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Fichamento "O Horizonte da Crítica Radical", Geografia e Modernidade

Por:   •  20/9/2015  •  Pesquisas Acadêmicas  •  2.251 Palavras (10 Páginas)  •  1.313 Visualizações

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Disciplina: Geografia

Turma:  Diurno          Noturno

Prof.

Referências Bibliográficas

Gomes, P.C. da C. O horizonte da crítica radical. In:______. Geografia e Modernidade. 6ª Ed. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2007. Pp, 274-303.

O Horizonte da Crítica Radical

      A partir da década de 60 o progresso industrial começou a perder seu impacto e a Nova Geografia começa a mostrar suas limitações. Surge então um novo modelo de pensamento geográfico, a Geografia Crítica, também conhecida como Geografia Marxista.

      Ela se opõe à Geografia Clássica e a Nova Geografia ao mesmo tempo, e busca fundar uma nova ciência baseada no método histórico dialético, que devia estar de acordo com as bases de uma nova sociedade, visando um saber a serviço de uma transformação social e não de uma visão que buscava manter as estruturas sociais existentes. Com a decadência da Nova Geografia surgiram muitas críticas que podem ser reunidas em dois grupos: o teórico-metodológico e o do domínio prático ideológico da Nova Geografia. O primeiro diz respeito à utilização de modelos econômicos de inspiração neoliberal ou neoclássica. Que pressupõem um comportamento social perfeitamente racional, que busca a satisfação de suas necessidades por uma via analítica, racional e objetiva. A maioria desses modelos supõe uma difusão igualitária da informação e um espaço isomórfico. “O espaço isomórfico dos modelos não se assemelha em nada à imagem da realidade de um espaço carregado de valores, tradições, hábitos, etc.” (pag.276).
     Os princípios que sustentam os modelos teóricos mais prestigiados da geografia moderna foram com isso visto com desconfiança, além de serem acusados de se apoiarem em bases falsas. Esta crítica diz que os conjuntos dos instrumentos quantitativos seriam uma roupagem renovada das velhas questões da geografia clássica, não passando assim de uma “falsa renovação”. Para os críticos a objetividade, na verdade traduzia um compromisso com um ponto de vista da classe dominante.
A ciência analítica para os críticos é uma ciência vinda de uma sociedade desigual, a qual uma pequena porção da população privilegiada tem o poder sobre o conhecimento cientifico. Sendo assim o discurso da objetividade é constituído sob aparência tendo como principal objetivo justificar e reproduzir “cientificamente” as estruturas sociais e de poder já existentes. “Os modelos de desenvolvimento estudados pela Geografia sob esta perspectiva buscam, assim, dar apenas uma aparência de “naturalidade” ao desenvolvimento do capitalismo” (pag.278). Para os críticos, o positivismo busca dar uma “naturalidade” ao desenvolvimento capitalista; em seu discurso enfatizam que a Ciência em sua forma dominante se traduz como um instrumento de alienação social, seus métodos positivistas servem para disseminar modelos de desigualdade social e espacial. Esse discurso enfatiza que a verdadeira revolução na metodologia da geografia moderna só chega a partir da crítica radical, pois tem a funcionalidade de uma política revolucionária que trata de um conhecimento a serviço de uma transformação social.

      Contrários a Geografia Tradicional, como também a Geografia Quantitativa, os críticos concluíram que esta Ciência precisava se adequar de acordo com a Sociedade da atualidade; assim pensou-se em produzir um método de análise infalível, rigoroso e preciso como também um método que se prioriza a transformação social, e não mais um conhecimento destinado a manter as estruturas sociais.

O Discurso Científico do Marxismo

      O filósofo Marx propõe um discurso científico, no qual fornece o otimismo racionalista, a mística da produção, a confiança nos dons inesgotáveis da natureza. Visando o fim do historicismo no qual o pleno emprego das forças humanas colocará fim às condições limitadas das formas de produção. “A perspectiva de Marx é produzir um saber objetivo e racional, objetivo, pois representa a observação do real/histórico; racional, pois é guiado por demonstrações e deduções lógicas, rigorosas e necessárias” (pag. 281). O materialismo histórico e dialético, que é a base do método analítico marxista, operacionaliza e organiza uma estrutura racional de pensamento do real. Ele faz primeiro uma busca por elementos comuns que estruturam o real. Ele permite então uma percepção além da fenomenologia, conseguindo observar verdades essenciais escondidas atrás das aparências. Interpreta, portanto uma realidade última, a qual é revelada através da razão, que reconhece, no movimento caótico da sociedade, os principais fatores de sua organização e desenvolvimento.

      O marxismo afirma que um sujeito do conhecimento, determinado historicamente e contextualizado socialmente, é compreendido pela Ciência, a partir das categorias que o envolvem: a produção, a reprodução, o consumo, a troca, a propriedade, o Estado, o mercado, e as classes sociais. A partir do raciocínio delas há um raciocínio que se desenvolve em uma cadeia de determinações entre elas. “No plano teórico, a Ciência que se inspira no marxismo busca as determinações atuantes sobre os elementos, como as regras do movimento geral do sistema social: a lei da acumulação, a lei da composição orgânica do capital, a lei dos rendimentos decrescentes, as leis da renda diferencial, etc. através delas, podem ser gerados modelos abstratos prospectivos” (pag.283). O suporte do sistema materialista-histórico é dado pelas regras que esclarecem o tipo relação de produção diante do desenvolvimento das forças produtivas; esses dois elementos são os termos fundamentais que descrevem o modo de produção, como também constituem a causa da dialética. No final dos anos sessenta e na década de setenta, o marxismo exerceu forte influência sobre as Ciências Sociais.

Geografia Radical e o Uso Político do Espaço

      Yves Lacoste em 1976 com o lançamento da revista Hérodote se transforma em um símbolo do inicio da Geografia Crítica na França. A matriz da Geografia Crítica tem em grande parte, a aceitação do marxismo como base do estabelecimento cientifico. Ela propõe um modelo de análise que busca ser rigorosamente científico e revolucionário. Não propõe uma falsa neutralidade diante das questões políticas e sociais. Essa corrente tende a analisar o espaço a partir das relações da sociedade, dos modos de produção, da economia entre outros fatores. Ela tende assim a ir para o conceito de espaço social, a fim de explicar a dinâmica social que esta explicita em um espaço que é reprodutor de desigualdades. O conceito de região limita a uma única escala, ocultando o papel do Capitalismo.

      “A partir dos anos setenta, a preocupação com o viés político começa a se inscrever mais profundamente no campo de pesquisas geográfico, após um relativo domínio da economia” (pag. 287). Lacoste afirma que o estudo marxista na Geografia pode levar a supervalorização da História ou da Economia política, perdendo assim sua eficiência explicativa, vindo a trabalhar talvez somente com a causalidade histórica e econômica, que pode levar a uma conduta metodológica tradicional vidaliana. Para Gomes, a Geografia deve possuir seu próprio modelo de interpretação sem romper com o sistema explicativo do marxismo, visto que este está tradicionalmente ligado a um viés explicativo político e histórico; daí a Geopolítica que é uma das formas explicativas mais importantes da Geografia, visto que esta permite entender as relações recíprocas entre o poder político nacional e o espaço geográfico. Com a reabilitação deste campo original da Geografia, os geógrafos atingiriam a dimensão esquecida da análise política, como nas obras de Humboldt, Ratzel e Reclus. Lacoste se esforçou em demonstrar a relação estreita que existe entre o espaço e o poder político, usando elementos didáticos, como o estudo de mapas e a consideração dos fenômenos em diferentes escalas, onde a verdade está em função da interação entre a prática científica e transformação social.

A Corrente Radical Marxista

      Esta corrente detém características semelhantes à precedente, só que os geógrafos eram em sua maioria anglo-saxônicos, também criticaram a Geografia Tradicional e a Nova Geografia, estes geógrafos tinham conhecimento de que, o que era produzido antes na Geografia, sofria forte influência da ideologia dominante, que por ser um conhecimento estratégico, estes que detinham o poder, a manipulavam. “Assim como o radicalismo francês, a corrente anglo-saxã acreditava que uma revolução científica deveria ser definida por uma nova prática dos geógrafos, resultado de um compromisso social do saber” (pag. 291); porem essa aceitação introduz elementos muito diferentes daqueles que integravam a crítica francesa. “A Geografia radical, sob a influência direta do marxismo, propõe um novo modelo de análise espacial que pretende, ao mesmo tempo, ser rigorosamente científico e revolucionário” (pag.292). “Para os Geógrafos marxista a combinação da perspectiva materialista e do método dialético permite o desenvolvimento de uma teoria não-ideológica; isto é, materialismo dialético, a base filosófica de uma Ciência social verdadeiramente científica” (pag.292).  Conforme De Koninck, este método era compreendido por grande parte dos geógrafos como uma arte, a arte do detalhamento, as monografias eram utilizadas pelos geógrafos, onde praticavam seus talentos artísticos literários. “A Geografia Tradicional era, assim, vista como uma Ciência reacionária que pretendia afirmar a natureza imutável das relações entre o homem e a terra” (pag. 293). Segundo os críticos radicais, apesar dos geógrafos da Nova Geografia terem avançado em relação a perspectiva tradicional, quando comparados aos artistas das monografias regionais, quanto a qualidade da explicação permaneceu simplista e fatalista como na corrente clássica. A Corrente Radical sempre enfatizou o combate e a defasagem entre a geografia Tradicional e a Geografia Moderna. A utilização do conceito de “modo de produção” foi visto como o meio que permitiria remover todo idealismo da análise geográfica; na análise marxista, o espaço deve ser pensado como um produto social. “A Geografia Radical marxista trouxe uma verdadeira contribuição para a análise espacial” (pag. 299).

A Nova Perspectiva Para a Análise Marxista

      “A partir dos anos oitenta, a influência do marxismo na Geografia, principalmente anglo-saxã, apresentou novos aspectos e a crítica radical tomou outras direções” (pag.298). Dois períodos são identificáveis nesse percurso: no primeiro o marxismo tende a ver uma dominação dos fatores econômicos na organização da vida social e do espaço. Uma formação social só pode se concretizar em relação a um território e há um processo histórico único de composição da formação social e de seu território. Se tratando de uma análise que confere a importância aos fatores econômicos, todas as diferenças possíveis do espaço físico se dissolvem na análise econômico-social. As análises urbanas se direcionam deliberadamente para uma concepção que prioriza os conflitos cidade/campo, nos quais o urbano em papel predominante. “Na teoria marxista clássica, a predominância urbana resulta da hegemonia do capital industrial no processo de acumulação. Contudo, a partir dos anos setenta, a hegemonia é antes exercida pelo capital financeiro, que induz a uma nova dinâmica espacial, com uma flexibilidade, uma rapidez e uma mobilidade espacial desconhecidas da teoria marxista tradicional” (pag. 299). A região volta a ter sua importância graças ao conceito de desenvolvimento espacial desigual no campo da análise marxista.

      “O materialismo histórico e o humanismo moderno partem de uma mesma crítica, a recusa da Ciência positivista, e podem, sob alguns aspectos, ser considerados como perspectivas complementares. O materialismo histórico redescobriu a reflexibilidade de toda ação social e, por conseguinte, a importância de uma análise que leve em conta o valor e o antropocentrismo da vida social” (pag. 301).

      A Geografia abandonou o projeto de construir, por intermédio direto do marxismo; hoje, os geógrafos que invocam o marxismo o fazem a partir de uma perspectiva muito mais reduzida, como filiação ideológica ou como uma inspiração de ordem geral. Não existe mais a crença em uma única via metodológica, como sendo aquela da verdadeira Geografia, se aceita a importância e a riqueza de outras condutas possíveis para a Geografia. A suposta revolução do conhecimento geográfico pela teoria e a prática marxista mostra claramente sinais de esgotamento; como outras que a antecederam, ela em seus primórdios apresentou-se como a ruptura definitiva e final, cedendo em seguida sob o peso das expectativas, sendo substituída por outra perspectiva.

Questões:

  1. Como era visto o espaço na análise marxista?

R: O espaço era considerado como um produto social, a aceitação de um materialismo dialético supõe que o espaço tem um papel tão ativo quanto os outros elementos das esferas da produção e reprodução social, a Geografia Radical apela assim para o conceito de espaço social, traduzindo uma ideia de dinâmica social inscrita em um espaço, que é ao mesmo tempo reprodutor de desigualdades e condição de superação.

  1. Como era a análise urbana na perspectiva marxista?

R: A análise urbana volta-se resolutamente para uma concepção que dá prioridade aos conflitos Cidade/Campo, nos quais o urbano tem um papel dominante na teoria marxista clássica; a predominância urbana resultada na hegemonia do capital industrial no processo de acumulação.

  1. Qual a importância de Henri Lefebvre na transformação da análise geográfica marxista?

R: Foi fundamental nessa transformação, pois ele distinguiu uma dimensão essencial na construção social da realidade, a produção do espaço, através de um novo modelo definido por uma análise fundada sobre a dinâmica própria à espacialidade. Este modelo restituía ao espaço um papel chave na interpretação da sociedade.

Comentários

A geografia radical veio com novas propostas baseadas no marxismo e no seu materialismo histórico e dialético, sua filosofia: “Reconhecer, para alem das aparências, a essência e a estrutura internas”, girava basicamente em entender a sociedade a partir das diferentes relações sociais de produção no passar dos anos, compreendendo como se relacionam e como se transformam. Porem como outras revoluções sucumbiram sob outras expectativas. Atualmente não existe mais a crença de uma única metodologia, como sendo a verdadeira Geografia, hoje se reconhece a riqueza de outras condutas possíveis na geografia.

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