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O Nascimento Virgem - Edmund Leach - Resumo

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Por:   •  28/4/2013  •  1.697 Palavras (7 Páginas)  •  1.447 Visualizações

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O NASCIMENTO VIRGEM - EDMUND LEACH

Povos primitivos não eram ignorantes sobre a paternidade fisiológica, embora os antropólogos demonstrem resistência para isso. Doutrinas sobre concepção sem inseminação não se baseiam na inocência dos povos, sendo consistentes com argumentos teológicos.

Geertz afirma, como um insulto, que Leach é um positivista vulgar em suas atitudes relacionadas com questões religiosas. Leach aceita o insulto como elogio, afirmando que o positivismo defende que uma investigação cientifica séria não deve procurar as causas últimas que se originam de uma fonte exterior, deve concentrar-se no estudo de relações que existem entre fatos que são acessíveis à observação. Por essa limitação, os positivistas tendem a demonstrar conhecimento sobre o que falam, diferentemente dos teólogos.

Quando um etnógrafo relata que os homens de uma tribo acreditam em determinada coisa, esse etnógrafo está fornecendo a descrição de um dogma ou de uma ortodoxia – a qual é verdadeira para a cultura da tribo como um todo, mas nem por isso supera esse significado de dogma, porque o ritual não tem que corresponder às atitudes psicológicas interiores dos atores que estão envolvidos em sua prática. Essa correspondência é esperada pelos neotyloristas e pelo Professor Spiro, mas podem ser quebradas se examinamos nossa própria cultura: os simbolismos de um ritual não correspondem necessariamente às atitudes psicológicas dos que participam dele.

Como exemplo, pode ser citado o ritual do casamento, em que o buquê da noiva é jogado para trás, é jogado arroz nos recém-casados, etc. Esses símbolos não dizem nada sobre o estado psicológico interno dos noivos em questão. Não se pode deduzir, pelo ritual, o que eles pensam ou sentem. Eles podem até ser ateus. E, talvez, sua ignorância dos detalhes precisos da fisiologia do sexo seja a mesma que a de qualquer aborígene australiano.

Pode-se supor que os negros do rio Tully não ignoravam os fatos da paternidade fisiológica, na medida em que os aborígenes admitiram a Roth que a causa da gravidez em animais, que não o homem, era o ato sexual. Também, Hartland reuniu vários contos mitológicos (de todas as partes do mundo) sobre a concepção mágica de heróis ancestrais e de divindades heróicas, e pensou que essas estórias fossem sobrevivências de um estado de ignorância primitiva. Só que se a existência de contos europeus que falam da paternidade baseados em mitos não implica que se afirme que os europeus são ou que eram ignorantes dos fatos da paternidade fisiológica, não faz sentido que essas estórias tenham essa implicação no caso dos negros do rio Tully. Igualmente, cabe assinalar que, segundo Meggitt, as respostas dadas por um Walbiri às perguntas sobre concepção dependem da pessoa a quem se pergunta e das circunstâncias nas quais se pergunta.

Kaberry fez um trabalho de campo em um local distante mais ou menos 1.300 km dos negros do rio Tully, e os nativos afirmavam que consideravam a relação sexual uma causa necessária, mas não suficiente da gravidez. Os nativos admitiam que a relação sexual preparava o caminho para a entrada da criança-espírito, e asseveravam que uma garota não poderia ter filhos.

Eles diziam que as relações sexuais eram um pré-requisito para a gravidez, e diziam que o embrião fetal tinha uma alma (como a maioria dos europeus). Também afirmavam que o parceiro sexual da mulher, legalmente reconhecido, tinha o status exclusivo de pai da criança. Não tem fundamento a afirmação de que os entrevistados eram completos ignorantes sobre a paternidade fisiológica.

O professor Spiro quer acreditar na ignorância dos aborígenes, e a toma como fato, sem investigar nenhuma evidência, ao mesmo tempo em que não quer aceitar que o produto do pensamento aborígene possa ser estruturado de maneira lógica. Isso é uma tradição muito antiga. Dizer que um nativo é ignorante é chamá-lo de infantil, supersticioso, estúpido. A ignorância é o oposto da racionalidade lógica, e é o que distingue o selvagem do antropólogo. Quando o professor escreve que “a religião persiste porque é causada pela expectativa, por parte dos homens, de que desejos sejam satisfeitos”, ele afirma que religião e magia persistem em um contexto de ignorância. O interessante em tal argumento é que ele se aplica só a contextos “primitivos”.

Se uma aborígene australiana anuncia sua gravidez trazendo ao acampamento uma rã de uma espécie particular, ou vomitando depois de ingerir comida dada pelo seu marido, não se pode concluir que ela acredite que essas ações sejam a causa de sua gravidez num sentido físico. Elas são sinais, e não causas. Uma prece de ação de graças “diz” que a refeição já vai começar ou que acabou (e não pelo significado das palavras ditas, mas pelo significado do “ritual”). Por que, então, só se faz suposições quanto aos nativos “ignorantes” que se ocupam de “rituais sem sentido”? As ações rituais descritas por Roth servem para informar sobre a situação e a condição social das partes envolvidas, mas não expressam a soma do conhecimento aborígene.

O que é interessante não é tanto a ignorância dos aborígenes, mas a ingenuidade dos antropólogos. Os sábios europeus estão muito predispostos a crer que outros povos devem acreditar em versões do mito do Nascimento Virgem. Se nós cremos em tal coisa é porque somos devotos, se outros o crêem é porque são idiotas.

Se certos grupos, como os Trobriand, persuadiram seus etnógrafos de que ignoravam os fatos da vida, é porque essa ignorância era um dogma para eles. (verdadeira para a cultura da tribo como um todo, mas que nem por isso supera esse significado). E se o etnógrafo acreditou no que foi dito, é porque tal crença correspondia à sua própria fantasia particular sobre a ignorância natural de selvagens infantis. Essa “ignorância” é tida como marca de “primitivismo”. Contrastando com isso, o nascimento miraculoso de um herói divino é uma característica das “mais altas” civilizações. Também, no seu contexto cristão o mito do Nascimento Virgem não implica ignorância dos fatos da paternidade fisiológica. O mito, como rito, não distingue o conhecimento da ignorância. Ele estabelece categorias e afirma relações.

A fantasia que McLennan fazia do começo da civilização era de uma sociedade promíscua. Segundo a doutrina evolucionista, o parentesco matrilinear era mais óbvio do que o patrilinear e, portanto, de caráter menos evoluído na

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