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Lulismo: Três tipos de dominação weberiana

Por:   •  1/2/2018  •  Artigo  •  1.410 Palavras (6 Páginas)  •  306 Visualizações

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Universidade Federal de Ouro Preto

DEHIS – Departamento de História

Disciplina: Introdução aos Estudos Sociais

Docente: Giulle Vieira

Débora Mordente Gonçalves e Castro

dehmordentegc@gmail.com

Resumo:

Neste trabalho será refletido sobre o fenômeno Lulismo em relação aos três tipos de dominação legítima segundo Weber. Diante da exploração do tema, observamos que no Lulismo ocorrem simultaneamente os três tipos de dominação.

Palavras chaves: Lulismo, Weber, Dominação.                            

 O Lulismo é um fenômeno político recente que envolveu completamente a sociedade brasileira, virando assim alvo de diversos estudos e discussões. Nesse artigo o Lulismo será tratado a partir dos três tipos de dominação legítima segundo Weber, sendo elas racional-legal, tradicional e carismática.

 A dominação racional-legal se compõe em um tipo de dominação burocrática, uma imposição não necessariamente opressora, tendo em vista que o cidadão está sendo dominado através de leis, Estatutos, códigos e regras que foram ratificadas pela sociedade e superentendido pela autoridade vigente. O fundamento dessa dominação é o estatuto, ou qualquer direito que possa ser criado ou retirado se votado pelos seus eleitos. Sendo assim, só é possível praticar a dominação dentro dos limites que são definidos pelas regras, fixadas em lei, o que leva a uma dominação impessoal tendo em vista que obedece ao que foi instituído pela autoridade que ocupa o cargo e não ao indivíduo que está sancionando essas leis. Segundo Weber: “Obedece-se às regras e não à pessoa” (WEBER, Economia e Sociedade, vol. 2 págs. 198). Relacionamos esse tipo de dominação ao Lulismo pelo fato de que durante o governo Lula houve o domínio através dos estatutos e leis mais que à sua pessoa. Ou seja, até mesmo quem não se identificava com Lula e/ou não gostava dos seus ideais foram dominados pela ordem burocrática.

 O primeiro aspecto de dominação racional-legal que podemos apontar no lulismo foi a legitimidade das suas eleições. Com isso, garantiu o direito de ser eleito democraticamente como representante da nação. Quando Lula venceu a eleição ele automaticamente virou um dominador perante leis e qualquer estatuto sancionado. A vigência da legitimidade de caráter racional, segundo Weber: “baseada na crença na legitimidade das ordens estatuídas e do direito de mando daqueles que, em virtude dessas ordens, estão nomeados para exercer a dominação legal” (WEBER, 1996, pág. 141).

 Na dominação tradicional ocorre obediência não ao dever ou a disciplina que está ligado ao cargo, mas sim à fidelidade do servidor. O seu tipo mais puro é o patriarcalismo, onde o dominador é santificado pela tradição. Os dominados são fiéis à pessoa em virtude por fidelidade e propagação dessa tradição.

 É nítido a imagem santificada que Lula assumiu perante os operários, um líder que lutou ao lado dos companheiros, sofreu repressões e lutou para melhorias trabalhistas. Lula ganhou respeito e fidelidade em virtude da sua dignidade "sagrada". “Denominamos uma dominação tradicional quando sua legitimidade repousa na crença na santidade de ordens e poderes senhoriais tradicionais” (WEBER, 1996, p.148).

 Após conquistar o cargo de presidente, Lula instituiu os integrantes do núcleo duro por se tratarem de homens de confiança da sua pessoa, o que caracteriza explicitamente um fator de dominação tradicional, que pode ser observado quando se exerce corrupção, nepotismo ou o uso de bens públicos em prol de benefícios individuais. "O quadro administrativo típico pode ser recrutado a partir de relações pessoais de confiança" (WEBER, 1996, pág. 149). Mesmo sendo pessoas vinculadas à Lula, seguiam uma série de normas e trâmites legais para exercer o cargo (dominação racional-legal). Ou seja, José Dirceu, Antônio Palocci, entre outros, foram indicados pela confiança e consideração de Lula (dominação tradicional) e como consequência foi considerado pelo povo e, sendo assim, eleitos democraticamente (dominação racional-legal). Outro exemplo da combinação dos tipos de dominação presentes no Lulismo que podemos observar é a aliança feita com empresários brasileiros, representado por José de Alencar, em que Lula aliou-se a fortes representantes da elite brasileira em prol de benefício para o Estado. Antes mesmo de assumir a presidência, o candidato teve de se adequar às formas já existentes para poder ter ao menos chances de ser um candidato competitivo, mostrando que poderia ser um presidente "de todas as classes”. Apesar da ligação entre os tipos de dominação, Lula se mostra prioritariamente detentor da dominação carismática. Para Max Weber, essa prevalência o torna um líder essencialmente carismático.

"No caso da dominação carismática, obedece-se ao líder carismaticamente qualificado como tal, em virtude de confiança pessoal em revelação, heroísmo ou exemplaridade dentro do âmbito da crença nesse seu carisma." (WEBER, 1996, pág. 141)

 Lula é um líder carismático. Essa característica, aliada a outros motivos, proporcionou que ele permanecesse no poder mesmo durante às sucessivas crises. A dominação carismática consiste em um tipo em que a autoridade é suportada graças a uma devoção afetiva por parte dos dominados. Essa dominação é de caráter especificamente extra cotidiano. A relação dominador-dominado se sustenta pela crença dos subordinados nas qualidades superiores do líder. Essas qualidades podem ser tanto talentos incríveis quanto a coragem e a inteligência incomparável. É baseada na “crença” no profeta. “A fé e o reconhecimento são considerados um dever, cujo cumprimento aquele que se apoia na legitimidade carismática exige para si, e cuja negligência castiga” (WEBER, 1996, pag. 136)

 O pressuposto indispensável para isso é “fazer-se acreditar”: o líder carismático tem de se fazer acreditar como líder pela “graça de Deus”, por meio de milagres, êxitos e prosperidade do cortejo e dos súditos.

 Weber descreve um tipo ideal de líder carismático perfeito, impossível de ser incorporado por alguém na realidade. Nenhum líder possui apenas um tipo de dominação. Um líder carismático é a combinação entre os tipos de dominação. É o reconhecimento do eleitorado perante seu líder que o transforma em um político carismático. Seguindo os ensinamentos de Weber, não basta para um líder carismático apenas o carisma para se manter no poder. É necessário um reconhecimento dessa característica a partir dos seus adeptos, de seus seguidores, que transformam isso tudo num produto fundamental, construído graças à relação de confiança do líder com os seus dominados. Também é válido acrescentar que, em um país que a elite sempre foi majoritariamente defensora do poder, ter um representante de origem popular já é considerado, mesmo que inconscientemente, uma vitória representativa.
Além disso, mesmo tendo esse poder, Lula não descarta sua origem humilde, sua vitória como exceção é vista como um pobre que chegou longe. Não descarta que é difícil, mas torna mais possível. Esse entre outros “milagres” foram fundamentais para propagar sua dominação tradicional.

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