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O ensino público

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Por:   •  20/10/2013  •  Tese  •  2.546 Palavras (11 Páginas)  •  346 Visualizações

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A minha primeira impressão ao entrar na Escola Maximiliano Pereira dos Santos, localizada na Vila Madalena em São Paulo, foi de um sistema carcerário, com uma pequena abertura na parede, que poderíamos chamar de guichê, porta principal fechada à chave com corrente e cadeado e com uma policial a frente. Estou relatando isso porque, em se tratando de Behaviorismo, fiquei com uma impressão péssima do ambiente que estava a minha volta, sem falar dos professores com um ar pesado, de quem está ali por obrigação, sem muito amor e satisfação transparecendo em seus olhares. Em meio a esse caos - infelizmente, não tenho outra palavra para descrever essa situação e provavelmente terei de repeti-la algumas vezes no decorrer dessa minha análise crítica, fui apresentado para o professor de filosofia. A princípio, ele ficou surpreso e meio desconfiado. Entretanto, para deixá-lo mais à vontade, conforme orientação da fase um, mencionei que iria apenas observar uma aula para realizar um trabalho.

Sentei na primeira carteira para poder ter uma visão geral dos alunos e do professor. A turma tinha uns quinze alunos, dispersos pelas carteiras, quatro meninas colocaram suas carteiras uma ao lado da outra com as costas para a parede para poderem ficar de frente para todos os alunos. Achei estranho o professor não dizer nada sobre isso. Outros alunos de pé; outros, entrando com justificativas esfarrapadas sobre onde estavam e o que estavam fazendo fora da sala de aula, lugar onde já deveriam estar.

Depois de uns vinte minutos tentando negociar com os alunos, em meio a piadinhas e conversas paralelas, o professor deu início a sua aula. A rebeldia era notória - nunca tinha visto tamanho desrespeito em sala de aula. Fiquei até incomodado. Estou simplificando, pois o comportamento exacerbado e falta de educação predominavam. Senti “pena” do professor que, em meio à tentativa de ministrar sua aula, assumia comportamento parecido com os dos alunos, tornando-se meio adolescente junto com eles.

Sempre me pareceu que a obrigação de aprender e o comprometimento com o aprendizado deveriam ser de responsabilidade do aluno, mas eles demonstravam que não estavam nem um pouco preocupados com isso - pelo menos foi a impressão que tive.

Percebi duas dificuldades: em dar a aula e manter a turma focada no professor, que estava, malabaristicamente, tentando exercer o seu ofício.

O tema da aula era teoria do ato e potência de Aristóteles. O professor, ante a várias interrupções, tentava escrever na lousa para os alunos copiarem. Mas somente metade da turma se dignou a escrever; os demais alunos tinham comportamento que deixaria qualquer ser civilizado atônito.

Ao terminar a aula, dei início à entrevista como o professor José Evanildo Sousa Silva que, naquele momento, lecionava para a turma do primeiro A. O docente começa sua fala reclamando do sistema, do governo e se desculpando pela aula que acabara de finalizar.

A estratégia do professor para obter o comportamento esperado dos alunos foi a utilização de recursos que fazem referência a coisas do dia-a-dia deles, para que através da associação pudesse desenvolver o sentido da proposta do conceito da filosofia.

Ele faz uma espécie de negociação, como estratégia, para conseguir atenção e interesse dos alunos sobre o tema que pretende desenvolver. Nessa negociação, tenta despertar o poder de análise crítica do aluno, utilizando recursos alternativos, como, por exemplo, uma música de Milton Nascimento, “Caçador de Mim”.

Considera que essa análise explora melhor o poder crítico de cada aluno, em vez de propor um questionário que o governo prepara, o qual entende equivocado por ignorar que os alunos vêm do ensino médio sem nenhum conhecimento do que seja filosofia, que, por sua vez, vem carrega a pecha de ciência marginal. Essa marginalização decorre do fato de ser, como ele mesmo expressou: - “apenas uma ciência com a qual, ensina a qual o mundo continua tal e qual”.

A dinâmica usada pelo professor foi a de tentar se parecer com os alunos; apelou para o associacionismo para conquistar empatia, conseguir se envolver com os alunos, porque se colocasse uma postura meio de general, por vezes até gritando para ter a atenção dos alunos, considerava que podia ser ainda pior.

Mesmo com essa dinâmica empregada, ele admitiu ser difícil de manter e controlar os alunos em sala de aula. Primeiro porque eles dão um jeito de sair antes mesmo de o professor entrar na sala, o qual corre o risco de chegar e encontrar a sala vazia. Muitos alunos ficam no corredor, como pude perceber enquanto caminhava até a sala de aula. Claro que não podemos generalizar, tem aulas que, segundo ele, são estupendas - embora eu não as tenha visto.

Não pude perceber uma dinâmica exata que sirva para todos os professores, ou seja, cada um tenta, à sua maneira, chegar ao seu resultado. Inclusive, um aluno veio reclamar com ele sobre a professora de educação física que teria sido meio general e jogado uma bola na cara de um aluno - tudo muito confuso e misturado ao tema que o professor estava escrevendo no quadro.

Mencionou que tem que utilizar do quadro, pois não dá para fazer só conversas e falar de conceitos, uma vez que os alunos não anotam. Se pede para que anotem, tem de parar o tempo todo, porque eles não têm o habito de anotar, por não ser prática na escola, apenas na faculdade - desabafa.

A “realidade é drástica, é caótica, e o professor tem que gerenciar primeiro o caos, tem que, literalmente, se “virar””.

Nesse contexto, o professor apela para a empatia, a fim de se aproximar dos alunos, visando a atingir o objetivo de ter as notas que os alunos precisam. É um estimulo resposta constante para conseguir o que quer dos alunos.

Embora eu tenha tido o desprazer, segundo o professor, de ter pegado a pior turma, esta serviu para que eu visse o real que, infelizmente, se encontra nas salas de aula atualmente: há uma falta de responsabilidade, de respeito para com o professor e, principalmente, de compromisso pessoal em evoluir e ser um indivíduo melhor.

Observei que há uma liberdade exacerbada, na qual o que vigora é o ser rebelde como forma de mostrar a sua diferença, não existindo uma valorização da diferença pela excelência. Poderia associar a uma espécie de modismo entre os adolescentes, como um reflexo condicionado, quando ouvem alguém se levantar, também se levantam; se um aluno pela rebeldia consegue atenção e até parece que ele se destaca, os outros vão atrás para se sentirem inclusos dentro desse contexto. Claro que esses são comportamentos típicos do adolescente, por estarem no processo de formação da sua personalidade e para que não se sintam excluídos

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