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Geografia Crítica

Por:   •  24/3/2016  •  Trabalho acadêmico  •  2.129 Palavras (9 Páginas)  •  414 Visualizações

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Campus de Rio Claro – IGCE

Instituto de Geociências e Ciências Exatas

                                     Geografia Crítica

                                                       

Raquel Riemma de Siqueira

Prof. Dr. José C. Godoy Camargo

Bibliografia

Christofoletti, Antônio (organizador). Perspectivas da Geografia. Difusão Editorial São Paulo, 1982.

Diniz Filho, L. L. A Geografia Crítica Brasileira: Reflexões sobre um debate recente. Geografia, Rio Claro, volume 28, pp. 307-321, setembro/dezembro 2003.

Moraes, Antônio Carlos R. Geografia. Pequena história crítica. Hucitec São Paulo, 1987.

Quaini, Massimo. Marxismo e Geografia. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1979.

Santos, Milton (organizador). Novos Rumos da Geografia Brasileira. Hucitec, São Paulo, 1982.

Santos, Milton. Por uma Geografia Nova. Da crítica da geografia a uma geografia crítica. Hucitec, São Paulo, 1980.

Soja, Edward W. Geografias Pós-Modernas. A reafirmação do espaço na teoria social crítica. Jorge Zahar Editor, São Paulo, 1993.

                        “ Toda Ciência, e especialmente a Ciência Social,

                                                    serve a algum propósito político.”                                                            

                                                                        Rchard Peet
                             








A Geografia e o Objeto de Estudo

         Apesar da antigüidade do rótulo Geografia, em termos científicos há uma intensa controvérsia sobre a matéria tratada por esta disciplina. Isto se manifesta na indefinição do objeto de estudo desta ciência, ou melhor, nas múltiplas definições que lhe são atribu

ídas. Muitos autores tratam a Geografia como uma ciência síntese, que trabalha com dados de todas as outras ciências. Por isso muitas vezes é difícil definir apenas um objeto de estudo.
        O primeiro objeto da
Geografia foi o estudo da Terra, pois a própria significação etimológica do termo é descrição da terra. Assim lhe foram atribuídos os estudos de todos os fenômenos manifestados na superfície do planeta.
        Alguns autores definiram a paisagem como objeto de estudo. Esta perspectiva apresenta duas variáveis. Uma se deteria na enumeração dos elementos presentes e na discussão das formas, denominou-se então, morfológica. A outra, se ocuparia mais com a relação entre os elementos, e sua dinâmica, é um estudo do funcionamento da paisagem.
        Outra proposta aceita, na verdade uma variação sutil da anterior, é caracterizada pelo estudo da individualidade dos lugares. Aqui o estudo geográfico deveria cobrir todos os fenômenos que estão presentes numa dada área, tendo por meta compreender o caráter singular de cada porção do planeta.
        Há outras propostas, como o estudo da diferenciação de áreas. Esta perspectiva traz uma visão comparativa para o universo da análise geográfica. Individualiza as áreas, comparando-as com outras. Busca-se as regularidades da distribuição e das inter-relações dos fenômenos.  
        Outros autores definem a Geografia como o estudo do espaço. O espaço seria passível de uma abordagem específica. Há três variantes sobre o assunto, na primeira o espaço pode ser concebido como uma categoria do entendimento, isto é, toda forma de conhecimento efetivar-se-ia através de categorias , como tempo, grau, gênero espaço etc. Na segunda, ele pode ser concebido como atributo dos seres, no sentido de que nada existiria sem ocupar um determinado espaço. E por último, o espaço pode ser concebido como um ser específico do real, com características e com uma dinâmica própria. Esta perspectiva enfatiza a busca da lógica da distribuição e da localização dos fenômenos, a qual seria a essência da dimensão espacial.
        Há ainda autores que definem a Geografia como o estudo das relações entre o homem e o meio, ou, entre a sociedade e a natureza. Dentro desse estudo aprecem três visões distintas do objeto. Alguns autores versam sobre como as influências da natureza agem sobre o desenvolvimento da humanidade. Aqui o homem é posto como elemento passivo, cuja história é determinada pelas condições naturais que o envolvem. Os fenômenos humanos seriam sempre efeitos de causas naturais, isto seria uma imposição da própria definição do objeto, identificado com aquelas influências. Outros autores definem o objeto como a ação do homem na transformação deste meio. Dessa forma, caberia estudar como o homem se apropria dos recursos oferecidos pela natureza e os transforma, como resultado de sua ação. Há ainda, aqueles que concebem o objeto como a relação em si, com os dados humanos e os naturais possuindo o mesmo peso. Aqui, o estudo buscaria compreender o estabelecimento, a manutenção e a ruptura do equilíbrio entre o homem e a natureza. Em todos estes estudos encontramos a idéia de que a Geografia trabalha em conjunto com os fenômenos naturais e humanos.          












































As Origens
       
        A Geografia Crítica nasceu em meados da década de 1970, inicialmente na França e posteriormente na Espanha, Itália, Brasil, México, Alemanha, Suíça e inúmeros outros países. Pode-se dizer que os pressupostos básicos dessa "revolução" ou reconstrução do saber geográfico eram a criticidade e o engajamento. Por criticidade se entendia uma leitura do real, isto é, do espaço geográfico, que não omitisse as suas tensões e contradições, que ajudasse enfim a esclarecer a espacialidade das relações de poder e de dominação. E por engajamento se pensava numa Geografia não mais "neutra" e sim comprometida com a justiça social, com a correção das desigualdades sócio-econômicas e das disparidades regionais. A produção geográfica até então, sempre tivera uma pretensão à neutralidade e costumava deixar de lado os problemas sociais (e até mesmo os ambientais na medida em que, em grande parte, eles são sociais), alegando que "não eram geográficos". É lógico que essa nova maneira de encarar a geografia não surgiu do nada. Ela se enraizou e floresceu num contexto de revisão de idéias e valores: o maio de 1968 na França, as lutas civis nos Estados Unidos, os reclames contra a guerra do Vietnã, a eclosão e a expansão do movimento feminista, do ecologismo e da crise do marxismo. E ela se alimentou de muito do que já havia sido feito anteriormente, tanto por parte de alguns poucos geógrafos quanto por outras correntes de pensamento que podem ser classificadas como críticas. Desde o seu nascimento, a Geografia Crítica encetou um diálogo com a Teoria Crítica, isto é, com os pensadores da Escola de Frankfurt, com o anarquismo (Réclus, Kropotkin), com Michel Foucault, com Marx e os marxismos, com os pós-modernistas e inúmeros outras escolas de pensamento inovadoras. Mas ela principalmente representou uma abertura para os movimentos sociais: a luta pela ampliação dos direitos civis e principalmente sociais, pela moradia, pelo acesso à terra ou à educação de boa qualidade, pelo combate à pobreza, aos preconceitos de gênero, de cultura/etnia e de orientação sexual, etc.
        Quase ao mesmo tempo, embora alguns anos antes, surgia na Grã-Bretanha e principalmente nos Estados Unidos a chamada Geografia Radical, que significou uma reação de alguns geógrafos contra o excesso de quantitativismo, contra a denominada Geografia pragmática, ou quantitativa, que predominou nesses países nos anos 1960 e na primeira metade da década de 70. Também a Geografia radical reprochou a pretensa neutralidade da tradição geográfica e, principalmente, o comprometimento implícito dessa Geografia quantitativa com o poder instituído, com o Estado capitalista e com as grandes empresas. Era preciso revirar a geografia, afirmava-se, usá-la a favor dos dominados, dos oprimidos ou, atualmente, dos excluídos. Da mesma forma que a Geografia crítica, a Geografia radical buscou subsídios tanto nos movimentos populares e sociais quanto nas correntes radicais de pensamento, em especial o marxismo. Neste ponto, ela diferiu um pouco da Geografia crítica, pois esta desenvolveu-se de forma um pouco mais aberta e pluralista, tendo maior convívio com outras correntes de pensamento e, inclusive, demonstrando sérias restrições ao socialismo real e ao marxismo "oficial" ou ortodoxo. Além disso, a Geografia crítica sempre insistiu na renovação escolar, na crítica à escola e à geografia tradicionais, na necessidade de um novo ensino voltado para desenvolver no educando a capacidade de crítica, a inteligência no sentido amplo do termo (ao invés de mera capacidade de memorização) e, no final das contas, o senso de cidadania plena. Já a Geografia radical pouco se preocupou com o ensino. O seu grande adversário era a Geografia pragmática e não o tradicionalismo nas escolas fundamentais e médias e, por tabela, no ensino universitário. É sintomático o fato de que na última década do século XX, quando começou a ocorrer um forte movimento de reconstrução do sistema escolar estadunidense e a sua abertura à revolução técnico-científica, à globalização e inclusive aos direitos humanos, os educadores e geógrafos escolares nesse país tiveram que buscar subsídios em outras sociedades, na França, na Alemanha, na Espanha e até mesmo no Brasil. Isso porque, nestes sistemas nacionais de ensino, a disciplina geografia nunca chegou a ser completamente eliminada e, além do mais, ocorreram aí nos anos 80 vigorosos movimentos de renovação na geografia escolar, algo que os Estados Unidos não vivenciaram nesse período.    

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