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A VIOLÊNCIA NA COLONIZAÇÃO LATINO-AMERICANA

Por:   •  7/11/2019  •  Ensaio  •  1.832 Palavras (8 Páginas)  •  120 Visualizações

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Disciplina

Ética: Perspectivas Contemporâneas [BH1204]                                                                                         Docente: Flamarion Caldeira Ramos

   

                                                                                                                                                             

A violência na colonização latino-americana

Discentes:

Andréa Biral - 11025508

Ingrid Ferraz - 21060513

Lucas Pinheiro - 21028912

Matheus Feres - 21029513

Vitor Machado - 21009812

São Bernardo do Campo, 08/2016

“Os brancos, o povo da mercadoria, dormem muito, mas só sonham com eles mesmos”

Xamã Yanomami Davi Kopenawá

Introdução ou o prefácio sobre o respeito à alteridade.

Falar sobre violência na colonização da América Latina pode soar ao leitor atento como um pleonasmo. Afinal, o ato de colonizar implica necessariamente na entrada de um povo e uma cultura em outra sem nenhum tipo de pedido ou de negociação. Uma invasão que, como sabemos, mata pela lança, pela doença, e mais que isso, matou por dentro um conjunto cultural mantenedor de modos de vida e formas de colocação no mundo. Esse malencontro (CLASTRES, 2013) entre os europeus e os habitantes do novo mundo foi sem sombra de dúvidas pior para as etnias distribuídas pela América Latina e saxã.

Quando aqui aportaram, nutridos de seus interesses mercantes, os europeus encontraram uma série de povos, com hábitos distintos dos seus próprios. Um impacto inicial transbordava de projeções sobre um território de natureza exuberante.  “As Águas são muitas; infindas. E em tal maneira é gracioso que, querendo-se aproveitar, dar-se-á nela tudo, por bem das águas que tem. [...] Andavam [os índios] todos tão dispostos, tão bem-feitos e galantes com suas tinturas, que pareciam bem. [...]Parece-me gente de tal inocência que, se homem os entendesse e eles a nós, seriam logo cristãos, porque eles, segundo parece, não têm, nem entendem em nenhuma crença” disse Pero Vaz de caminha e sua carta ao rei Manoel e já aqui destacamos a gênese de duas formas de violência colocadas de antemão. As caravelas que traziam os europeus tinham intuito claro de explorar o território e suas riquezas; e os padres que ungiam as embarcações queriam já submeter o outro a um processo de aculturação de seu deus.

Esta impressão inicial foi logo desfeita conforme os europeus encontraram resistência. O galante deu espaço ao bestial como nos revela o “diálogo para a conversão do gentio” de poucos anos após a chegada. “a gente destas terras é a mais bruta, a mais ingrata, a mais inconstante, a mais avessa, a mais trabalhosa de ensinar de quantas há no mundo” destilava o Padre Antônio da Nobrega. Com a chegada dos relatos e cartas desta “bestialidade” na Europa uma nova visão foi se construindo. Thomas Hobbes baseou uma parte significativa de sua obra leviatã no falso pressuposto de que os índios eram selvagens. Pinturas, livros e representações acabaram por construir uma visão extremamente negativa dos habitantes daqui como ritualísticos, canibais, selvagens, poligâmicos e inconstantes. Essa projeção feita construiu seja por meio da igreja ou por meio dos reinados uma visão muitíssimo equivocada dos povos indígenas que perpetua até hoje como uma verdade que se retroalimenta nos discursos, como nos lembra Foucaut:

No fundo, temos que produzir a verdade como temos que produzir riquezas, ou melhor, temos que produzir a verdade para poder produzir riquezas. Por outro lado, estamos submetidos à verdade também no sentido em que ela é lei e produz o discurso verdadeiro que decide, transmite e reproduz, ao menos em parte, efeitos de poder. Afinal, somos julgados, condenados, classificados, obrigados a desempenhar tareias e destinados a um certo modo de viver ou morrer em função dos discursos verdadeiros que trazem consigo efeitos específicos de poder.(FOUCAULT, Microfísica do poder, 2011. p. 180)

As instituições educacionais perpetuaram valores europeus e acabaram por fomentar mesmo nos brasileiros e brasileiras noções ingênuas e estereotipadas sobre os povos indígenas. Até hoje perdura na sociedade brasileira, por mais ilógico que possa parecer. E ainda hoje mesmo os discursos, livros e representações que pretendem denunciar a violência que os povos indígenas sofrem, acabam proferindo discursos que ainda colocam os povos indígenas em papel menor, de ingênuo, indefeso, fraco, simples, exaltando a crueldade e perversão dos europeus. Mesmo nas instituições públicas do estado brasileiro, militantes acabam por esvair-se em um antropoindigenismo de estado que pensam os índios dentro do nosso mundo, como etnias dominadas e vencidas que caberia aos antropólogos defender e quem até ajudar a liberar, por meio da inclusão dos antropólogos no aparelho do estado e da inclusão social dos índios na modernidade. Esquecem-se antes de pensar e agir sobre os índios, deveriam pela função pública, pensar com os índios.

Evidente que a crueldade com a qual os europeus dizimaram os índios nos períodos de colonização e o que o agronegócio e mineração fazem hoje com os índios não pode ser negada, mas ao fazer isso estes militantes acabam também cometendo uma violência básica, de não respeitar os povos indígenas em sua alteridade. É preciso compreender a estrutura cultural e de pensamento dos povos indígenas antes de cometer qualquer tipo de generalização estereotipada. É este tipo de violência dupla que Pierre Clastres chama de etnocídio, que para ele é ainda pior que o genocídio tão amplamente defenestrado ao longo da história. Nas palavras do antropólogo francês:

O genocídio (crime por raça) guarda ainda uma visão idêntica do Outro: o Outro é a diferença, certamente, mas é sobretudo a má diferença. O genocida quer negá-la. Exterminam-se os outros porque eles são absolutamente maus. O etnocida, em contrapartida, admite a relatividade do mal na diferença: os outros são maus, mas pode-se melhorá-los obrigando-os a se transformar até que se tornem, se possível, idênticos ao modelo que lhes é proposto, que lhes é imposto. Na América do Sul, os matadores de índios levam ao ponto máximo a posição do Outro como diferença: o índio selvagem não é um ser humano, mas um simples animal. O homicídio de um índio não é um ato criminoso, o racismo desse ato é inclusive totalmente evacuado, já que afinal ele implica, para se exercer, o reconhecimento de um mínimo de humanidade no Outro. (Clastres, 2014 p. 78)

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