TrabalhosGratuitos.com - Trabalhos, Monografias, Artigos, Exames, Resumos de livros, Dissertações
Pesquisar

Resenha do texto "A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI” de Ramón Grosfoguel

Por:   •  25/11/2018  •  Resenha  •  1.918 Palavras (8 Páginas)  •  2.514 Visualizações

Página 1 de 8

Nome: Camila Costa

Resenha do texto:

“A estrutura do conhecimento nas universidades ocidentalizadas: racismo/sexismo epistêmico e os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI” de Ramón Grosfoguel

O texto discute a estrutura epistêmica do mundo moderno em relação aos quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI. Para o autor os homens ocidentais de cinco países (França, Inglaterra, Itália, Alemanha e EUA) detêm o privilégio epistêmico sob o conhecimento produzido por outros corpos políticos e geopolíticos do conhecimento gerando não só uma injustiça cognitiva, mas também sendo um mecanismo usado para privilegiar projetos imperiais, coloniais e patriarcais no mundo, inferiorizando os conhecimentos produzidos por homens e mulheres, estas incluindo as ocidentais. Sendo que essa legitimidade e esse monopólio do conhecimento dos homens ocidentais têm gerado estruturas e instituições que produzem o racismo e o sexismo epistêmico, desqualificando outros conhecimentos e outras vozes críticas diante dos projetos imperiais, coloniais e patriarcais que regem o sistema mundo. Onde o conhecimento produzido pelos homens desses cinco países possui uma capacidade universal, suas teorias são suficientes para explicar as realidades sócio - históricas do  restante do mundo. Sendo que essas teorias constituem a base teórica das ciências humanas nas universidades ocidentais dos dias de hoje. Onde privilégio epistêmico possui uma outra face, que é a inferioridade epistêmica, formando os dois lados de uma moeda, esta chamada de racismo/sexismo epistêmico, na qual uma se considera superior e a outra inferior.

A filosofia cartesiana, para o autor, onde o “eu” substitui Deus como a nova fundação do conhecimento, exerce grande influência nos projetos ocidentalizados de produção de conhecimento. Pois as ideias dessa filosofia, como por exemplo, a divisão de “sujeito – objeto”, a objetividade, entendida como neutralidade, o mito de um ego que produz conhecimento imparcial não por seu corpo ou localização no espaço, a ideia de conhecimento como produto de um monólogo interior, sem laços sociais com outros seres humanos e a universalidade entendida como algo além de qualquer particularidade, continuam sendo os critérios utilizados nas disciplinas das universidades ocidentalizadas para a validação do conhecimento. E qualquer conhecimento que estiver em oposição a ele é visto como inferior.

Grosfoguel cita Enriique dossel, onde este argumenta que o “penso, logo existo” de Descartes é precedido por 150 anos de “conquisto, logo existo”, pois para ele a arrogante e idólatra pretensão de divindade da filosofia cartesiana vem da perspectiva de alguém que se pensa como centro do mundo, porque já conquistou o mundo. Na qual o que conecta o “conquisto, logo existo” com o idolátrico “penso, logo existo” é o racismo/sexismo epistêmico produzido pelo “extermino, logo existo”. Com isso ele sustenta que os quatro genocídios/epistemicídios do longo século XVI (1- contra os muçulmanos e judeus na conquista de Al - Andalus em nome da pureza do sangue; 2- contra os povos indígenas do continente americano, primeiro, e depois contra os aborígenes na Ásia; 3- contra africanos aprisionados em seu território, e, posteriormente escravizados no continente americano; 4- contra as mulheres que praticavam e transmitiam o conhecimento indo-europeu na Europa) são as condições da possibilidade sócio – histórica para a transformação do “conquisto, logo existo” no racismo/sexismo epistêmico do “penso, logo existo”.

O primeiro desses genocídios/epistemicídios ocorreu na conquista definitiva de Al –Andalus, no final do século XV, que foi realizado sob o lema de “pureza de sangue”, contra a população muçulmana e judia durante a conquista colonial do território por parte da monarquia cristã espanhola contra o califado de Granada. A prática de limpeza étnica no território da Al – Andalus produziu um genocídio físico e cultural contra muçulmanos e judeus. Os que ficaram no território foram assassinados (genocídio físico) ou forçados a se converterem ao cristianismo (genocídio cultural). Contudo o discurso da “pureza do sangue” usado na conquista de Al – Andalus, foi uma forma de discriminação religiosa, mas ainda não era plenamente racista, pois  não colocava em dúvida a humanidade de suas vítimas.

Para o autor os métodos de colonização e dominação utilizados em Al – Andalus foram transportados para as Américas. Além do genocídio a conquista de Al – Andalus foi acompanhada por um epistemicídio. Pois a queima das bibliotecas, foi um método fundamental para a conquista da região, o mesmo aconteceu com os códigos indígenas, que é a parte escrita da prática utilizada pelos ameríndios na busca pelo conhecimento. Assim como os mesmos métodos de evangelização, que consistia em uma forma de aniquilação da espiritualidade e de epistemicídio, utilizados contra os muçulmanos na península Ibérica, foram empregados contra os povos indígenas nas Américas. A destruição do conhecimento e da espiritualidade caminharam juntos, tanto na conquista de Al – Andalus  quanto na conquista das Américas.

Um primeiro ponto a ser enfatizado na história, para Grosfoguel, foi quando Colombo desembarcou na América, pela primeira vez, e registrou em seu diário a impressão que teve sobre os indígenas, declarando que estes eram povos sem religião. Contudo no imaginário cristão da época não ter religião equivalia a não ter uma alma, isto é, ser expulso da esfera humana. Tal afirmação de Colombo gerou um debate que se estendeu pelos 60 anos seguintes questionando a humanidade dos índios, se eles possuíam uma alma ou não. O autor argumenta que ao contrário do que se atesta o senso comum contemporâneo, o racismo de cor não foi o primeiro discurso racista. “O racismo religioso (povos com alma/religião vs. povos sem alma/religião) foi o primeiro elemento racista do sistema mundo patriarcal, eurocêntrico, cristão moderno colonialista”. Pois devido à lógica da argumentação se você não tem uma religião, você não tem um Deus, se você não tem um Deus, você não tem alma e por fim se você não tem alma não é um humano, e sim um animal. O debate tornou os “povos sem religião” em “povos sem alma”, este discurso racista colonial causou um efeito que redefiniu e transformou o imaginário dominante do tempo e os discursos discriminatórios medievais. A “pureza do sangue” não era mais uma tecnologia de poder para submeter pessoas com ancestrais muçulmanos ou judeus na árvore genealógica, com o objetivo de garantir que ele/ela não estivesse fingindo a conversão como no século XV. O significado de “pureza do sangue” depois da conquista das Américas, com a emergência do conceito de “povos sem alma”, fez com que a questão deixasse de ser sobre confessar a “religião errada” e passasse a ser sobre a humanidade do sujeito praticante  de tais religiões erradas.

...

Baixar como (para membros premium)  txt (12.9 Kb)   pdf (104.3 Kb)   docx (14.6 Kb)  
Continuar por mais 7 páginas »
Disponível apenas no TrabalhosGratuitos.com