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República de Platão (resumo e excerto)

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Por:   •  15/12/2014  •  Seminário  •  4.224 Palavras (17 Páginas)  •  334 Visualizações

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A República de Platão (resumo e excertos)

Sócrates é um dos fundadores da ética, entendida como filosofia moral, na medida em que consolidou a noção de que existe uma vinculação necessária entre Justiça e Razão. A Justiça, assim como a Verdade e a Beleza, pode ser conhecida por nós, e conhecê-la é um requisito necessário para que possamos distinguir o justo do injusto. Essa tese domina os debates acerca da filosofia prática desde a época grega, e não seria exagerado afirmar que ela define a própria possibilidade da Ética, ou seja, de um discurso filosófico que toma o Bem como um objeto a ser conhecido. Esclarecer o Bem, definir sua natureza, determinar seus limites, revelar seus fundamentos: essas são as questões em torno das quais os filósofos morais se debatem.

No livro I da República, começa um diálogo sobre a justiça, em que Sócrates debate com Polemarco acerca de se a justiça é “restituir a cada um o que se deve”. Sócrates desconstrói essa ideia, mostrando que ela de fato significa a de “restituir a cada um o que lhe convém”(332a) e que isso facilmente se converte em “auxiliar os amigos e prejudicar os inimigos” (334b), mas que “fazer o mal não é a ação do homem justo, quer seja a um amigo, quer a qualquer outra pessoa” (335d), pois “em caso algum nos pareceu que fosse justo fazer mal a alguém” (335e). Nesse ponto do diálogo, Trasímaco intervém no debate, criticando a posição de Sócrates e o afirmando:

Se na verdade queres saber o que é a justiça, não te limites a interrogar nem procures a celebridade a refutar quem te responde, reconhecendo que é mais fácil perguntar do que dar a réplica. Mas responde tu mesmo e diz o que entendes por justiça. (336c)

Sócrates então sugere que não tem forças para tanto, ao que Trasímaco responde ironicamente dizendo: “Eu bem o sabia, e tinha prevenido os que aqui estão de que havias de te esquivar a responder, que te fingirias ignorante” (337a). Depois de um breve embate, Trasímaco termina por apresentar sua posição, sendo “evidente que desejava falar para se cobrir de glória, pois supunha que daria uma resposta admirável” (338a). Diz então uma das mais célebres frases da filosofia moral: “Afirmo que a justiça não é outra coisa senão a conveniência do mais forte” (338c), e esclarece essa posição:

Certamente que cada governo estabelece as leis de acordo com a sua conveniência: a democracia, leis democráticas; a monarquia, monárquicas; e os outros, da mesma maneira. Uma vez promulgadas essas leis, fazem saber que é justo para os governos aquilo que lhe convém, e castigam os transgressores, a título de que violaram a lei e cometeram uma injustiça. Aqui tens, meu excelente amigo, aquilo que eu quero dizer, ao afirmar que há um só modelo de justiça em todos os Estados - o que convém aos poderes constituídos. De onde resulta,

para quem pensar corretamente, que a justiça é a mesma em toda parte: a conveniência do mais forte. (339a)

No curso do debate que se segue, Trasímaco avança sua argumentação dizendo que:

A maneira mais fácil de aprenderes [se é mais vantajoso ser justo ou injusto] é se chegares à completa injustiça, aquela que dá o máximo de felicidade ao homem injusto, e a maior das desditas aos que forma vítimas das injustiças, e não querem cometer actos desses. Trata-se da tirania, que arrebata os bens alheios pela fraude e pela violência, quer sejam sagrados ou profanos, particulares ou públicos, e isso não são poucos, mas de uma só vez. Se alguém for visto a cometer qualquer destas injustiças de per si, é castigado e recebe as maiores injúrias. Efetivamente, a quem comete qualquer destes malefícios isoladamente, chama-se sacrílego, traficante de escravos, gatuno, espoliador, ladrão. Mas se um homem, além de se apropriar dos bens dos cidadãos, faz deles escravos e os torna seus servos, em vez destes epítetos injuriosos, é qualificado de feliz e bem-aventurado, não só pelos seus concidadãos, mas por todos os demais que souberam que ele cometeu essa injustiça completa. É que aqueles que criticam a injustiça não a criticam por recearem praticá-la, mas por temerem sofrê-la. Assim, Sócrates, a injustiça, quando chega a um certo ponto, é mais potente, mais livre e mais despótica do que a justiça, e, como eu dizia a princípio, a vantagem do mais forte é a justiça, ao passo que a injustiça é qualquer coisa de útil a uma pessoa, e de vantajoso." (344a-c)

Na sequência, Sócrates combate o argumento de Trasímaco. Entre as várias linhas argumentativas, destaca-se uma que sempre é retomada nos diálogos platônicos, que é o pressuposto de que cada coisa, assim como cada ocupação humana, tem uma função que lhe é própria e que é justamente aquilo que ela executa melhor do que todas as outras (353b). Assim, se algo tem uma função, então esse algo deve ser dotado também de uma excelência (areté).

Neste ponto, Sócrates pretende dar o golpe final na argumentação de Trasímaco afirmando que a função da alma é governar e que, portanto, a alma excelente conduzirá à boa vida e, assim, à felicidade.

A alma tem uma função, que não pode ser desempenhada por toda e qualquer outra coisa que exista, que é a seguinte: superintender, governar, deliberar e todos os demais actos da mesma espécie. Será justo atribuir essas funções a qualquer outra coisa que não seja a alma, ou devemos dizer que são específicas dela?

- À alma, e a nenhuma outra coisa.

- E agora quanto à vida? Não diremos que é uma função da alma?

- Acima de tudo – respondeu.

- Logo, diremos também que existe uma virtude da alma?

- Di-lo-emos.

- Então, ó Trasímaco, a alma algum dia desempenhará bem as suas funções, se for privada da sua virtude própria, ou é impossível?

- É impossível.

- Logo, é forçoso que quem tem uma alma má governe e dirija mal, e, quem tem uma boa, faça tudo isso bem.

- É forçoso.

- Não concordamos que a justiça é uma virtude da alma, e a injustiça um defeito.

- Concordamos, efectivamente.

- Logo, a alma justa e o homem justo viverão bem, e o injusto mal.

- Assim parece, segundo o teu raciocínio.

- Mas sem dúvida o que vive bem é feliz e venturoso,

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