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O Autodidatismo Como Falsa Libertação Intelectual

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Por:   •  13/11/2013  •  Seminário  •  1.003 Palavras (5 Páginas)  •  281 Visualizações

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Quem lê os diálogos em que aparece Sócrates, sabe que ele é irônico e que nem sempre tem “bom trato” em relação aos seus interlocutores. No “Crátilo” de Platão, há um bom exemplo dessa sua postura. Ao final, Sócrates não conseguindo, por todos os argumentos, convencer seu interlocutor, simplesmente se despede, dizendo-lhe: “…já que estas disposto, caminhe para o campo e leve consigo também Hermógenes, que cá está”[1].

Nada demais, não é? Bom, não haveria se a) Hermógenes não fosse um nome derivado do nome Hermes (portanto ele mesmo, podendo ser um representante da divindade), se b) o próprio deus Hermes não fosse o responsável por conduzir as almas ao Hades e se c) o verbo em grego equivalente à tradução “caminhe para o campo” também não fosse o mesmo usado para as ocasiões em que as almas descem ao Hades. Em outras palavras, o que sutilmente Sócrates está dizendo é isto: vá para o inferno, Crátilo![2]

No meio intelectual, não há problema algum na arrogância, considerada em si. É possível justificá-la em vários casos. Igualmente, não há problema na grosseria, também se pode justificá-la, não sempre, mas em determinadas situações certamente. Também não há problemas em proferir palavrões – o mesmo argumento. O problema que há é o de fazer uso de todos esses expedientes sem propriedade alguma. Mas o que fornece tal propriedade?

A primeira coisa a ser dita é que não há um princípio geral que regule o “bom uso” da arrogância, da grosseria e dos palavrões. Há quem defenda que nunca se pode falar em bom uso, quando se trata de tais usos – a acusação que recai sobre quem os utiliza é, predominantemente, a de alguém que está apelando ao argumento ad hominem (aquele que se dirige ao indivíduo, não ao seu argumento). Discordo, quase sempre, de que a utilização do ad hominem desqualifique o argumento de quem o utiliza. Quase sempre. De fato, existem casos em que os argumentos simplesmente não convencem o interlocutor que insiste em empacar. O diálogo “Crátilo” nos mostra isso.

Mas se não há princípio geral que regule o bom uso do ad hominem e se, ao mesmo tempo, ele requer alguma propriedade ao ser utilizado, como distinguir o seu “bom uso”? Se não há critério positivo, há algum critério negativo? Sim, há: podemos dizer que todos concordam que um arrogante, grosseiro e boca suja que sabe do que está falando é menos pior que um arrogante, grosseiro e boca suja que não tem a menor ideia do que está falando. Trocando em miúdos, é mais fácil levar a sério alguém que esbraveja com conhecimento do que alguém que esbraveja falando impropriedades. O critério negativo, portanto, é o de que o arrogante, grosseiro e boca suja não seja – e que isto se ponha com todas as letras – burro.

O burro é o animal que empaca num lugar, não importando as tentativas de movê-lo dali. O burro intelectual é o ser humano que empaca num raciocínio não importando quantos outros mais razoáveis venham a contra-argumentá-lo. Essa espécie de burro é encontrada fora e dentro da educação formal. Do mesmo modo que não é preciso ser pobre e ignorante para ser burro, também não é preciso estar fora da Universidade para sê-lo. Porém, penso que o problema é maior quando, aliada a essa postura, vem uma outra: a do auto-didatismo.

O problema é que figuras que nunca frequentaram a educação formal (seja por falta de mérito ou por alinhamento ideológico) passem a substituí-la. Não raro, finda-se por acontecer o contrário do que o mais bem intencionado auto-didata professa: o alinhamento ao dogma, a instauração da visão única, o empacamento, a burrice. O que era para ser uma auto-educação

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