O PRIMEIRO DOS NOVOS HOMENS OLHANDO O SEU MUNDO

UNIVERSIDADE DE FORTALEZA

COMUNICAÇÃO SOCIAL – PUBLICIDADE E PROPAGANDA

SEMIOLOGIA

GERMANO RIBEIRO

9811206/5

-2001-

UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO.

1. O PRIMEIRO DOS NOVOS HOMENS OLHANDO O SEU MUNDO

5. Novembro de 2000

3. INTRODUÇÃO

1. O HOMEM RENASCE, NOVO, OLHANDO A TERRA AZUL

        Durante 15 minutos vê-se um deserto sem homens. Os planos são longos, estáticos. Os cortes são bruscos, dissolvendo em negro. Há um grupo de macacos. Parecem humanos porque são ancestrais do homem, o pitecantropus. Reúnem-se em grupos, espécie de famílias, em torno de lugares onde não existe água.

        Naquela manhã do homem, ainda macaco, há um bloco negro, um monolito. É a presença dessa entidade estranha que assiste (e provoca) o despertar da inteligência naquele homem macaco. A violência da descoberta do uso da força (representada pelo osso do animal) dá o primeiro passo. Depois, na defesa da água, ele a usará como arma. Essa violência, precursora do progresso, é seguida por um gesto de triunfo: o osso é jogado no ar e num corte magnífico se transforma numa nave espacial, viajando no ano 2001 em direção à base – estação interplanetária. Nesse corte são sintetizados alguns milhões de anos de civilização. Depois do primeiro “empurrão”, a história que se seguiu foi a mesma. O medo gerando a agressividade, a inteligência, a violência.

        Ao som de uma valsa, a nave viaja pelos espaços. Todo o ritmo das cenas parece realmente correr no compasso binário do “Danúbio Azul”. O espaço é infinito, silencioso. As cenas ficam igualmente lentas, demoradas. Fica-se assim conhecendo alguma coisa do conforto das aeronaves, da ausência de gravidade (e o problema com os banheiros), da comida sintética, do aparente equilíbrio das forças do mundo (russos e americanos continuam se desacreditando).

        Sabe-se também do progresso. No espaço já existe a cadeia de hotéis Hilton, restaurantes, e as ligações televisadas para telas são muito e baratas. Na história é sugerido algum mistério na base de Clavius – uma cratera subterrânea na Lua. É mantido o máximo segredo da descoberta de um monolito negro de alguns milhões de anos num lugar da Lua. Quando os cientistas vão visitá-lo, tocam nele sem compreender do que se trata. Mas naquele momento ouvem um tremendo ruído: são (isso é explicado mais tarde) os raios que o monolito envia a Júpter, primeiro sinal de vida inteligente fora da Terra.

        Imediatamente depois, começa a primeira viagem humana tripulada a Júpiter. Três cientistas congelados, dois astronautas e um supercérebro eletrônico (Hal 9000). Esses astronautas são homens frios, que não se emocionam com a festinha de aniversário – símbolo, para alguns, da inadaptação do homem ao mundo que desbrava.

        O único que sabe o segredo da missão é Hal 9000, o computador infalível que fala e tem emoções humanas. Hal sabe jogar xadrez – ganhando invariavelmente – e elogiar os desenhos que Bowman, um dos astronautas, lhe mostra (embora eles sejamapenas tristes e medíocres). Uma vez insinua alguma coisa a Bowman sobre o destino da missão. Depois, o segredo acaba por enlouquecê-lo. Hal 9000 na realidade é o mais humano da tripulação, fazendo seu papel de Polifemo (o gigante de um olho só que gauarda os segredos da caverna na Odisséia de Homero e que vedava a entrada de Ulisses), mata os tripulantes e deixa Bowman fora da nave.

        Esse Polifemo enlouquecido havia lido nos lábios dos astronautas a desconfiança e resolvera que não tinha a necessidade de homens para cumprir sua missão. Bowman custaa entender o que está acontecendo. A solução é arriscar-se entrando pela porta de emergência, mesmo sob o perigo  de vácuo (é um instante de silêncio – no vácuo não há som) até caminhar (na trilha sonora apenas o arfar de sua respiração) para o desligamento do computador, quase uma lobotomia (operação em que o médico inutiliza o cérebro do doente). É também uma cena das mais emocionantes do filme, quando a voz de Hal cantando uma música simplória ao mesmo momento em que diz estar com medo vai deixando de existrir.

         A viagem prossegue em direção a Júpiter (é importante lembrar que Júpiter, na mitologia greco-latina, significa Deus). No espaço do Sol e da Lua, entre astos de formas arredondadas, aparece o monolito negro de linhas retas (isto é, nascido de uma inteligência). Caberia então explicar o que é monolito. Pode ser quase tudo: a pedra filosofal, o princípio de todas as coisas, a opção entre o bem e o mal, entre a vida e a morte. Pode ser também uma entidade superior, inexplicável. Deus, ou alguém que não entendemos e chamamos de Deus.

        O astronauta, ao alcançar Júpiter, atravessa uma barreira de cores. Isso seriao portal de uma estrela, a porta de entrada de uma outra dimensão, da eternidade. Ele, dominado por uma inteligência semelhante a Deus, primeiramente retorna a infância; depois transformado em puro intelecto,  é levado de volta a Terra, carregando consigo toda a sabedoria do universo.

        A maior dificuldade é entender que o astronauta morre ao atravessar a barreirade cores. Num canto da tela (comprometido pela versão em vïdeo), aparece o sinal vermelho anunciando que as funções de Bowman foram interrompidas (e também numletriro bem grande). A partir daí, sabendo de sua morte é mais fácil explicar sua presença na sala branca que se segue.

        Há diversas versões: o apartamento decorado à Luís XV representa, além do passado (a herança cultural), o inconsciente coletivo que busca o luxo, ou então emissões cantadas de imagens do subconsciente de Bowman. Seria a vida que ele teria na Terra quando voltasse (ou desejasse ter). poderia ser ainda umaespécie de exorcismo, num quarto muito branco, de todas as coisas materiais (comer, ir ao banhairo, dormir).

        O fato é que Bowman (somente o espírito) envelhece e num gesto, repetindo os macacos, tenta tocar o monolito. No fim, é absorvido por ele. Ressurge feto, renasce com olhos claros e puros olhando a Terra. O primeiro dos novos homens olhando o seu mundo.

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