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TRABALHO SOBRE O BRASIL DE MONTAIGNE

Por:   •  22/6/2020  •  Dissertação  •  1.151 Palavras (5 Páginas)  •  269 Visualizações

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Descrição da atividade: leitura, análise e dissertação sobre o artigo de Frank Lestringant: “O Brasil de Montaigne”.

A ética enquanto expressão (caráter) do ser, individualmente construída a partir de questões culturais delegadas e admitidas coletivamente, sob influências de diversas áreas do conhecimento filosófico; norteia a análise dos escritos de Michel E. de Montaigne (1533-1592) sobre o Brasil como nos apresenta a obra “O Brasil de Montaigne”, de Frank Lestringant (1951-). O cerne dessa se concentra nas relações entre questões estéticas (estereótipos) e questões ético-morais sobre aspectos da cultura, e influências relacionadas, no Brasil do século XVI. Questões como honra, fidelidade, amizade, liberdade, igualdade, justiça, política, religião, economia, educação, sociedade e a própria cultura da época, alimentam e marcam conflitos históricos, fornecendo insumos epistemológicos para o típico ser humano inserido na aldeia global do século XXI. Como isso é possível? Escolhas determinadas por ideais de sociedade. Se não se porta como um europeu, se é selvagem; e dessa premissa, toda a história sóciocultural brasileira se molda aos dias atuais, influenciada por posturas éticas e morais, em sua maioria “importadas”. Sobre uma discussão histórica e atualmente motivo de movimentos sociais e de direitos humanos, a questão do negro e do indígena no Brasil, Margaret Bresser, em sua obra Pequena Enciclopédia para Descobrir o Brasil, 2006, descreve as condições desumanas às quais o escravo africano era contrabandeado. Em sua síntese, afirma que eles eram arrancados de sua terra e submetidos tanto a viagens insólitas e mortais quanto a castigos cruéis, quando chegavam vivos ao Brasil; descreve que nosso país foi aquele que mais recebeu escravos por contrabando/tráfico (importou) quando comparado aos Estados Unidos da América ou à América espanhola, por exemplo. A autora também descreve sobre a tentativa anterior de escravização, a indígena, pelos bandeirantes, durante a maior parte do século XVI; estes aos poucos sendo substituídos pelos negros africanos, visto que escravos indígenas passaram a ser “mais baratos”. O que inicialmente era uma “relação de troca” com colonizadores europeus, passa a ser de submissão e, tão logo, escravidão, diante da invasão de suas terras pelos estrangeiros, que alegavam serem os “donos” das mesmas. Os quilombos, por exemplo, referenciados como refúgio exclusivo de negros fugidos, também recebia escravos indígenas. Em 1570, dom Sebastião, rei de Portugal, entre um dos seus decretos a respeito das condições indígenas, permitiu que se aprisionassem esses nativos brasileiros caso, por exemplo, matassem e comessem cristãos em seus rituais antropofágicos. Essas questões põem em xeque a visão hedônica de muitos escritos históricos sobre o descobrimento das Américas, e do Brasil. À época na história da Filosofia, de transição da Idade Média para o Iluminismo, conhecida como Renascimento, por volta dos séculos XV-XVII, deve ser analisada sob enfoque humanista, visto que esse período valorizava o ser humano; a análise intelectualista se voltou para questões morais puramente determinantes à construção de um novo modelo histórico-social, não cabia à Teologia (dogmas, tabus) continuar essa análise-descrição; também havia o receio de se “descobrir o Novo”, sob justificativa de se perder os valores morais legitimados. Como nos apresenta Lestringant, A imagem do mundo em movimento expressa perfeitamente o estado de espírito de Montaigne diante das profundas transformações de sua época. A imagem da terra jamais havia exibido tal instabilidade. Por culpa, em primeiro lugar, das grandes navegações, que estilhaçaram o mundo fechado da Idade Média. Já não há mais um único continente(...). Montaigne está sempre pronto a recorrer a lugares retóricos (...). Todos contêm uma porção limitada de verdade, e uma vasta porção de mentira. Todos são úteis para pensar o impensável. Mas nunca passam de aproximações, que é preciso corrigir após terem sido expressas e que, de todo modo, se contradizem e se anulam quando postas em seqüência, como Montaigne se compraz em fazer. Parafraseando Frank Lestringant, “o lugar-comum primitivista não passava de mera etapa no raciocínio (...) representa o momento da tábula rasa, a partir do qual se torna possível a reconstrução antropológica”. A prática de valores morais como honra, liberdade e igualdade podem ser considerados “os mesmos” entre indígenas e europeus, o significado dentro de cada sociedade. Isto é, honra, liberdade e igualdade para o europeu da época renascentista, pós Peste Negra, tinha um significado nacionalista significativo, que valorizava ideais gregos clássicos que, inclusive, levaram a conflitos pela sobrevivência; não opostos às práticas indígenas sobre os mesmo valores, nas Américas, conforme descrições sobre seus hábitos e costumes, dentro das tribos e entre as tribos. A destruição de falsas evidências acontece processualmente, pelos estudos antropológicos, em especial os etnográficos, a partir do desenvolvimento científico, que culmina na percepção de um novo modelo de sociedade, a moderna, cujos valores serão colocados em prática a partir do exercício do pensamento, da retomada de posturas e ações anteriores e a reflexão crítica sobre os mesmos, a fim de romper com situações de violência e promover o que a Sociologia analisa como relativismo cultural; relacionado ao reconhecimento, respeito e aceitação “do diferente”. De acordo com a perspectiva de Montaigne, um testemunho verdadeiro somente poderá advir de um raciocínio sem preconceitos. As culturas, europeia e brasileira, se influenciaram mutuamente, tanto que é necessária uma análise histórica para apreender a origem de festividades, crenças religiosas, danças, alimentação típica, e outros; bem como com outras culturas. A sensação estética quanto ao primitivismo do indígena brasileiro frente os hábitos europeus é de provocar espanto num primeiro contato, assim como entre outras culturas; mas para além desse contato inicial, se faz necessário participar, e compartilhar, das experiências dos seus indivíduos a fim de compreender e respeitar suas atividades sociais. Para Montaigne, um “viver bem” era sinônimo “daquele que traduz, transmite e, principalmente, atualiza a linguagem humana nos seus elementos comuns (...), dado no mundo da vida” (MOURA, 2013). Diante dessa análise, é válido contextualizarmos nossa retórica a partir daquilo que os livros didáticos de Ciências Humanas (História, Geografia, Sociologia e Filosofia) apresentam aos docentes e estudantes do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras, a partir da visão unidirecional a respeito do processo de colonização do Brasil e dos seus indígenas, enquanto “recurso pedagógico de suporte” ao trabalho de ensino e aprendizagem. As mídias sociais e ferramentas de pesquisa na internet auxiliam o professor em suas aulas, fornecendo possibilidade de reflexão crítica a partir do confronto e debate de ideias expostos por diferentes escritores desses temas; inclusive, contribuem aumentando as possibilidades de acesso a informações diversas. Com base na explanação sobre o presente estudo, podemos salientar a importância da observação antropológica e filosófica sobre os fenômenos históricos diversos que envolvem aspectos éticos e morais em diferentes culturas ao longo do tempo histórico, descritos a partir de percepções diversas, que, ao invés de cercearem o pensamento, devem ser tomados como possibilidades de compreensão real sobre um povo, uma sociedade, um mundo. O momento ímpar que foi o Renascimento para a história do pensamento humano, abriu o leque de possibilidades pelas quais hoje o ser humano caminha em sua jornada pela igualdade/equidade entre os povos.

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