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Sincretismo

Por:   •  19/10/2015  •  Relatório de pesquisa  •  1.273 Palavras (6 Páginas)  •  533 Visualizações

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 SERVIÇO SOCIAL COM SINCRETISMO IDEOLÓGICO O sincretismo ideológico acompanha a inteira evolução do Serviço Social, estando presente das suas protoformas aos seus estágios, profissionalizados mais desenvolvidos e especializados. Não casualmente, é um dos traços constitutivos menos analisados do processo da profissão e que só tardiamente foi apreciado pelos assistentes sociais. O desenvolvimento das protoformas do serviço social na Europa Ocidental prendem-se a três fenômenos, desconhecidos no outro lado do Atlântico: uma traumática herança de experiências revolucionárias, a forte presença de uma cultura social restauradora e o peso específico da tradição católica. Deitando raízes na movimentação camponesa da baixa Idade Média, a experiência revolucionária da Europa Central e Ocidental, que sempre se vinculou com a questão nacional, é um rosário de conflitos abertos e de rara violência, que se fixou fundamente na consciência das massas e das elites. É intercorrendo com o neotradicionalismo que vai se desenvolver a mais específica das vertentes ligadas à Igreja Católica, o catolicismo sócia, de fato, não obterá logo uma ressonância de porte na sociedade francesa; a razão disto reside em que ele nada aportava ao núcleo ideológico requisitado pelas elites burguesas que não estivesse já contemplado no referido caldo cultural restaurador. É no imediato pós-guerra civil que se engendram as condições culturais elementares que, na virada do século, permearão as protoformas do Serviço Social. Estas condições expressam com fidelidade a atmosfera de então: à ausência de uma herança revolucionária traumática ao vigor do desenvolvimento capitalista somam-se os embriões do que virá a ser o movimento reformista. As grandes determinações que vinculam a ambos numa mesma e ampla perspectiva teórico-cultural, a do pensamento conservador, com seu medular positivismo e seus traços pragmáticos e empiricistas. O caldo cultural europeu estava travejado nitidamente por um viés anti-capitalista, para o qual concorriam as experiências revolucionárias e os valores católicos; as matrizes que compareciam no caldo cultural norte-americano ignoravam este viés mesmo nas suas vertentes mais radicais. No período que estamos enfocando, a síntese dessas diferenças pode ser resumida da seguinte maneira: nas fontes ideológicas das protoformas, e da afirmação inicial do Serviço Social europeu, dado o anti-capitalismo romântico, há um vigoroso componente de apologia indireta do capitalismo; nas fontes norte- americanas, nem desta forma a ordem capitalista era objeto de questionamento. São notáveis as conseqüências dessa profunda diferença para a emergência e a consolidação profissional do Serviço Social. No plano da intencionalidade do Serviço Social, o seu projeto de intervenção, que é medularmente reformista, mostra-se abertamente condicionado pela perspectiva em que se põe o desenvolvimento capitalista. Na angulação própria da apologia indireta, o reformismo tem projeções de natureza restauradora. A intervenção se faz necessária para repor um padrão de integração social que é modelado por uma representação idealizada do passado. A moldura da intervenção é, basicamente ético-moral, em duas direções: na do ator da intervenção e na do processo sobre que age. Onde não há ponderação da apologia indireta, o reformismo profissional é modernizador: a intervenção tem por objetivo um padrão de integração que joga com a efetiva dinâmica vigente e se propõe explorarar alternativas nela contidas. A intervenção matrizada pelo anticapitalismo romântico, inerente à apologia indireta, defronta-se muito problematicamente com os referenciais "científicos" produzidos pelas ciências sociais. De uma parte, o positivismo que as enforma e atravessa parece-lhe repugnante e de outra, é compelida a reconhecer nelas um mínimo valor cognivo. Essas duas tradições cultural-ideológicas são as que penetram as protoformas e as primeiras afirmações profissionais do Serviço Social. Todavia, o problema do sincretismo ideológico na profissão vai mais adiante que a sua demarcação na sua gênese; com efeito, é bem mais complicado: o desenvolvimento profissional do Serviço Social deu-se, simultaneamente, com a imbricação dessas duas linhas evolutivas e com suas modificações particulares. Paradoxalmente, neste quadro que poderia sugerir uma precipitação no desenvolvimento profissional do Serviço Social, acentuando as preocupações sócio-cêntricas que existiam em germe tenuemente nas proposições de Richmond, ocorre um movimento de viragem, que tende a psicologizar o projeto profissional. O giro não é tranqüilo nem, muito menos, pacífico: desata confrontos e conflitos entre os assistentes sociais. É este giro que, em sj mesmo, não colide com os fundamentos do período anterior, que tinham por suporte uma concepção de socialidade vigorosamente individualista que vai facilitar a interação com a tradição européia, fundamente vincada pela redução da problemática social às suas manifestações individuais, com a hipertrofia dos aspectos morais. Os elementos excludentes que, em princípio e de fato, poderiam problematizar a interação foram dissolvidos por força do próprio conteúdo pragmático da tradição norte-americana: o persona1ismo norte-americano. O fu1cro do pensamento personalista norte-americano é um sistemático combate ao materialismo, ao evolucionismo e ao racionalismo. Há realçar, neste giro, dois aspectos axiais. O primeiro refere-se à rearticulação do sistema de saber que ancora o Serviço Social norte americano: já não é mais o substrato que Richmond recolhe dos pragmáticos "clássicos", mas a abertura a evanescentes influxos "científicos" da psicologia, o que se faz sem um exame dos pressupostos anteriores e atuais, compreendendo-se o giro como um passo adiante numa evolução linear. Outro aspecto é a interação entre duas vertentes cultural-ideológicas, nas condições desse giro é que ela se realiza. Se o rompimento com o evolucionismo e a voga psicologista desobstruíram as vias, na tradição norte-americana, para a interação com a tradição européia, nesta o componente que favoreceu o processo foi à afirmação neotomista. A década de trinta já registra, na América do Norte, os primeiros resultados da interação: novos valores e nova fundamentação se apresentam para a prática profissional do Serviço Social, extraídos do arcabouço neotomista. E os influxos, naturalmente, foram de mão dupla: a tradição européia abriu-se às técnicas e aos procedimentos já desenvolvidos pelos norte-americanos. O fato é que, a partir dos anos quarenta, este duplicado sincretismo rebate decisivamente, sem qualquer reserva crítica de fundo, no desenvolvimento do Serviço Social profissional. Poder-se-ia imaginar que o complexo de equívocos embutido neste sincretismo assinalasse a baixa qualificação teórico-técnica ou uma idiossincrasia ideológica dos protagonistas deste momento histórico da afirmação profissional. Na realidade, em pelo menos dois outros momentos cruciais do desenvolvimento profissional do Serviço Social o mesmo fenômeno se fez presente com idêntico vigor: o desenvolvimento de Comunidade e do chamado movimento de reconceptualização. Dois outros ingredientes, no entanto, marcariam singularmente a inserção do desenvolvimento de comunidade no marco profissional do Serviço Social - e tratava-se de dois ingredientes novos. O primeiro vinculava-se a uma sensível diferenciação na funcionalidade profissional que os assistentes sociais se atribuíam. O que interessa ressaltar é que, no plano cultural-ideológico, um dos corolários daquela função auto-atribuída - e este é o dado que então se inscreve profundamente no universo profissional - é uma resposta articulada à questão da pertinência de classe do assistente social. Ainda que largamente dissimulada, esta questão esteve sempre presente nos debates profissionais. Nas novas condições histórico-sociais em que se punham à organização e o desenvolvimento de comunidades, altera-se a inserção sócio-ocupacional do assistente social: a conexão do Serviço Social profissional, implicando uma relação direta com complexas instituições governamentais e/ou públicas, ofereceu uma base real para que a dinamização do "bem comum" fosse visualizada em termos de projetos técnico-administrativos acima dos confrontos de classes. E mesmo a sua contrafação ideológica, o desenvolvimentismo rebateram no Serviço Social refratados por uma lente singular: a da promoção social, e este é o segundo ingrediente que então emerge. É este sincretismo que, na profissão, converte o desenvolvimentismo em ideologia do promocionalismo. O típico ponto de distinção entre as duas representações ideológicas polêmica entre "desenvolvimento" e "desenvolvimento integral". O promocionalismo, ingrediente novo quando se põe como eixo da intervenção que visa a este "desenvolvimento integral", é a face pertinente do Desenvolvimento de Comunidade enquanto operação própria do Serviço Social.

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