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Homens mulheres metade perigosa

Por:   •  14/6/2017  •  Resenha  •  2.309 Palavras (10 Páginas)  •  386 Visualizações

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Homens e mulheres ou a metade perigosa - Balandier

Há transformações em todas as sociedades devido seus antagonismos, mas isso não se deve apenas à chamada luta de classes, pelo menos como costumamos concebê-la. Balandier procura mostrar que há dinamismos mais “elementares” ou “fundamentais” ou “subjacente” presente na origem das sociedades. Ele se refere às relações os sexos como essa oposição que está na origem das sociedades, e que mesmo com diferentes variações históricas, a dominação macha continua arraigada nas estruturas.

O ponto de partida, bem próximo também de Heritier, é que o dualismo sexual, a diferença entre os sexos, é a forma mais elementar de criar uma ordem social e uma desordem. Ou seja, antagonismos.  

Então no texto ele traz vários exemplos etnográficos de sociedades africanas a fim de mostrar diferentes modos que esse dualismo fundante, do elemento macho e do elemento fêmeo, aparece nas mitologias e nas representações dessas comunidades. Ele próprio chega a mencionar, num momento do texto, que faz uma “viagem”, um itinerário por diversas regiões da áfrica ao citar vários trabalhos.

No geral, procura mostrar que há uma relação de tensividade na união entre o homem e a mulher, se caracterizando por uma relação dualista e ambivalente. E essa tensividade aparece nas narrativas mitológicas e representações, com a mulher representando a natureza, a destruição, a feitiçaria, o mau… e o homem representando a cultura, a ordem, da preservação. É como dizer que nessa união, a mulher representa uma antítese, que desestabiliza a ordem e possibilita a mudança social. A mulher nunca está do lado da conservação e tradição da comunidade, mas se estabelece como um elemento motivador de mudanças. Em alguns casos, como veremos nos exemplos, ela vai até ocupar uma posição de “estrangeira” à sua própria comunidade, por sempre ser colocada na troca entre clãs, e acaba sendo estrangeira tanto ao local de nascimento quanto ao do casamento.

I - A narrativa das mitologias e as ideologias

Nas narrativas mitológicas africanas o dualismo homem/mulher tem um lugar privilegiado, que em algumas dessas sociedades a oposição homem e mulher é o modelo dualista que domina os sistemas de representações. Está presente nas narrativas de criação do mundo, nas explicações da ordem do mundo e também evidenciam essa relação dualista como fundante da ordem e da desordem.

Os bambara do Mali.

  • Sua narrativa mitológica revela a união difícil dos sexos. O casal inicial Pemba (elemento macho, detentor das sementes e do conhecimento) e Muso Koroni (Fêmea deporitário dessas sementes). Mas na narrativa a mulher se recusa a colaborar com a criação, então surge o Faro, uma figura andrógena que concilia as partes e garante a criação do mundo e da civilização. O faro representa então um elemento conciliador de opostos, que possibilita o casamento dos sexos separados.
  • Isso demonstra como essa união é sempre vulnerável, como se trata de uma união tensiva, ameaçada.
  • E essa narração traz à tona a definição negativa do princípio fêmeo, que embora seja um elemento necessário para a criação da ordem, É também, ao mesmo tempo, uma ameaça. Muso Koroni é a geradora do Caos, evoca a força das trevas, é a imagem da rebelião e da desordem.

Os Fon do Daomei

“Ordem inversa a intervenção dos personagens primordiais”

  • Na origem, uma figura andrógena, Nana Baluku, simboliza o começo absoluto e cria o par de gêmeos Maw e Lisa, que são os elementos a partir dos quais o mundo se constrói e se ordena. Eles estão no topo de uma árvore genealoógica dos deuses. E semelhante ao outro exemplo, eles exprimem essa união tensiva, são associados atributos e símbolos contrários e ao mesmo tempo unidos (lua/sol, frio/calor, direita/esquerda…).
  • E aparece outro elemento, o “Dã” que seria uma ordem vivente, uma criação contínua da ordem e que garante essa continuidade, preservando a ordem existente. Seria uma divindade andrógena, um “dois em um”. Trata-se de transformar a diferença, alteridade geradora de oposição e desordem, em cooperação constitutiva de ordem e fecundidade.
  • Ele ainda menciona o “GU”, que seria um elemento masculino filho do casal original, o deus do Ferro e da civilização, para mostrar como a cultura, principalmente em aspectos materiais, é colocada sob o signo da masculinidade.

Então… essas duas versões mostram que esse dualismo constitui um modo de explicação da realidade, um modelo privilegiado que rege toda forma de convívio, uma relação sempre marcada pela ambivalência.

  • No primeiro caso, dos Bambara, o dualismo implica em ordem e desordem, fundamenta a sociedade e a cultura, mas traz consigo uma ameaça de ruína
  • No caso dos mitos Fon, retrata o difícil acordo da dualidade e da unidade.

Os relatos míticos expressam simbolicamente “a argumentação” pela qual se compreendem (e se justificam) a ordem das coisas e dos homens (discurso ideológico).

É no exemplo dos Lugbara que trata dessa oposição não só formulada nas narrações míticas, na ideologia, mas também formulada através das práticas codificadas. [As pesquisas de Middleton permitem examinar as relações por esses dois níveis].

Os Lugbara da Uganda e Zaire.

  • Uma sociedade organizada sobre a linha de parentela e das categorias de idade, dos grupos de filiação e redes de aliança
  • Nesse sistema, a mulher se encontra em posição marginalizada, é definida por uma qualidade instrumental: ela procria, produz, tece relações “circulando” pelo jogo dos intercâmbios matrimoniais). É tida como uma sociedade viril, que coloca as mulheres a seu serviço.
  • É um dos exemplos etnográficos em que a mulher aparece como estrangeira a sua própria sociedade.
  • Pra essa situação de exclusão e inferioridade tem toda uma justificação ideológica através de um sistema de representações de caráter dualista: a mulher está do lado das coisas, do lado da natureza selvagem, não de uma paisagem humanizada
  • (ver pag 29) Nesse sistema de representações, todos os elementos são concebidos em termos de inversão ao masculino, sendo o feminino o lado mau.
  • Ele conclui que essa relação dualistica aparece nos lugbara na oposição entre o social e o a-social (ou anti-social). A mulher não é associada aos antepassados, ao universo social, mas a figura mítica Adro, que representa a feitiçaria. E essa oposição implica, mais uma vez, na oposição entre ordem e mudança.

Há alguns exemplos no decorrer do texto que não vou falar muito mas posso falar rapidamente das características principais e dos aspectos que é Balandier destaca. Os Ndémbu, da Zambia, sociedade em que a inferioridade feminina transparece na divisão das atividades produtivas. Os homens à caça, supervalorizada, atividade humana por excelência, e mulheres a agricultura, algo referente a natureza, fertilidade. E também é outro exemplo que ela está presente marginalmente. Ela está fora da sua linhagem quando se torna esposa. Cita o caso dos Fang gamboneses, que existe uma ideia de complementaridade entre os dois elementos opostos, mas essa complementaridade, que é ideológica, não chega a mascarar completamente a situação inferior da mulher. E nesse exemplo tem um caso das mulheres conseguirem algumas artimanhas para elevar seu status, mas que com isso vários conflitos são gerados, o que para ele não é uma surpresa, visto que essa unidade é sempre tensiva. E o caso dos Ruanda e Barundi antigos, em que a relação entre o homem e da mulher funciona numa relação de poder paralelo a outras relações de poder que operam de forma semelhante, como a relação soberano/súdito, primogênito/caçula, pai/filho. E isso permite que essa inferioridade da mulher seja relativizada em outras situações, o que explica porque nesse caso o antagonismo homem/mulher é mascarado.

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