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Ensaio sobre a solidão

Por:   •  7/7/2017  •  Trabalho acadêmico  •  2.843 Palavras (12 Páginas)  •  247 Visualizações

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Paulo Sérgio Silva da Paz

Ensaio Sobre a Solidão.

Salvador - BA

2013

               Na literatura vemos um traço trágico empregado à solidão, Raskólnikov, personagem central de romance de Dostoievski, Crime e Castigo, é um homem que vive em solidão: “Há um mês habituei-me a falar sozinho, encolhido a um canto durante dias inteiros, preocupado com ninharias.”, esta solidão presente em Raskólnikov fez com que ele planejasse seu plano maquiavélico, assassinar uma senhora agiota para roubar suas joias. Porém a solidão de Raskólnikov não é a mesma do isolamento social, pois isso ele tinha, e sim, aquela que mesmo rodeado por pessoas ele se sente deslocado, por se achar superior aos que lhe cercam.   

"A Solidão é essencial ao autoconhecimento", (Anthony p. 22), no primeiro livro que li em minha vida a primeira frase que me deparei foi esta, há anos a via e como a frase mais certa e racional que existe, hoje alguns anos mais calejado pela vida, venho a questioná-la. Esta solidão que sempre me encantou, me fez mais apto a lidar com certos assuntos, que realmente me aproximou um pouco mais do meu eu, hoje esta me assustando. Por anos idolatrei-a como um Deus, transformando-a na coisa mais preciosa que um homem pudesse ter como a única saída para o seu real conhecimento, hoje procuro a resposta para esta pergunta: Será mesmo que a solidão é necessária?

Afinal de contas, o que é solidão? Solidão - etimologia do termo: Só, desacompanhado, solitário, único, próprio. Do latim solus. Solipsismo – doutrina filosófica segundo a qual a única realidade do mundo é o próprio eu. Os dicionários definem solidão como “1. Condição, estado de quem está só; isolamento. 2. lugar ermo, retiro.” Segundo Máspoli (2001, p. 4) A sociologia encara a solidão como um produto social recente, fruto do processo individual ocidental.” Esta ideia de solidão como um processo recente, nos dá uma impressão de que a solidão é fruto do século atual, o que sabemos que não é verdade. Gustave Le Bom (1841 – 1931), Sigmund Freud (1856 – 1939) entre outros, já tratavam do tema, e já naquela época dizia-se que a solidão é um mal do século.

Na psicologia a solidão é definida como um sentimento de vazio ou algo que se perdeu no passado como afirma Eduardo Ferreira (MARTINS, 2000):

“Nos primeiros sete anos de vida, a criança não tem o que Sigmund Freud definia como o ‘eu formado’ e depende da mãe para ensinar comportamentos e suprir suas necessidades. Mas, se em um dado momento da vida familiar, há pouca identificação da mãe para o filho, esse ‘eu’ fica incompleto e não se define. Na vida adulta, o problema aparecerá com sintomas de tristeza e solidão. Como não houve uma conclusão daquele processo infantil, a pessoa vai precisar de um complemento numa fase posterior da vida. Falta algo, um sentimento que ficou aberto e que precisa de complemento. É normal que a pessoa não consiga identificar o que está faltando e a tendência é driblar esse sentimento. Eles se dedicam ao trabalho, chegam até a pagar para ter companhia, procuram outra pessoa fora do casamento como forma de completude”. 

Já a filosofia ver a solidão com um processo inerente e necessário ao homem:

“O homem nasce ligado à natureza, é parte desta como os outros animais. Mais tarde, por meio da ontogênese, engendra-se a humanidade. Neste longo processo de desenvolvimento da espécie humana e do ser, ocorre, paulatinamente, a separação entre o homem e a natureza. Com o desenvolvimento da linguagem, o homem elabora um discurso sobre a natureza e passa a representá-la como distinta de si mesmo e, neste momento, funda a humanidade e cria a solidão” (Lotz, 1961).

A religião acredita que a solidão é fruto do pecado, que antes dela o Homem vivia em paz com seu semelhante e com Deus, foi o pecado que trouxe esta insegurança resultando na solidão, que assola ate hoje a sociedade por todo o mundo.

Das correntes citadas, a que mais me interessa é a filosófica, pelo simples fato de ela enxergar como eu vejo a solidão, como uma necessidade a todo ser humano, “o Homem só é forte quando esta só” (Ibsen). Quando estamos sozinhos passamos a nos conhecer mais a cada minuto, e é esse conhecimento que dá vazão, a saber, o que sou e o que não sou capaz de fazer. Eu tenho total domínio sobre o meu EU, eu me torno forte quando estou em minha plena companhia, o mal que cabe em mim é todo canalizado em minha solidão e isso não faz de mim um suicida, não que eu nunca tivesse pensado, acredito eu que muitos já pensaram.

Minha solidão não me livra de viver bem em sociedade, afinal nenhum homem é uma ilha, mais precisamos expurgar esta dependência que nos vincula a vida social, que exige que precisamos de outros para nos realizarmos, precisamos casar, ter filhos, ir aos domingos almoçar com os parentes, visitar um amigo distante, sair com a turma do trabalho para não sermos um extraterrestre no ambiente profissional. Desde pequenos somos ensinados a sermos amigos de todos, a quem devemos dividir nossos brinquedos, sermos bonzinhos; na adolescência o que mais desejamos é ter muitos amigos e com isso nos sentirmos aceitos, o paradoxo social contemporâneo é convivermos o dia a dia com tanta gente e ao mesmo tempo sentirmos solitários. Muitas são as situações que causam a solidão: a solidão da morte, a solidão decorrente da riqueza, a dos bem e mal casados, a imposta pelo trabalho atomizado, a solidão dos velhinhos rejeitados com suas memórias e muitas vezes abandonados nos asilos onde se tornam esquecidos dos familiares, a solidão das crianças órfãs, abandonadas ou que são obrigadas a viverem em instituições repressivas, existe a solidão gerada pelo próprio poder a solidão da loucura, e tantas outras.

“No contexto familiar, temos outro exemplo de produção de solidão negativa: os velhos, que não são mais suportados pelas famílias, e que tendem a ser delas isolados. Enquanto uma experiência ocidental antiga dava aos velhos um lugar de sabedoria e solidez, a nossa ensina que a velhice é um estorvo. Assim, a não ser que haja um desejo e um esforço de permanência familiar comum, a solidão do velho se faz de um modo bem difícil, pois ele é isolado da vida familiar normativa” (KATZ, 1996:53). Minha adorada, vó, Maria José (86), me disse recentemente que quando moça tinha tantos amigos, e com o passar dos tempos eles foram diminuindo, por que ela era a mais velha do grupo e com o passar dos dias ela ficou ‘obsoleta’ para eles, hoje ela vive em casa sozinha sem poder sair e com poucos amigos que vão visitá-la.

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