O Ensaio Dostoievski

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Governo do Estado do Rio Grande do Norte Secretaria de Estado da Educação e da Cultura - SEEC UNIVERSIDADE DO ESTADO DO RIO GRANDE DO NORTE - UERN Campus Avançado de Pau dos Ferros - CAPF Departamento de Letras Estrangeiras - DLE Componentes do grupo: Jonas Rodrigues da Silva e Júlio Cesar Queiroga do Amaral Professor: Francisco Edson Gonçalves Leite

 ENSAIO - TEORIA DA LITERATURA II

O teor reflexivo e questionador acerca do pensamento humano no campo social e religioso na obra de Dostoievski.

O Sonho de um Homem Ridículo, conto por Fiódor Dostoiévski, de 1877, dividido em cinco partes, é contado por um narrador protagonista que discorre sobre eventos que ocorreram em sua vida, onde residia, em São Petersburgo, na Rússia. O protagonista começa devaneando acerca da sua vida onde afirma para si mesmo que sempre foi uma pessoa ridícula e reflete também sobre como recentemente chegara à conclusão de que nada mais importava para ele. Contudo, é esta revelação que o leva à ideia de suicídio. O narrador da história revela que ele havia comprado um revólver no mês anterior, com a intenção de meter uma bala na própria cabeça, mas acaba que adiando o suicídio por diversas vezes. Dessa maneira, em uma noite triste, o narrador olha para o céu e vê uma estrela solitária e acredita que isso tratava-se de um sinal para que ele se matasse naquela noite. Pouco depois de ver a estrela, uma menina desconhecida surge correndo em direção a ele. O narrador tentando entender o que estava acontecendo supõe que algo está errado com a mãe da menina. Mas, não dá atenção a criança, que está desesperada, e fala pra ela ir pedir a ajuda de outra pessoa com um tom de voz exasperado, e em seguida vai para seu apartamento. Uma vez em seu apartamento, o narrador afunda-se numa cadeira e coloca a arma em cima da mesa que está ao lado dele. Nessa perspectiva, ele hesita em atirar-se por causa de uma sensação incômoda de culpa que o atormentava desde que ele se desviou da jovem moça, negando-a auxílio. O protagonista lida com questões internas por algumas horas antes de adormecer na cadeira, ele próprio em dado momento já relatara que tinha dificuldades para adormecer. Então, ao dormir, ele tem um sonho muito vívido que acabaria mudando o rumo de sua vida. O presente ensaio acadêmico objetiva trazer à luz da complexidade de questões que não deixam de serem atuais como o pensamento humano acerca de assuntos sociais e religiosos, calcadas nos fatos narrados numa das obras mais reflexivas do escritor Dostoiévski.

Este trabalho trata-se de um ensaio acadêmico que interpõe dados narrados no conto O Sonho de um Homem Ridículo, com questões reflexivas envolvendo o homem em sociedade e religião. Didaticamente, o teor vital de algumas partes é narrado e, em seguida, são elaboradas algumas propostas de debate, com base em questões que o autor do conto julgou como pertinentes.

A primeira reflexão presente na obra “O sonho de um homem ridículo é a do suicídio. Qual seria os motivos pelo qual o personagem passa a enxergar que nada mais lhe importa e a partir dessa ação a opção de suicídio? Diante da informação, tem o leitor a livre iniciativa para formular conceitos através de uma análise das ações do personagem.

 Segundo Durkheim (1897) citado por Cabral (s.d. Acesso em 20 de maio de 2021) há três tipos de suicídio:

• Suicídio Egoísta: é o tipo no qual o ego individual se afirma demasiadamente face ao ego social, ou seja, há uma individualização desmesurada. As relações entre os indivíduos e a sociedade se afrouxam fazendo com que o indivíduo não veja mais sentido na vida, não tenha mais razão para viver;

• Suicídio Altruísta: é aquele no qual o indivíduo sente-se no dever de fazê-lo para se desembaraçar de uma vida insuportável. É aquele em que o ego não o pertence, confunde-se com outra coisa que se situa fora de si mesmo, isto é, em um dos grupos a que o indivíduo pertence. Temos como exemplo os kamikazes japoneses, os muçulmanos que colidiram com o World Trade Center em Nova Iorque, em 2001, etc.;

• Suicídio Anômico: é aquele que ocorre em uma situação de anomia social, ou seja, quando há ausência de regras na sociedade, gerando o caos, fazendo com que a normalidade social não seja mantida. Em uma situação de crise econômica, por exemplo, na qual há uma completa desregulação das regras normais da sociedade, certos indivíduos ficam em uma situação inferior a que ocupavam anteriormente. Assim, há uma perda brusca de riquezas e poder, fazendo com que, por isso mesmo, os índices desse tipo de suicídio aumentem. É importante ressaltar que as taxas de suicídio anômico são maiores em países ricos, pois os pobres conseguem lidar melhor com as situações de anomia social.

Dessa maneira, aqui ficam exemplificados os tipos de suicídios e suas causas, que são, pelo que se dá a entender, sempre ocasionados por fatores sociais. Assim, por dedução da narrativa, podemos observar que o caso do personagem principal se trataria do tipo egoísta. Pois, o suicídio egoísta deve ser compreendido como aquele tipo de morte em que o indivíduo se mata por conta do enfraquecimento dos grupos sociais ao qual ele pertence. Quanto for maior o afastamento e individuação perante os grupos sociais que produzem determinadas maneiras de agir, pensar e sentir a capacidade de manter a consciência coletiva acima da consciência individual, maior será a chance de cometer suicídio, evidenciando, assim, os conflitos internos de um homem na sociedade.