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Intertextualidade na obra Navio Negreiro

Por:   •  27/9/2015  •  Artigo  •  1.898 Palavras (8 Páginas)  •  4.330 Visualizações

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INTERTEXTUALIDADE

1 – Relação entre o Navio Negreiro e a Divina Comedia.

 O poema “O Navio negreiro” de Castro Alves e a obra “A Divina Comedia” de Dante Alighieri estabelecem uma relação de intertextualidade, isto é, quando dois texto dialogam entre si. Essa relação se dá em três níveis principais: estrutural, temático e de gênero.

Podemos dizer que ambos os textos trabalham com os três momentos: Inferno, Purgatório e Paraiso, porém em ordens diferentes. A divina comédia se inicia no Inferno e termina no Paraíso, já o navio negreiro faz o caminho contrário. Desta forma dizemos que é uma Paródia estrutural.  Como trabalham sobre a mesma temática: Inferno e Paraíso, dizemos que ocorre também uma Paráfrase Temática. Além disso, o primeiro se trata de uma Tragédia, visto que termina no inferno e o segundo uma comédia, tendo seu final no paraíso, o que também pode ser visto no próprio título de cada texto “O Navio Negreiro: uma tragédia no mar” e  “A Divina Comedia”. Portanto é uma paródia de gênero.  Podemos citar ainda duas outras referencias no Canto IV, a primeira “era um sonho dantesco”, que faz uma referencia clara a Dante, na Divina Comedia e a segunda, “doudas espirais” que faz uma alusão ao movimento circular do chicote, remetendo aos círculos do inferno, purgatório e paraíso também da Divina Comedia.

 

2 – Relação do Navio Negreiro com a literatura de Victor Hugo

 Claramente, o poema possui uma relação de intertextualidade com a literatura francesa de Victor Hugo, com sua obra “Os Miseráveis” e com com a terceira geração do romantismo, o Condoreirismo ou Fase Hugoana. As características românticas presentes no texto são todas da terceira geração, trabalhando as temáticas e as mazelas sociais, no caso de Victor Hugo, do proletário francês, já no Navio Negreiro, dos escravos. Temos aqui uma paródia, porém esta só se encontra aqui, pois as mazelas sociais são tratadas da mesma forma em ambos os textos, através de antíteses, paráfrase.

Há no poema o uso intenso de antíteses, onde se opõem: primeiro e quarto cantos (paraíso x inferno), segundo e quinto ( homens capazes de se transformar em deuses x homens transformados em animais, escória), terceiro e sexto, formando pares antitéticos. O texto trabalha com o Sublime e o Grotesco. O sublime presente nos três primeiros cantos e o grotesco nos três últimos. Encontramos ainda uma antítese dentro do próprio canto V, onde o sublime e o grotesco aparecem ao mesmo tempo, o hoje e o ontem, onde ontem, presenteando o paraíso e o hoje o grotesco. Chamamos essa marca de estilo, esta antítese, de Inconformismo Hugoano.

3 – Relação do Navio Negreiro com o gênero Épico

 O poema Navio Negreiro é uma paródia do gênero Épico. Primeiramente no que diz respeito à sua estrutura. A epopeia geralmente é longa, possui suas estrofes com a mesma estrutura, mesmo numero de silabas poéticas, versos e rimas. O navio negreiro, é uma mini epopeia, seu tamanho em si já é uma paródia, além disso não possui os cantos com a mesma estrutura, cada um segue uma. Exemplo: primeiro canto, decassílabos; quarto canto, métrica desigual que se alterna entre 6 e 10 sílabas poéticas; quinto canto, redondilha maior; e sexto canto decassílabos. 

São notadas algumas semelhanças entre eles, como por exemplo, a alternância de passado e presente nos cantos, assim como uma epopeia possui uma estrutura formada por: proposição, invocação, dedicatória, narração e desfecho.

A proposição se trata de uma parte inicial do texto que fala sobre o que ele trata, no Navio Negreiro isso aparece no próprio título. Na invocação, são trazidas musas e deusas pagãs para ajudar a escrever o texto, no navio negreiro invoca-se o Albatroz. A dedicatória é feita de forma indireta aos que sofreram no navio. Sua narração é feita com a alternância de presente e passado, e por fim, o desfecho é a paródia principal com o gênero épico: o épico busca enaltecer um povo, a nação, já o poema de Castro Alves desmerece e rebaixa o povo brasileiro.

4- Relação do Navio Negreiro com o Romantismo

 O poema dialoga com o romantismo, com a terceira geração romântica. Essa terceira geração é baseada em uma poesia engajada socialmente, preocupada em tratar das questões sociais, no caso do texto, da questão do escravo. Por isso, o texto é inteiro uma paráfrase com o romantismo no que diz respeito a sua temática.

Os poetas da terceira geração também são chamados de Condoreiros, o poeta condor. Condor é um pássaro gigante que pode ser encontrado nos andes, pela sua altura e por sua visão avançada enxerga melhor que os outros. Através dessa comparação podemos dizer que o poeta condor é aquele que vê melhor que os demais e anuncia o que viu para que haja uma transformação. No poema, temos uma passagem em que mostra a visão se aproximando da realidade: “ Desce do espaço imenso, ó águia do oceano!/ Desce mais ... inda mais... não pode olhar humano.” E é a partir dessa aproximação e dessa nova visão que ocorrera uma transformação, onde o eu lírico para a ver a realidade, e passa do paraíso para o inferno. Outra característica do Romantismo é a liberdade na estrutura, nesse caso podemos apontar os cantos com diferentes estruturas um dos outros, essa liberdade na estrutura também sugere uma liberdade no tema, com uma proposta de libertação do escravos.

E por fim, a natureza que aparece ao longo do poema todo. Em um primeiro momento tratando-se o mar como Deus; em um segundo momento traduzindo o estado de espirito do eu lírico, sendo contemplativa quando ele esta feliz (canto I), e aparecendo como tempestade quando ele está revoltado. (canto V)

 5-  Relação do Navio Negreiro com a Bíblia

 São apresentadas no texto tanto alusões quanto referencias bíblicas, praticamente em todos os cantos. No primeiro, a natureza representa o divino, uma alusão ao Salmo 19, onde se busca o contato com Deus na natureza, nesse caso o mar representa o Éden. Além dessa alusão, no canto I encontramos também as cores Azul e Dourado, referencias ao cristianismo e ao manto da Virgem.

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