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Linguagem de sinais: identidades e processos sociais

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Por:   •  29/10/2014  •  Artigo  •  5.094 Palavras (21 Páginas)  •  389 Visualizações

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ARTIGO

Línguas de Sinais: Identidades e Processos Sociais

Grupo de Estudos e Subjetividade

© ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.1-13, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 1

PRIMEIRA LÍNGUA E CONSTITUIÇÃO DO SUJEITO:

UMA TRANSFORMAÇÃO SOCIAL

Ana Claudia Balieiro Lodi

Maria Cecília de Moura

RESUMO:

Este artigo discute a importância da língua de sinais como primeira língua (L1) para surdos e para o ensino-aprendizagem da língua majoritária como segunda (L2), focalizando, em particular, sujeitos que tiveram acesso tardio a língua de sinais. Tendo como base uma pesquisa realizada por uma das autoras, verificou-se o desconhecimento de sujeitos surdos quanto à diferença existente entre a língua brasileira de sinais (LIBRAS) e a língua portuguesa, embora todos fossem usuários da primeira. Concluiu-se que há a necessidade de que movimentos sejam realizados para que uma real transformação dos sujeitos possa ser empreendida, principalmente no que se refere ao reconhecimento da LIBRAS em seu valor social, pois se este processo não for realizado, aos surdos cabe, apenas, a submissão ao português, na medida em que esta língua continua a ocupar um papel sócio-ideológico central na constituição dos processos lingüísticos e da subjetividade desses sujeitos. Esta mudança só poderá ocorrer se uma transformação nas relações estabelecidas por estes sujeitos nas diversas esferas sociais for objetivada. Desse modo, a LIBRAS poderá assumir o lugar de L1 dos sujeitos, independente do período de vida em que ela for desenvolvida, determinando uma transformação quanto aos lugares assumidos pelos surdos na sociedade.

PALAVRAS-CHAVE:

Surdez; Língua Brasileira de Sinais; Primeira língua.

first language and constitution of the subject:

a social transformation

ABSTRACT:

This article discusses the importance of sign language as the first language (L1) for deaf people and the teaching-learning of the dominant language as the second (L2), focusing in particular on subjects that had delayed access to Sign Language. Having as its foundation a research made by one of the authors, deaf subjects’ lack of knowledge was pointed as regards the difference between the Brazilian Sign Language (LIBRAS) and the Portuguese language, although all were users of the first one. One concluded that there is a need to take measures so that a real transformation of these subjects can be undertaken, mainly regarding the recognition of LIBRAS’ social value, for without this process deaf people are left with only the submission to the Portuguese language, because this language continues to have a central social-ideological role in the constitution of the linguistic processes and the subjectivity of these subjects. This change will only occur if a transformation in the relations established by these subjects in the different social spheres be done. In this way LIBRAS will be able to assume the place of L1 for these subjects independently of the period of life where it be developed, determining thus a transformation concerning the places assumed in society by deaf people.

KEYWORDS:

Deafness; Brazilian Sign Language; First language.

ARTIGO

Línguas de Sinais: Identidades e Processos Sociais

Grupo de Estudos e Subjetividade

© ETD – Educação Temática Digital, Campinas, v.7, n.2, p.1-13, jun. 2006 – ISSN: 1676-2592. 2

INTRODUÇÃO

Desde a década de 1980 ocorre um movimento mundial que aponta em direção à necessidade de se implantar uma política educacional bilíngüe quando se pensa em educação de e para surdos. Em termos gerais, esta educação considera que, inicialmente, os surdos devam desenvolver a língua de sinais como primeira língua (L1), no contato com surdos adultos usuários da língua e participantes ativos do processo educacional de seus pares. A partir da L1, os surdos são expostos ao ensino da escrita da língua majoritária e, para tal, toma-se como base os estudos sobre ensino-aprendizagem de segunda língua (L2) e os trabalhos sobre ensino de línguas para estrangeiros. Consideram-se, ainda, nas práticas bilíngües para surdos, as particularidades e a materialidade da língua de sinais, além dos aspectos culturais a ela associados (NEUROTH-GIMBRONE, LOGIODICE, 1992; LEWIS, 1995; MAHSHIE, 1995; SVARTHOLM, 1999).

No Brasil, a língua brasileira de sinais (LIBRAS) foi reconhecida como meio legal de comunicação e expressão das comunidades surdas pela Lei nº10.436 de 2002 (BRASIL, 2002), regulamentada pelo Decreto nº5.626, em 2005 (BRASIL, 2005). A partir deste Decreto, o ensino de LIBRAS torna-se obrigatório em cursos de graduação relacionados à área da saúde e educação (Fonoaudiologia, Pedagogia e Letras), bem como o Ministério da Educação compromete-se a desenvolver programas específicos para a criação de cursos de graduação que visem a formação de professores surdos e ouvintes para a educação infantil e anos iniciais do ensino fundamental, e de Licenciatura em Letras: LIBRAS/Língua Portuguesa como segunda língua, voltado para a formação de professores para o ensino superior, médio e para as séries finais do ensino fundamental, de forma a viabilizar às pessoas surdas uma educação bilíngüe.

Apesar deste amparo legal para garantir a educação bilíngüe para surdos ser extremamente recente, algumas poucas experiências começaram a ser desenvolvidas nos últimos anos em nosso país. Entretanto, infelizmente, o desenvolvimento da LIBRAS como L1 é ainda restrita aos filhos de surdos usuários desta língua e às raras experiências educacionais que possuem, em seu quadro de profissionais, professores surdos. Pode-se dizer, que a maioria dos surdos brasileiros ainda desconhece ou pouco conhece a LIBRAS, buscando aprender o português como língua única, pois freqüenta escolas para ouvintes com professores que não receberam formação específica para o ensino-aprendizagem desta minoria e que não conhecem a LIBRAS.

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Grupo de Estudos e Subjetividade

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