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Sociologia

Por:   •  9/4/2015  •  Bibliografia  •  2.673 Palavras (11 Páginas)  •  135 Visualizações

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O POSITIVISMO DE AUGUSTE COMTE - Por Eduardo Botelho - Visão crítica

        A.Comte recebe duas influências: idéia de progresso e a idéia de ordem. A idéia de progresso, que parte dos iluministas e dos revolucionários, é central no conceito de dinâmica social de Comte. Este conceito está relacionado com a lei dos três estádios formulada pelo mesmo autor. E a idéia da ordem, que é expressa pelos conservadores e contra-revolucionários, está na base no conceito de estática social dele. É nesta contradição entre progresso e ordem ou dinâmica social e estática social que nasce a Sociologia. A importância que o autor dá a estes conceitos deve-se em relação à idéia de progresso, ao fato de ele considerar que as sociedades evoluem, umas mais rapidamente do que as outras, em direção ao mesmo objetivo e, em relação à idéia de ordem, ao fato de ele considerar que no final desse progresso as sociedades atingirem um estado de ordem, de estabilidade social. Daí ele ter escrito, considerando a idéia de progresso, a obra “O Curso de Filosofia Positiva” e, tendo em conta a idéia de ordem, a obra “Sistema de Política Positiva”.

Lei dos três estádios - Na sua obra “Curso de Filosofia Positiva” A. Comte começa por explicar as características da filosofia positiva. Ele ao estudar o desenvolvimento da inteligência humana desde a antiguidade até aos nossos dias acredita ter descoberto uma grande lei fundamental. Esta lei consiste no seguinte. O pensamento passa sucessivamente por três estádios: estádio teológico ou fictício, estádio metafísico ou abstrato, estádio cientifico ou positivo. O primeiro é o ponto de partida necessário da inteligência humana. O segundo serve de transição entre o primeiro e o terceiro. E o terceiro é o ponto definitivo. De seguida descreve sumariamente cada um desses estádios. No estado teológico o espírito humano dirige as suas investigações para a natureza íntima dos seres, para as suas causas primeiras e finais. Procura-se o conhecimento absoluto. O indivíduo explica os fenômenos como sendo produzidos pela ação direta e contínua de agentes sobrenaturais. Ele interessa-se por especular sobre problemas que não são possíveis de resolver. A primeira fase do estádio teológico é o fetichismo. O indivíduo atribui à ação de corpos exteriores a ele vida semelhante à nossa. A segunda fase é o animismo, onde o indivíduo deixa de ver os objetos exteriores a ele como tendo uma vida humana para passar a dar vida a seres fictícios (deuses). Todos os fenômenos são explicados com base na sua intervenção. A terceira é o politeísmo. Nesta as religiões baseiam-se em vários deuses. É por exemplo o caso da Grécia. A quarta e última fase é o monoteísmo. Em que a religião passa a estar centrada num só Deus. A religião católica é disso exemplo. No estádio metafísico ou abstrato os agentes sobrenaturais são substituídos por forças abstratas. A procura da natureza íntima dos seres, a origem e o destino de todos os fenômenos ainda continua. Existe tendência para explicar estes mesmos fenômenos sem primeiro observá-los. No estádio positivo o espírito humano reconhece a impossibilidade de encontrar noções absolutas. Já não procura a origem e o destino do Universo. Não pretende ver a causa íntima dos fenômenos. A explicação especulativa dá lugar à observação. O espírito humano pretende descobrir através da razão e observação as leis que regem os fenômenos. Essas leis são, nas palavras de A. Comte: “relações invariáveis de sucessão e de semelhança”. O cientista observa para criar teorias, e utiliza essas mesmas teorias para observar. O autor explica como cada um desses estádios atinge a perfeição. Ele alerta para o fato de existir nenhuma ciência que tenha chegado ao estádio positivo perfeito. Revelando, que mesmo as ciências mais aperfeiçoadas conservam características dos dois primeiros estádios. Ele compara a evolução da inteligência humana nesses três estádios com a evolução do indivíduo, dizendo este foi «teológico na infância, metafísico na juventude e físico na idade adulta». Além de provar essa lei dos três estádios com a evolução do indivíduo, ele faz considerações sobre a necessidade do indivíduo. A necessidade de uma teoria, para relacionar fato, que sempre existiu, associada com a incapacidade para o indivíduo formular teorias com base na observação. Para observar, o espírito humano tem que ter algumas teorias. Sem isso, é impossível compreender observações isoladas sem qualquer teoria a acompanhá-las. Por esse motivo “os fatos passariam despercebidos aos nossos olhos”. O espírito humano para sair desse dilema desenvolveu de forma espontânea “concepções teológicas”. O autor elogia o fato de o espírito humano ter começado por se debruçar sobre questões impossíveis de explicar, como “a natureza íntima dos seres, a origem e o fim de todos os fenômenos”, devido à escassez de meios técnicos para tal, colocando de lado os problemas possíveis de resolver. E explica a razão disso, porque é através da experiência, mesmo tendo opiniões erradas, que se foi conseguindo o desenvolvimento da humanidade. A nossa razão ao chegar ao estádio positivo, está atualmente preparada para fazer complexas investigações positivas sem recorrer a quaisquer explicações do foro teológico. Isto prova que a filosofia positiva é o último estádio da inteligência. Para chegar aqui o espírito humano teve que passar pela filosofia metafísica. O nosso entendimento condicionado por obstáculos que não conseguia explicar por falta de meios, não pode passar de forma brusca do estádio teológico para o estádio positivo. A filosofia metafísica apareceu assim como intermediário entre os dois.

Curso de Filosofia Positiva - A. Comte passa a explicar a natureza da filosofia positiva. A característica fundamental dessa filosofia é ver “todos os fenômenos como sujeitos as leis naturais invariáveis”. As “explicações positivas” não têm como objetivo analisar as causas dos fenômenos, mas estudar exatamente a posição desses e encandeá-los por relações de “sucessão e semelhança”. E ele dá vários exemplos, como o da “Lei da Gravitação Newtoniana”. O cientista positivista não consegue explicar as causas da atração e da gravidade, abandonando-as racionalmente a sua explicação aos teológicos e aos metafísicos. O autor fala também do período da criação da filosofia positiva e daquilo que é necessário fazer para acabar de criá-la. Começa por indicar que os diversos ramos do conhecimento não chegaram ao mesmo tempo ao estádio positivo. Por ordem de chegada temos: fenômenos astronômicos, fenômenos da física terrestre e fenômenos fisiológicos. Ele diz que é impossível determinar a origem da revolução positiva. Mencionando, no entanto, como primeiros trabalhos com caráter positivo, os trabalhos de Aristóteles e da escola de Alexandria, e a introdução das ciências naturais na Europa Ocidental pelos Árabes. Fixando como época fundamental o séc. XVII devido aos trabalhos de Bacon, Descartes e Galileu. Desde então a “ascensão da filosofia positiva e o movimento de decadência da filosofia teológica e metafísica” têm sido extremamente acentuados. A questão, segundo Comte, é saber se a filosofia positiva abrange atualmente todo o tipo de fenômenos. Ele pensa que não e ainda é preciso trabalhar muito para que isso aconteça. Falta acrescentar àquela lista anteriormente apresentada dos fenômenos naturais, os fenômenos sociais. As metodologias teológica e metafísica, que já não são aplicadas no conjunto dos fenômenos naturais, são ainda utilizados em alguns aspectos dos fenômenos sociais. Este, na ótica do autor, é o último problema que falta resolver para finalizar a constituição da filosofia positiva. É necessário fundar, à semelhança das outras físicas naturais, a física social. Este é o objetivo do curso de filosofia positiva dado pelo autor. Neste curso ele pretende estudar a relação de cada ciência atrás enunciada, o sistema positivo e as suas características. No estádio teológico o nosso conhecimento não está segmentado. A segmentação do conhecimento só acontece quando nos aproximamos do estádio positivo. E por conseguinte, cada segmento está preparado para ocupar uma atividade científica. É essa especialização em vários campos científicos que leva a que tenhamos atualmente várias ciências altamente desenvolvidas. A. Comte alerta para o exagero da divisão da ciência em várias ciências, mostrando-se preocupado. Pese embora, ser possível para ele evitar os efeitos mais negativos dessa especialização abusiva. É por isso urgente que a comunidade científica atue sobre esse problema. E continua, dizendo que já poucos cientistas agem como se a ciência fosse um todo. A grande maioria especializou-se nos diversos ramos da ciência. Comte, alerta para o risco de os cientistas positivistas perderem-se em trabalhos de pormenor. O autor não aconselha a comunidade científica regressar aos estádios teológico e metafísico, ele pretende o «aperfeiçoamento da divisão do próprio trabalho» científico. Para tal, ele propõe a criação de mais um ramo da ciência, que se ocupe do «estudo das generalidades científicas». Em que o cientista dessa nova ciência se preocupe em definir o objeto de estudo de cada uma das ciências existentes e a descobrir aquilo que elas têm em comum e encadeá-las. É que simultaneamente os cientistas que se especializaram nas diversas áreas abrem o seu espírito às idéias vindas de outras especialidades científicas. Assim, jamais uma excessiva atenção ao pormenor impedirá os cientistas de verem o conjunto. A.Comte debruçou-se sobre as vantagens do positivismo. A filosofia positiva dá ao indivíduo o único meio racional de evidenciar «as leis lógicas do espírito humano». Para ilustrar essa idéia ele recorre à distinção entre a visão estática e a visão dinâmica da anatomia comparada. E completa defendendo que só através da observação profunda dos fatos podemos chegar a leis lógicas. Ele passa então a provar o caráter ilusório da teologia e da metafísica. Revelando que os metafísicos estão ainda divididos em diversas escolas com explicações distintas sobre os fenômenos. E evidencia o ridículo de a metafísica querer observar o interior do próprio espírito humano, argumentando que tais observações não têm pertinência científica. Só é possível, do ponto de vista científico, observar os fenômenos externos ao indivíduo. Como os metafísicos desconhecem o método das ciências positivas, confundem a sua maneira de pensar os fenômenos com a ciência.  A. Comte também propõe a reestruturação do sistema educativo europeu. É necessário substituir uma educação “teológica, metafísica e literária por uma educação positiva, de modo a esse mesmo sistema se adequar às necessidades da vida moderna”. E avisa sobre a má influência da exagerada especialização e isolamento das ciências positivas na educação. É que os alunos ao estudarem com detalhe apenas uma ciência, terão uma educação incompleta. É necessário que a educação abranja a totalidade dos ramos científicos. O estudo das generalidades científicas além de servir para organizar a educação também é útil para a progressão de cada uma das ciências particulares. As divisões das ciências devem ser artificiais e não reais, no sentido de dividimos as ciências de maneira a fragmentar os fenômenos para melhor compreendê-los. O autor apresenta como um dos exemplos, a problemática de o azoto ser ou não um corpo simples. Para resolver esse problema é necessário combinar as considerações da fisiologia às da química sobre “a relação entre a composição dos corpos vivos e o seu modo de alimentação”. Outra característica da filosofia positiva está relacionada com as divergências entre os pensadores face aos princípios fundamentais. Enquanto não houver unanimidade entre eles sobre as idéias gerais não se conseguirá uma ordem social comum. Essas divergências devem-se à utilização simultânea das três filosofias: teológica, metafísica e positivista. Bastava uma dessas filosofias ter uma posição preponderante sobre as outras que a sociedade estaria organizada, em vez de estar desorganizada. Para A. Comte a filosofia positiva é a única que têm condições para alcançar essa posição preponderante. Visto esta ter ao longo dos séculos progredido e as outras estarem em decadência. O progresso da filosofia positiva já está quase completo, bastando para tal integrar nela a ciência que estuda os fenômenos sociais e tornar a ciência positiva homogênea. Quando o progresso da filosofia positiva estiver completo, ela alcançará uma posição dominante e permanente. E a ordem social será restabelecida, pondo um fim à crise revolucionária que a sociedade ocidental do séc. XIX sofre. Ele opõe-se ao individualismo e à metafísica, e favorece uma sociedade governada por princípios comunitários e positivistas. Um dos seus objetivos seria apresentar uma concepção de sociedade alternativa a todas as outras sociedades anteriores, cujo caráter teológico e metafísico, tinha gerado uma situação de profunda crise social. Ou seja, ele visava restabelecer a ordem social. Esta reforma da sociedade só é possível através do progresso do espírito humano. É por isso, que outro dos seus objetivos foi fazer uma síntese dos conhecimentos científicos. Ao apresentar a filosofia como um todo homogêneo, ele não pretende estudar os fenômenos considerando-os como submetidos a uma só lei. Longe disso. Ele considera qualquer tentativa de explicação universal dos fenômenos por uma só lei como relativa a domínios das filosofias teológica e metafísica. Para ele os meios ao dispor do homem são insuficientes e o universo demasiado complexo para que isso seja possível.

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