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A industrial musical e a pós-modernidade

Por:   •  20/3/2017  •  Artigo  •  2.178 Palavras (9 Páginas)  •  286 Visualizações

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Teoria de Pesquisa em Comunicação

Artigo:

A indústria musical e a pós-modernidade

Rodrigo Nunes Vieira

     Em seu projeto de civilização ideal, onde a modernidade é a era da razão prática e o ser humano se vê livre ideologicamente para consumir de acordo com suas escolhas, o racionalismo trouxe consigo a instrumentalização de todas as práticas humanas, entre elas a de consumir arte.

    Em épocas mediáveis, retratadas por livros, filmes e seriados dos nossos tempos, só se consumia  sendo da realeza ou tendo sorte de encontrar trovadores e poetas em praças públicas. Com os renascentistas, a arte se viu mais livre, porém ainda limitada ao espetáculo in loco e direcionada para as classes mais abastadas. Com a invenção do cinema, do gramofone, da radiola e vários dispositivos de reprodutibilidade técnica, e claro com o poder do consumo chegando ás demais classes sociais, foi preciso criar um mercado, todo uma logística e infraestrutura que transformasse a ânsia humana por se expressar em ato de consumo e consequentemente em produto.

    Os meios de comunicação de massa e seus efeitos na população eram fortemente estudados a partir dos anos 20, e dentre esses estudos um deles dava conta da figura do formador de opinião, o modelo “Two-Step-Flow”. Esse modelo argumentava que o “líder” ou o formador de opinião era aquele que dentre as outras pessoas faziam valer suas atitudes, suas escolhas, seu modo de vida e principalmente sua fala, e muitas pessoas formavam suas opiniões por intermédios dessa figura social.

     Os heróis sempre existiram na mitologia e nos contos, histórias que ajudavam a propagar a moral vigente da época, para alegrar, entristecer ou assustar quando se queria banir determinado comportamento. Até hoje histórias antigas e modernas são exibidas continuamente nos meios de comunicação com o mesmo fim.

    É importante ressaltar que a prática de composição e distribuição de música existe desde o século XVIII, mas com o nascimento da indústria musical e cultural como a conhecemos hoje, foi criado a imagem do ídolo, e consequente a imagem do fã.

    O ídolo vende não só discos com sua música – aqui o instrumento técnico de sua arte e o produto a ser consumido – mas o seu modo de vida com seu vestuário que vira moda nas vitrines, a dança associada a sua música que vai ser executado em discotecas, a marca dos instrumentos utilizados pelo conjunto que é vendido a outros conjuntos que almejam tanto sucesso quanto, e claro, suas opiniões que devem estar de acordo com a imagem de sua gravadora. Assim nascem artistas como Elvis Presley, que ao mesmo tempo que quebrava paradigmas da família tradicional ao se valer de “sexy appeal” para persuadir suas fãs, era o produto ideal para atender um novo tipo de consumidor que surgia com o crescimento das metrópoles: a juventude. Ávidos pelo glamour que começava a explodir nos anos 30, a música dançante era o produto ideal e a protótipo perfeito para saber até onde iria a influência dos meios de comunicação. Elvis aparecia em capas de revistas, manchetes de jornais, programas de televisão e da rádio e tudo relacionado a ele virava moda, um exemplo a ser seguido se almejasse sucesso.

    As ações que nascia naquela época apesar dos esforços para atender a todas as demandas do consumo e da economia, não conseguia contemplar todas as manifestações artísticas e culturais que eclodiam nos subúrbios das grandes cidades. Assim diversas bandas de diversos estilos apesar do grande teor artísticos que possuíam, o suficiente para encher casas de shows sem a publicidade das grandes estrelas, contavam com a grande propaganda que ganhava mais força com o surgimento da mídia técnica: o “boca a boca”. Assim o Jazz se propagava das comunidades negras dos Estados Unidos para diversas partes do país e mais tarde do mundo com a globalização. O poder de convencimento e manutenção de culturais não midiáticas se mantiam com força e principalmente exigia criatividade e união. Diferentemente da “profissão de estrela” que se firmava, os movimentos que se tornaram “underground” eram feitos por trabalhadores que faziam do pouco tempo de lazer que tinham sua vida de fama.

    Existem dois movimentos de estrelas na Industria Musical: o primeiro é o artista construído pela própria indústria com objetivos claro de fazer de seu trabalho algo comercial, algo que renda capas de revistas, shows grandes e com boa bilheteria, relações com produtos e estilo de vida. Há porém um outro tipo de artista que “nasce já pronto” e que retrata a sua realidade de maneira mais crua, menos maquiada, e que de certa forma se aproxima mais diretamente de seu consumidor.

    No período pós-guerra, mais precisamente nos anos 60 a juventude ganha ainda mais notoriedade quando começa a questionar o sistema em que era inserido, e cria aqui uma dualidade. Ao mesmo tempo que eram contra o sistema que o aprisionava, consumia seus ídolos, suas drogas e seus estilos de vida. Aqui a indústria precisa se reorganizar e nascem pequenos empresários ainda subsidiados pelas grandes gravadores. Aparecem os Beatles, que inicialmente se enquadram no segundo tipo de estrela, mas que logo se transformam no primeiro tamanho o patamar que conseguiram alcançar. A dualidade continua: seriam os artistas retratos da juventude ou a juventude guiada pelos artistas?

    Ainda preso em sua própria crise, a juventude chega aos anos 70 com cada vez mais representações, com o nascimento de diversos estilos musicais que atendessem sua demanda de se sentir compreendido em meio a uma sociedade que o preenchia de sentidos e questionamentos. Além dos hippies com suas músicas psicodélicas e o rock com sua atitude antissistema mas respaldado pelo mesmo, nasciam o metal de bandas como Black Sabath que traziam questão menos políticas e mais existências, sem deixar de criar personagens e ídolos, como o líder da banda Ozzy Osborns. A rebeldia não se tratava mais de algo político e ideológico, se tornava uma questão existencial, estético e comercial. Os artistas atendiam a demanda sentimental que a égide do consumismo criara, criando lendas a serem adoradas como mártires de uma juventude que não viam mais seus pais como heróis. O exemplo a se seguir com o advento da indústria cultural não era mais familiar e sim mercadológico.

     Ainda em meados dos anos 70 temos o surgimento do Punk, que logo foi abraçado pelas grandes gravadores e mitificado devido ao seu forte potencial paternalista e agitador. Jovens que musical e esteticamente iam contra tudo que a sociedade pregava de melhor. Causas rasgadas, moicanos, música barulhenta de fácil assimilação e inconformismo. Era o ápice da rebeldia abraçada pelos versos do Sex Pistol na Inglaterra de músicas como “God Save The Queen” e “Anarch In The UK”. Anarquia e posicionamento político não era mais coisa de proletariado adulto, era coisa de jovem  de classe média muitas vezes filhos de burgueses esperando a promessa de que o capitalismo e o consumismo os libertaria do vazio do ser e daria uma vida melhor para todos. O Punk teve uma capacidade maior de se organizar fora do “mainstream” e procriou em diversos estilos que criaram muitos dos artistas que se enquadraram no segundo tipo citado anteriormente neste artigo. A luta política e o descontentamento ultrapassou a rebeldia adolescente e se transformou em vários movimentos sociais com forte influência principalmente nos Estados Unidos. Após esses episódios se tornou raro tantos questionamentos quanto o Punk trouxe.

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