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TRABALHO DE ETICA

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Por:   •  30/5/2014  •  1.592 Palavras (7 Páginas)  •  262 Visualizações

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Tudo bem que nas pesquisas de opinião uma grande parte dos americanos diga que Bill x Monica é um problema exclusivo do casal Clinton. As pesquisas desse tipo são muito exatas para captar o que as pessoas dizem e relativamente precisas para apontar o que elas pensam. São clamorosamente falhas quando se trata de medir o que elas fazem. Se essa atitude relaxada do público americano, que absolve um presidente adúltero e molestador sexual, fosse genuína, os Estados Unidos seriam um país diferente do que realmente são. Na prática, no cotidiano das repartições públicas e das universidades, nas empresas, nos lares e nos tribunais de Justiça, os pequenos Bill Clinton americanos estão sendo discriminados, ferozmente caçados, processados, multados e presos. Os delitos? Alguns são sérios. Em sua maioria, são infrações mais brandas e difusas do que as confessadas pelo presidente em rede nacional de televisão na segunda-feira passada. Pelo que sugerem as pesquisas, o reino do politicamente correto, com sua polícia do pensamento e tolerância comportamental zero, chegou ao fim nos Estados Unidos. A verdade: está mais forte do que nunca.

A cada dia sessenta novos casos de abordagem indesejada de natureza sexual são registrados nos tribunais do país. Sete em cada dez diretores de departamento de pessoal dão conta de ter recebido pelo menos uma acusação formal de ataque sexual contra algum funcionário da empresa nos últimos doze meses. Oito em dez universidades americanas estão investigando problemas semelhantes. As 500 maiores companhias americanas separaram no ano passado, em conjunto, 30 bilhões de dólares para gastar com ações desse tipo envolvendo seus empregados. Pelo menos 10 bilhões em indenizações foram efetivamente pagos. Empresas gigantescas, como a General Motors e a cadeia de supermercados Wal-Mart, baixaram normas internas que regulam fortemente o contato interpessoal. Em algumas situações, os funcionários homens são desaconselhados a entrar num elevador quando lá dentro estiver uma mulher desacompanhada. "Nunca se sabe. Pode haver um mal-entendido que resulte numa ação que vá custar milhões à empresa. Os elevadores são vigiados por câmeras de vídeo, mas elas não têm som", diz o advogado trabalhista Richard Ternos, que se especializou em redigir normas de conduta preventivas de comportamento para empresas assustadas com o patrulhamento sexual. O objetivo é manter homens e mulheres — e, mais recentemente, homens e homens, mulheres e mulheres — o mais isolados possível enquanto estiverem no ambiente de trabalho.

Os processos que chegam aos tribunais são muitas vezes incompreensíveis para a maioria dos habitantes do planeta. O código de conduta pessoal no trabalho nos Estados Unidos desafia o entendimento de brasileiros, franceses, ingleses, alemães e japoneses. Tanto é assim que as ações por assédio sexual de maior vulto que resultaram recentemente em ressarcimento financeiro tiveram como réus empresas ou executivos estrangeiros. O maior acordo do tipo foi firmado pelo governo americano com a indústria automobilística japonesa Mitsubishi no mês passado. Os japoneses aceitaram pagar 34 milhões de dólares a funcionárias que se julgaram molestadas por superiores na linha de montagem da empresa no Estado de Illinois. O caso da Mitsubishi é típico do ambiente de confusão que se criou nessa questão do relacionamento interpessoal nos Estados Unidos. Exasperadas com a publicidade negativa, as empresas fazem tudo para obter um acordo o mais rapidamente possível. Os episódios nunca são suficientemente explicados, não se exigem provas e, como regra geral, quando uma mulher vence uma ação, ela gera dezenas e até centenas de outras. O da Mitsubishi começou com a reclamação de uma única funcionária contra um supervisor que, de acordo com os relatos feitos à Justiça, era realmente um sujeito grosseiro. Ele segurava as funcionárias, gritava com elas e sua sala era decorada com pôsteres francamente pornográficos. Tentou beijar uma delas à força. Quando a notícia da ação se espalhou, apareceram 25 outras mulheres alegando ter sido atacadas pelo maníaco da linha de montagem. Ao final de oito meses, eram 500 as supostas vítimas — e 26 os réus.

O processo contra a Mitsubishi é ilustrativo também de como uma atitude positiva, a proteção da mulher indefesa contra chefes poderosos e predadores, degenerou numa paranóia coletiva nos Estados Unidos. A mesma sociedade que absolve Bill Clinton nas pesquisas bane obras de arte consagradas de Matisse e Goya por exibir mulheres nuas, pune crianças do pré-primário que dão um beijo na coleguinha e engessa todos os relacionamentos fortuitos num clima de pavor. O resultado é um ambiente judicial que protege excessivamente as pessoas e ameaça criar uma geração de mulheres temerosas da própria feminilidade e incapazes de se defender do mais parvo dos namorados ou colegas de trabalho(veja texto da escritora americana Camille Paglia). O exagero impera sobre o bom senso. "Johnathan é um predador sexual precoce", decretou Jane Martin, a diretora da escola onde o "tarado do parquinho", Johnathan Prevette, estudava na Carolina do Norte. Qual foi exatamente seu crime? Num dia ensolarado qualquer da primavera de 1996, no intervalo das aulas, quando brincavam no playground da escola, Johnathan lascou um beijo na bochecha rosada de uma colega. O caso deu polícia. O beijoqueiro foi suspenso das aulas e encaminhado ao departamento de correção estadual. Johnathan tinha 6 anos de idade.

O escritor Norman Mailer e outros intelectuais revolucionários, tanto na arte quanto na política, em seu tempo diagnosticaram que a paranóia sexual nos Estados Unidos é apenas uma variante de um outro retrocesso: o movimento politicamente correto. "Ambos começaram como movimentos em favor da decência da sociedade e protetores dos mais fracos. Ambos degeneraram em fascismo", diz Mailer. Uma pessoa politicamente correta, PC, não faz piadas racistas ou de conteúdo sexual e evita palavras que contenham insinuações culturais negativas. Há todo um dicionário de termos que são considerados corretos e devem ser rigidamente obedecidos pelos que não querem ser vistos como aberrações(veja quadro).

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