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Aristóteles E A Praxis

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Por:   •  30/8/2013  •  1.804 Palavras (8 Páginas)  •  13.165 Visualizações

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Aristóteles e a práxis

Se devemos a Sócrates o início da filosofia moral, devemos a Aristóteles a distinção entre saber teorético ou contemplativo e saber prático. O saber teorético ou contemplativo é o conhecimento de seres e fatos que existem e agem independentemente de nós e sem nossa intervenção ou interferência, isto é, de seres e fatos naturais e divinos. O saber prático é o conhecimento daquilo que só existe como conseqüência de nossa ação e, portanto, depende de nós. A ética e a política são um saber prático. O saber prático pode ser de dois tipos: práxis ou técnica.

Na práxis, o agente, a ação e a finalidade do agir são inseparáveis ou idênticos, pois o agente, o que ele faz e a finalidade de sua ação são o mesmo. Assim, por exemplo, dizer a verdade é uma virtude do agente, inseparável de sua fala verdadeira e de sua finalidade, que é proferir uma verdade; não podemos distinguir o falante, a fala e o conteúdo falado. Na práxis ética, somos aquilo que fazemos e o que fazemos é a finalidade boa ou virtuosa. Ao contrário, na técnica, diz Aristóteles, o agente, a ação e a finalidade da ação são diferentes e estão separados, sendo independentes uns dos outros. Um carpinteiro, por exemplo, ao fazer uma mesa, realiza uma ação técnica, mas ele próprio não é essa ação nem é a mesa produzida por ela. A técnica tem como finalidade a fabricação de alguma coisa que é diferente do agente (a mesa não é o carpinteiro, diversamente, por exemplo, de uma ação virtuosa, pois esta é o ser do próprio agente que a realiza). Além disso, enquanto na práxis a ação e sua finalidade são idênticas (a virtude é a finalidade da ação virtuosa), na técnica a finalidade do objeto fabricado é diferente da ação fabricadora (a ação técnica de fabricar uma mesa, por exemplo, implica o trabalho sobre a madeira com instrumentos apropriados, mas isso nada tem a ver com a finalidade da mesa, uma vez que o fim que ela trará é determinado pelo uso e pelo usuário). Dessa maneira, Aristóteles distingue a ética e a técnica como práticas que diferem pelo modo de relação do agente com a ação e com a finalidade da ação.

Também devemos a Aristóteles a definição do campo das ações éticas. Estas não só são definidas pela virtude, pelo bem e pela obrigação, mas também pertencem àquela esfera da realidade na qual cabem a deliberação e a decisão ou escolha.

Em outras palavras, quando o curso de uma realidade segue leis necessárias e universais, não há como nem por que deliberar e escolher, pois as coisas acontecerão necessariamente tais como as leis que as regem determinam que devam acontecer. Não deliberamos sobre as estações do ano, o movimento dos astros, a forma dos minerais ou dos vegetais. Não deliberamos nem decidimos sobre aquilo que é regido pela natureza, isto é, pela necessidade.

Mas deliberamos e decidimos sobre tudo aquilo que, para ser e acontecer, depende de nossa vontade e de nossa ação. Não deliberamos e não decidimos sobre o necessário, pois o necessário é o que é e será sempre tal como é, independentemente de nós. Deliberamos e decidimos sobre o possível, isto é, sobre aquilo que pode ser ou deixar de ser, porque para ser e acontecer depende de nós, de nossa vontad-e e de nossa ação. Com isso, Aristóteles acrescenta à idéia de consciência moral, trazida por Sócrates, a

idéia de vontade guiada pela razão como o outro elemento fundamental da vida ética.

Por isso mesmo, devemos a Aristóteles uma distinção que será central em todas as formulações ocidentais da ética, qual seja, a diferença entre o que é por natureza (ou conforme àphysis) e o que é porvontade (ou conforme à liberdade). O necessário é por natureza; o possível, por vontade. Eis por que, desde Aristóteles, afirma-se que a ética (e a política) se refere às coisas e às ações que estão em nosso poder.

A importância dada por Aristóteles à vontade racional, à deliberação e à escolha o levou a considerar, entre todas as virtudes, uma delas como condição de todas as outras e presente em todas elas: a prudência ou sabedoria prática. Oprudente é aquele que, em todas as situações, é capaz de julgar e avaliar qual a atitude e qual a ação que melhor realizarão a finalidade ética, ou seja, entre as várias escolhas possíveis, qual a mais adequada para que o agente seja virtuoso e realize o que é bom para si e para os outros.

Se tomarmos a Ética a Nicômaco, de Aristóteles, nela encontraremos a síntese das virtudes que constituíam a excelência e a moralidade gregas durante o tempo da Grécia clássica. Nessa obra,Aristóteles distingue vícios evirtudes pelo critério do excesso, da falta e da moderação: um vício é um sentimento ou uma conduta excessivos, ou, ao contrário, deficientes; uma virtude, um sentimento ou uma conduta moderados.

Resumidamente, eis o quadro aristotélico:

A ÉTICA e o JUSTO MEIO

Aristóteles é o criador da filosofia prática. Não que antes dele as questões éticas não houvessem sido discutidas e tratadas, pois vimos que são elas o centro da preocupação de Protágoras e da filosofia socrático-platônica. Todavia, Protágoras supusera que a ética é uma técnica e Platão, opondo-se ao sofista, a concebera como parte integrante da vida contemplativa, portanto como um saber teorético de mesmo tipo que a ontologia ou a matemática. Aristóteles é o fundador da filosofia prática porque demarcou o campo da ação humana e distinguiu, pelo método e pelo conteúdo, o saber prático e a técnica fabricadora, assim como o saber teorético e o prático.

A étic é uma ciência prática ou uma ciência da práxis humana, isto é, um saber que tem por objeto a açã . Difere, portanto, da metafisica ou filosofia primeira e da fisica ou filosofia da natureza, que são ciências teoréticas, ciências que não criam seus objetos, mas apenas os contemplam. No entanto, há um ponto comum entre a ética e as ciências teoréticas, uma vez que o homem é um ser natural que segue os princípios e as causas de acordo com a physis: como tudo na natureza, o homem age tendo em vista um fim oli uma finalidade e, portanto, ao agir, atualiza potências para realizar plenamente sua forma. Em outras

palavras, embora a práxis seja objeto de um saber prático, seu pressuposto é a natureza humana tal como a metafisica, a fisica e a psicologia a conhecem.

Na abertura

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