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O TABU DA MORTE

Por:   •  26/11/2018  •  Ensaio  •  1.903 Palavras (8 Páginas)  •  116 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS

FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS SOCIAIS

TALITA CORDEIRO DE SIQUEIRA

O TABU DA MORTE

BELO HORIZONTE

MAIO DE 2018

“Tudo o que sei é que devo morrer em breve; mas o que mais ignoro é essa mesma morte, que não saberei evitar”.

  Blaise Pascal

A sabedoria popular conta que “para morrer basta estar vivo”, “contra a morte não há remédio”, “a única certeza de quem está vivo é a morte”, estes e muitos outros ditados populares nos falam de uma verdade da qual não podemos fugir, “Et moriemur, morremos todos” (ARIÈS, 2003). Ao longo da história humana a morte tem sido um tema recorrente entre filósofos, poetas, cientistas, historiadores, músicos e teólogos, talvez por ser o grande mistério da vida humana. Mas não somente os “experts” ocupam-se de pensar a finitude humana, qualquer pessoa, em determinando momento da sua vida pode pegar-se pensando sobre sua morte ou de pessoas amadas. Mas afinal o que é a morte? A ciência define como um acontecimento natural, que finda as atividades vitais de um organismo, mas inúmeros são os significados e sentidos atribuídos a morte dependendo da cultura, crença e religião da pessoa.

A morte é o único evento em que pobres e ricos, negros e brancos, homens e mulheres, ateus e crentes se igualam, ainda que nos dias atuais posamos afirmar que o poder econômico possibilita um processo de “morte medicalizada”, em que os sentimentos de angustia e dor são amenizados, possibilitando a “boa morte”, e que velórios personalizados começam a ser realizados, ainda sim todos, independentemente da classe, cor e gênero terão um mesmo destino, a morte. Nascemos, crescemos, desenvolvemos e morremos, essa é a ordem natural da vida. Para alguns a morte chegará mais cedo, para outros mais tarde, embora   Fernando Pessoa tenha poetizado que “A morte chega cedo, pois breve é toda a vida”. Mas por que ela causa tanta estranheza? Por que temos medo? Por que ela é um tabu? Bom, nem sempre foi assim, é o que nos mostra Ariès.

        A visão que temos da morte é herdada, portanto, é valido ressaltar que essa herança pode ser distinta de acordo com a filosofia, a religião ou a cultura de cada povo. O autor Philippe Ariès (2003) trata em seu livro “História da Morte no Ocidente” numa perspectiva histórica e sociológica dos diferentes significados e atitudes perante a morte ao longo da história humana, nesse caso, a história ocidental. Segundo Ariès na Idade Média, século XII, a relação com a morte se dava de maneira natural, o que significava a aceitação e a preparação para a morte, esse período foi denominado como “morte domada”, e se estendeu até a renascença.  Com o desenvolvimento social, a maneira como as pessoas enxergavam a natureza da morte sofreu modificações, surgindo a “morte interdita”, onde a morte passa a ser vista como um problema, como um mal a ser vencido, evitando-se inclusive, em falar sobre o assunto.

Ariès, baseando-se no sociólogo inglês Geoffrey Gorer, compreende a formação de um tabu social em torno da morte, como antigamente havia em relação ao sexo. A sociedade dessa maneira age como no passado, onde a morte passa a ocupar o lugar antes do sexo. Norbert Elias (2001) sobre esse fenômeno afirmou que “Nada é mais característico da atitude atual em relação a morte que a relutância dos adultos diante da familiarização das crianças com os fatos da morte”. Numa atitude de proteger a criança da realidade perturbadora da morte, afasta-se delas qualquer conhecimento sobre a morte. Mas as crianças não são as únicas a viver distante de tal realidade, a sociedade baniu o debate sobre a morte de uma maneira geral, numa recusa ou mesmo negação da sua possibilidade, alimentando a esperança de “viver para sempre”.

 Segundo Ariès (2003) “Tudo se passa como se nem eu nem os que me são caros não fôssemos mais mortais. Tecnicamente, admitimos que podemos morrer, fazemos seguros de vida para preservar os nossos da miséria. Mas, realmente, no fundo de nós mesmos, sentimo-nos não-mortais”.  O sentimento ou mesmo o desejo de imortalidade rege a vida moderna. A ciência cada vez mais constrói tecnologias capazes de entardecer o envelhecimento e ainda que não exista o “elixir da juventude”, a aqueles que congelarão seus corpos após a morte, na expectativa de que um dia a ciência seja capaz de retomar a vida do corpo morto, superando pôr fim a morte.  Até que esse dia não chegue, a medicina moderna continuará auxiliando, para que o ser humano viva mais e melhor.

A morte e o ato de morrer constituíram-se dessa maneira como tabus nas sociedades ocidentais. No entanto, esse tabu é mais comum entre os jovens, enquanto em relação aos idosos espera-se certa naturalidade ao abordar-se o tema, uma vez que a morte seria um fato esperado por estes.

A morte não é um tema recorrente entre os jovens, talvez não seja em nenhuma época da vida, alguns dirão, mas entre os jovens soa ainda mais estranho. A juventude é o “auge da vida”, momento de planejar a vida profissional e pessoal, de sonhar e projetar o futuro, não é o momento de preocupar-se com a morte.  Ariès (2003) vai dizer que “é terrível quando pessoas morrem jovens, antes que tenham sido capazes de dar um sentido em suas vidas e de experimentar suas alegrias”, dessa maneira construímos uma oposição entre morte e juventude, são coisas que não poderiam ser ditas em uma mesma frase. Mas o senso comum, por outro lado, acredita que a morte é algo próprio para pensar-se na velhice. A morte nessa idade é aguardada, não tendo para onde fugir, tornando-se uma realidade iminente. Segundo Norbert Elias (2001) em “A solidão dos moribundos: seguido de envelhecer e morrer” a sociedade cada vez mais mostra-se incapaz de lidar com o processo de envelhecer e morrer, a prova disso é o trato com os idosos nos nossos tempos. Para o autor a sociedade acaba por isolar essas pessoas, esperando apenas sua morte, tendo estes que lidar com a solidão e o abandono.   Mas como os jovens e os idosos pensam a morte?

Um estudo realizado em 2015 pelo Núcleo Brasileiro de Estágios (Nube) com cerca de 8 mil jovens com idade entre 15 e 26 anos fez a seguinte pergunta “Como você vê a morte?”, os dados da pesquisa revelaram que houve quatro respostas que sobressaíram: 55,07% dos jovens falaram “com naturalidade, pois todos iremos morrer”.  Outros 29,21% “Não penso nisso e vivo cada dia intensamente”. “Eu tenho muito medo de morrer sem realizar meus sonhos”, 12,68%, e 3,05% afirmaram “como o fim de tudo, por isso, fujo dela”.  Embora mais da metade dos jovens tenham dito vê a morte como algo natural, vale ressaltar que essa naturalidade é acompanhada do sentimento de afastamento ou seja, a morte é vista como algo natural, mas muito distante da realidade, justamente por considerarem-se “jovens de mais para morrer”. Enquanto as outras respostas fundamentam-se no que abordamos anteriormente, os jovens tendem a ocupar o seu tempo sonhando e planejando seu futuro e não pensando no fim da sua vida.

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