clotilde Rato (2016). Em 2018, ao ingressar no Programa de Pós-Graduação em Ensino de Humanidades (PPGEH), quisemos avaliar a dinâmica das relações étnicorraciais num Pré-Vestibular popular, operando na infraestrutura do Colégio Salesiano no Forte São João. Todavia, em diálogos com o orientador, em consequência de sua linha de pesquisa e devido ao fato de eu dispor de experiência anterior no trabalho com patrimônio cultural, ele me propôs investigar os sambaquis, qual seja um patrimônio arqueológico, mais especificamente, os sambaquis Campinas 1 e Rio Preto, em Presidente Kennedy (PK) e orientar o meu projeto e a minha dissertação para uma proposta de educação patrimonial, desafio que eu considerei demasiado interessante.

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