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Monteiro Lobato: O mesmo país, três diferentes interpretações

Por:   •  8/7/2018  •  Dissertação  •  2.346 Palavras (10 Páginas)  •  159 Visualizações

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Monteiro Lobato: O mesmo país, três diferentes interpretações

        Filho de José Bento Marcondes Lobato e Olímpia Monteiro Lobato nasce em Taubaté, São Paulo, cidade do Vale do Paraíba, no dia 18 de abril, José Renato Monteiro Lobato (1882-1948; que posteriormente mudaria seu nome para José Bento, mesmo nome de seu pai). Consagrado e tido como um dos mais proeminentes escritores brasileiros do século XX, notabilizado principalmente por suas obras destinadas ao público infantil, Monteiro Lobato, que em outrora chegou a exercer diversas profissões ao longo de sua vida (como promotor de justiça, editor, fazendeiro e etc.), também se fez notório por suas interpretações a respeito dos motivos pelos quais o Brasil se encontrava em meio ao atraso que tanto se tentava combater.                                                                                                                                                Foi em 1914, ano de lançamento dos artigos “Velha praga” (12 de novembro) e “Urupês” (23 de dezembro; que futuramente daria nome à coletânea lançada em 1918), ambos publicados pelo jornal Folha de São Paulo, que Monteiro Lobato se lança ao grande público. O primeiro dos artigos foi escrito logo após alguns incêndios ocorridos em terras de sua propriedade, a fazenda Buquira, deixada a Monteiro como herança de seu avô materno, o Visconde de Tremembé, e tinha por objetivo denunciar a agricultura predatória praticada no Brasil, caracterizada por queimadas extremamente prejudiciais aos solos e a fauna nacional; já em “Urupês”, o autor utiliza da imagem do parasita para caracterizar a população associada à vida agrícola, a quem atribui à indolência, preguiça e falta de iniciativa como atributos inerentes; nasce então, a partir da construção deste estereótipo, o Jeca Tatu.                        O Jeca Tatu, nome dado à personagem que estereotipava de forma tão pejorativa a figura do sertanejo, também chamado de caboclo por Monteiro Lobato, causou muitas controvérsias. Se por alguns era exaltada e classificada como ilustração perfeita de um Brasil marcado por atrasos, como quando usado por Ruy Barbosa, então candidato a presidência da época, para denunciar os males do país, por outros, era rechaçada; o então deputado federal, Idelfonso Albano, do Ceará, ao se deparar com figura tão caricata (relançada em Urupês, em 1918), criou o Mané Chique-Chique, personagem que se opunha as características de Jeca Tatu. No sul do país, foi Rocha Pombo o responsável por criar uma personagem que se contrapusesse a figura indolente e preguiçosa representada pela personagem de Lobato; para tal feito, deu vida à personagem chamada de Jeca Leão, cheio de virtudes e que em nada fazia lembrar seu pretenso rival, Jeca Tatu.                                                A figura de Jeca Tatu muito tem a dizer a respeito das opiniões de Monteiro Lobato acerca das razões que impediam o progresso e o desenvolvimento nacional. Sendo a primeira das três interpretações que viriam a ser trabalhadas por Lobato para explicar os motivos de tantos atrasos, torna-se central parar compreensão do pensamento do autor; Rompendo com uma tradição que tinha por costume a exaltação da vida rural, forte desde o Romantismo e muito enraizada na cultura brasileira, Monteiro adere a uma linha de pensamento já antiga, de caráter racista, que ainda reverberava muito em seu tempo. Ao associar a imagem do caboclo, fruto da miscigenação de raças que habitam o Brasil, expressa na figura de Jeca Tatu, a decadência dos pais, fica nítido o racismo ideológico sobre o qual se estruturou o pensamento de Lobato.                                                                                                                              Passado algum tempo do lançamento da coletânea “Urupês”, Monteiro Lobato reformula sua tese a respeito das questões que explicariam os motivos para a falta de progresso vigente dentro do território nacional. Em 1918, mesmo ano do relançamento de um relatório (publicado originalmente em 1916) encomendado em 1912, por Oswaldo Cruz, Lobato lança o livro “O problema Vital”; nesta obra, inspirado pela corrente de pensamento sanitarista que começava a se destacar, o autor substitui sua antiga tese sustentada por argumentos relacionados à raça, em detrimento de uma nova, que apontasse como maiores problemas brasileiros a falta de saneamento e a grande proliferação de doenças endêmicas. “O Jeca não é doente, o Jeca está doente”; nesta frase, retirada do livro lançado por Lobato em 1918, fica clara a reorientação do pensamento do autor que, a partir de então, se engajaria na luta pelo saneamento do país, redimindo de toda a culpa a população sertaneja que, não mais sendo responsável pelos prejuízos nacionais, assumem o papel de vitima do descaso existente, oriundo de um modo de agir ignorante dos coronéis e do desinteresse do governo, formado por uma classe de privilegiados que não pretendia reverter à situação do país.                                        Mesmo depois de revisar sua interpretação referente aos motivos que assolavam o prestigio da nação brasileira, Monteiro Lobato continuou a produzir obras que tinham como figura central a personagem Jeca Tatu. Já inspirado pelas ideias de caráter sanitário com as quais havia tido contato, lança, em 1924, o livro chamado “Jeca Tatuzinho”. Nesta obra, que posteriormente seria adquirida pelo laboratório Fontoura (produtor do biotômico Fontoura) e utilizada como propaganda para remédios usados no combate às enfermidades, a narrativa a respeito da personagem Jeca Tatu muda radicalmente; após recomendações médicas de um doutor que passa por sua fazenda e identifica as doenças que lhe acometiam, a vida de Jeca da uma guinada rumo ao progresso. Não mais indolente e preguiçoso, curado das doenças e adepto de novos hábitos de vida, como por exemplo, o de usar calçados, Jeca Tatu se transforma num grande empreendedor rural, exemplo a ser copiado pelos homens do campo.                                                                 A perspectiva de Lobato diante das possibilidades de mudança se reconfiguraria novamente. No ano de 1927, por influência de seu amigo, e então ministro da Casa Civil, Alarico Silveira, Monteiro Lobato é nomeado por Washington Luís, presidente em exercício da época, ao cargo de Adido comercial do Brasil em Nova York. Ao entrar em contato com modo de vida norte-americano, o escritor fica fascinado. Se antes já era possível observar em suas obras certa simpatia         pelo american way of life, quando, por exemplo, ao curar Jeca Tatu de suas enfermidades em “Jeca Tatuzinho”, transforma a personagem em um grande empreendedor, dono de um potente carro Ford, que só pensava em fazer melhoramentos em sua fazenda, alçado ao status de exemplo a ser seguido, quase como uma caricatura de um típico empresário estadunidense embebecido pela filosofia de vida do american way of life; depois de ir morar nos Estados Unidos, está tendência fica ainda mais evidente no pensamento de Lobato. Os problemas estruturais do país não estariam mais ligados a fatores raciais ou exclusivamente relacionados a questões endêmicas; estariam, sobretudo, vinculados a falta de industrialização.                        Como símbolos máximo deste novo modo de pensar defendido por Monteiro Lobato, ferro e petróleo ganhariam enorme destaque como sendo elementos fundamentais aos países que possuem pretensões de desenvolvimento. Mesmo não havendo consenso a respeito da necessidade de industrializar o país, uma vez que muitos acreditavam que o Brasil deveria continuar seguindo, por uma questão de capacidade, produzir somente produtos primários e importar industrializados, Lobato não esmoreceu; tentou recorrer ao governo Federal para adentar ao ramo siderúrgico, mas não teve sucesso. Desmotivado a fazer parcerias com o governo, por achar que estas seriam infrutíferas, se alia a empresários e junto aos mesmos promove a campanha “O petróleo é nosso”; que tinha por objetivo mapear e extrair petróleo utilizando somente recursos privados, o que, na concepção do autor, deveria ser o caminho a ser seguido no país.                                                        Para concluir o trabalho de forma exitosa, é valido fazer uma recapitulação das três possíveis formas de interpretar o Brasil, contidas nas obras de Monteiro Lobato. A primeira delas, muito marcada pela influencia do pensamento racista oriundo da Europa, atribuía a figura do caboclo brasileiro, fruto da miscigenação das raças e representada pela imagem de Jeca Tatu, a culpa da precariedade nacional; a segunda, inspirada pelos debates sanitaristas e que se opunha fortemente a primeira por não atribuir à raça a culpa pelo atraso, culpava as doenças endêmicas e a falta de saneamento no Brasil pela situação em que se encontrava a população e, em decorrência disto, a nação; por fim, a terceira        , que responsabilizava a ausência de industrialização pelas mazelas nacionais.                                                        Todas as posições acima foram em algum momento, de algumas formas defendidas por Monteiro Lobato. Para além de um talentoso escritor de obras literárias voltadas ao publico infantil, como se costuma definir, Monteiro Lobato foi, sem dúvida alguma, um dos mais ricos interpretes a ajudar a forjar a identidade do Brasil.                                                                                

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