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A INVENÇÃO DO BAIANO NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

Por:   •  11/4/2022  •  Dissertação  •  2.953 Palavras (12 Páginas)  •  65 Visualizações

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FUNDAÇÃO ARMANDO ÁLVARES PENTEADO

COMUNICAÇÃO E MARKETING

ANDRESSA MIRANDA E BÁRBARA SOUZA

A INVENÇÃO DO BAIANO NO AUDIOVISUAL BRASILEIRO

Uma análise a partir de "O Segundo Sol", novela da Rede Globo

Junho, 2021


  1. INTRODUÇÃO:

Lar de Gabriela, Cravo e Canela, de Gil e Caetano, de festas animadas, praias exuberantes e de um povo preguiçoso: essa é a Bahia pintada na mente dos brasileiros. Protagonista de muitas histórias e músicas, o baiano vive num paradoxo: é belo e feio, é encantador e preguiçoso, é sagaz e burro, é sagrado e profano. Talvez ele seja todas essas coisas ao mesmo tempo, mas quem poderá dizer com toda certeza? A construção do baiano no imaginário brasileiro limita seu povo, sua cultura e história, a um estereótipo equivocado e racista, que se perpetua nos mais diversos âmbitos da sociedade.

Esse processo abre caminho para a propagação de discursos radicais e imperativos que atuam de maneira agressiva, violenta e hostil a essa cultura e suas representações. Para encontrar uma das raízes desse problema é preciso compreender que a comunicação é essencial para a criação de sentidos e propagação dos mesmos. Umas das vertentes mais importantes da comunicação contemporânea são as mídias sociais, e é através dos meios jornalísticos, literários, e televisivos que os estereótipos do povo baiano como preguiçoso, miserável, faminto e folião são reproduzidos. Dessa forma, esses meios atuam como fatores potentes da cultura de uma determinada sociedade, influenciando fortemente quais representações serão feitas, aceitas e disseminadas nessa estrutura.

Com a popularização dos televisores ao longo do  século XX, as telenovelas assumiram um papel muito importante na vida de todos os brasileiros, contando dramas, expondo problemas reais e lançando modas. Diante desse fenômeno, propomos uma análise da figura baiana em "O Segundo Sol", novela da rede Globo de 2018, ambientada em Salvador. Aqui, faremos uma exposição da influência das mídias na invenção da imagem do baiano, que na novela é altamente estereotipado. Ao invés de dar voz a esse povo, permitindo que ele conte ao país e ao mundo as suas histórias, observamos estrangeiros brincar com as imagens dessa gente, reforçando preconceitos e mentiras.

Segundo o físico Isaac Newton,  toda ação gera uma reação oposta e de mesma magnitude. Com base nesse pensamento, podemos traçar um paralelo ao que será apresentado aqui. A força da ação de produções audiovisuais irresponsáveis como “O Segundo Sol”, que caracterizam de forma  reducionista  toda a cultura e história do povo baiano, geram reações irresponsáveis na mesma intensidade. Dessa forma, ao retratar a capital baiana como a terra da alegria, da bagunça, da curtição e da preguiça, um processo perigoso se inicia contribuindo na  penetração de um personagem utópico que não corresponde com as verdadeiras características desse estado e do seu povo.

  1. PERGUNTA

De que forma a Bahia, sua cultura e seu povo são representados em Segundo Sol, qual é a veracidade dessa narrativa e qual é o impacto desse tipo de representação no imaginário popular?

  1. OBJETIVOS
  1. Objetivo Geral
  1. Problematizar a estereotipização da Bahia no audiovisual brasileiro através de uma análise da novela “Segundo Sol”.
  1. Objetivos específicos
  1. Relacionar o racismo e a xenofobia na construção de personagens, cenários e narrativas em "Segundo Sol"  e outras obras sobre a Bahia.
  2. Desmistificar as características fantasiosas do soteropolitano apresentado na novela “Segundo Sol”.
  3. Responsabilizar as mídias pela propagação de estereótipos culturais relacionados a Bahia e o seu povo.
  4. Apresentar a formulação do imaginário popular com relação ao baiano e suas consequências.
  1. JUSTIFICATIVA

O mito da preguiça baiana tem uma origem muito antiga e está diretamente ligada ao racismo. Na época da escravidão, a elite baiana usava desse discurso como forma de opressão e de consolidação da sua dominação. Depois, esse discurso se tornou uma forma de exclusão. Quando a migração de nordestinos (curiosamente chamados genericamente de "baianos"), em sua maioria mestiços e afro-descendentes, para o sudeste se intensificou, eles não fugiram do mal que assolava seus antepassados: a imagem do "baiano" preguiçoso se espalhou e se consolidou.

Segundo a antropóloga Elisete Zanlorenzi, que publicou a tese "O mito da preguiça baiana", a imagem de preguiçoso que o baiano tem, seja na literatura ou no imaginário popular, foi construída ao longo da história e faz parte de um projeto da elite baiana e da elite paulista. Esse estereótipo era muito lucrativo para essas classes, uma vez que os paulistas podiam usá-lo para justificar baixos salários e condições de trabalho precárias e a Bahia podia se vender como um lugar que ninguém trabalha, só festeja, curte as praias e não tem obrigações.

O papel da mídia para o reforço e propagação desse discurso xenofóbico da elite foi fundamental. Pensando no campo da produção audiovisual, podemos usar o conceito de indústria cultural trazido pelos sociólogos alemães Adorno e Horkheimer, que segundo eles, o objetivo da indústria cultural é lucrar e conservar um pensamento dominante. Fruto dessa indústria, temos as telenovelas brasileiras, que há anos influenciam na vida dos brasileiros, lucram muito e propagam pensamentos da elite. Ao transmitir uma novela como “Segundo Sol”, que além de ter personagens interpretados por artistas sulistas, ter tido a maior parte de suas  gravações no Rio de Janeiro e trazer caracterizações exageradas dos soteropolitanos, dá base para reforçar todo um imaginário popular que vem sido construído há anos e que tem consequências graves para a população baiana.

Pouco se fala do papel essencial do Nordeste para o nascimento do cinema brasileiro e pouco se tem noção da contribuição do cinema baiano para que houvesse uma construção sólida dessa sétima arte, e isso acontece graças a uma manutenção da visão sulista, especialmente paulista, que continua atuante no quesito de construção e manutenção de teses ideologicamente estereotipadas. A Salvador caracterizada em  “Segundo Sol” flerta com as representações feitas por uma das mais importantes companhias cinematográficas dos anos 50, a “Vera Cruz”, criada pela elite paulistana com o intuito de vender o seu "bom-gosto cultural" mundo afora. Isso aconteceu através  de produções que davam visibilidade e ao mesmo tempo uma visão reducionista ao Nordeste, que ficou caracterizado pelos mitos do cangaço, da preguiça e da ignorância que se aplica a visão construída e estabelecida ao povo baiano.

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