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A Negação Do Espaço Urbano: A Imagem De Morar Nos Periódicos De Arquitetura No Brasil. Denial Of Urban Space: The Image Of Living In The Journals Of Architecture In Brazil. Rafael Alves Pinto Junior, Orientador: Élio Cantalício Serpa.

Artigo: A Negação Do Espaço Urbano: A Imagem De Morar Nos Periódicos De Arquitetura No Brasil. Denial Of Urban Space: The Image Of Living In The Journals Of Architecture In Brazil. Rafael Alves Pinto Junior, Orientador: Élio Cantalício Serpa.. Pesquise 860.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  8/7/2014  •  6.520 Palavras (27 Páginas)  •  646 Visualizações

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A negação do espaço urbano: a imagem de morar nos periódicos de arquitetura no Brasil.

Denial of urban space: the image of living in the journals of architecture in Brazil.

Rafael Alves Pinto Junior, orientador: Élio Cantalício Serpa.

Resumo – Imersas no universo da Indústria Cultural, as revistas dedicadas à divulgação da arquitetura residencial para o grande público no Brasil criaram modelos ideais de morar. Estes modelos constituíram-se em práticas discursivas capazes de constituírem práticas sociais. Mais que conceitos, construíram todo um imaginário ligado ao morar onde morar bem significou morar junto ao mundo natural. Somente separado das dificuldades dos espaços urbanos – mas evidentemente ligados a eles – o habitar poderia encontrar sua máxima realização.

Palavras-chave – representação, imaginário, arquitetura e imprensa.

Abstract - Immersed in the world of Cultural Industry, the magazine dedicated to the dissemination of residential architecture for the general public in Brazil created ideal of living models. These models were constituted in discursive practices that constitute social practices. More than concepts, they built a whole imaginary connected to live where to live well meant living with the natural world. Only separate the difficulties of urban spaces - but evidently attached to them - dwelling could find their ultimate fulfillment.

Keywords - representation, imagery, architecture and media.

Como deveria ser a casa dos sonhos de muitos brasileiros? Qual forma deveria ter? Onde poderia ser construída? Um chalé cercado de verde onde se podia ouvir os pássaros, cultivar as próprias hortaliças e aproveitar o tempo junto à natureza; uma casa na praia em contato com o infinito do firmamento refletido no espelho das águas do oceano; ou na cidade, uma casa neoclássica, normanda, ou tailandesa, protegida dos malefícios e das agruras do espaço urbano, em contato com a família e com os amigos? Moderna ou rústica? Futurística, controlada por computadores ou antiga, sem energia elétrica? Uma simpática casa pré-fabricada simplesmente colocada ao lado de um riacho ou uma imponente casa senhorial, como “aquelas de cinema”?

Este questionamento da Diretora de Redação de Arquitetura & Construção em meados da década de 1990 praticamente resume as diretrizes de todas as publicações dedicadas a divulgar a arquitetura ao público leigo. As revistas disponibilizavam diversos estilos, modos de viver no espaço e maneiras de se relacionar com ele: aos leitores, a inspiração além da informação que os motivava a abrir as páginas. Com isto, fizeram mais. Mostraram não apenas como se vivia – ou se pretendia viver - dentro das casas, mas o que elas mesmas eram: o interior das paredes, de que maneira sustentavam suas coberturas, como a água saía impecavelmente das torneiras, quais tramas urdiam os segredos de suas estruturas. Mostraram como era a própria memória das casas quando elas eram apenas um vago pensamento. Depois o projeto e as tentativas de organizar o pensamento e depois ainda o início da obra, nada mais que um traçado de linhas arranhando a Terra. Investidas pelo princípio do prazer que é da ordem do simbólico, as imagens das revistas propuseram-se à realidade dos leitores. Acesas pela corrente vital chamada desejo, encadearam-se mediante os sentidos que procuraram representar.

1 – As imagens do bem morar

Desde o surgimento de Casa e Jardim na década de 1950, seguida por Casa Cláudia e finalmente Arquitetura & Construção, o que nos é narrado é a totalidade de um ideal doméstico. Na elaboração deste ideal, seus produtores se esforçaram para acompanhar as necessidades e confortos da indústria da construção civil; cultivar e estimular o consumo de produtos, móveis, objetos e eletrodomésticos na constelação do espaço da casa; divulgar e tutelar o gosto dos leitores como instrumento de distinção e construtor de identidades; seguir as alterações da família e as mudanças nos valores das socialidades do espaço privado e veicular ideais de moradia.

Identificamos como principal imagem de morar, comum a todos os periódicos dedicados à arquitetura voltados ao grande público, a representação junto à natureza. A própria Casa e Jardim que nascera sob o signo da modernidade arquitetônica, mostrava-se desde sua origem, cônscia de que grande parte da população das grandes cidades não era dela mesma . E como imigrantes, sabiam que a verdadeira alegria estava no campo. Lá, tudo era sossego: a vida, natural, mais saudável e mais livre que a que se levava nos amontoados de pedras nomeadas de cidades. Deslocados nos espaços urbanos, muitos suspiravam de saudades pela vida no campo.

Tanto a extensão ou o tratamento visual dado na Seção intitulada “Saudade pela casa do campo”, publicada no número 3 em 1953, sugerem que o assunto era valioso. Criaram uma composição visual que seria referência para grande parte das páginas com imagens de exteriores da arquitetura daí em em diante: página inteira ou com grande destaque entre o edifício e o fundo paisagístico, pouca ou nenhuma figura humana e pouco texto.

Apesar disto, a revista não se esqueceu de que estava inserida num contexto de produção arquitetônica modernista. Diante desta produção baseada no concreto e vidro, a revista estava convicta de que “o amor à simplicidade rústica, ao teto bem construído da casa campestre, não se extinguirá jamais!” . Lembrando que “contra o amor não cresceu erva” , a revista lançou as bases de uma representação altamente idealizada e sentimental do modo de morar no campo, inaugurando uma relação que permaneceria inalterada ao longo de toda a sua existência. Uma posição que influenciaria enormemente todas as outras publicações depois dela, visto que nesta relação com o campo, a posição do leitor urbano foi construída sobre os alicerces desta idealização.

Esta semente havia caído em terras férteis, como identificamos em composições temáticas como a intilulada “Assim gostaria de morar”, veiculada na década de 1960 : uma moradia seria ideal se situada no meio da natureza, junto a um jardim repleto de flores e um pomar pleno frutos. Uma das maneiras de se pensar e representar a natureza a que se refere Lenoble (1990, p. 21) e onde a casa aparece representada na sua dimensão afetiva, condutora de sonhos. A morada natal e ideal irrealizável como a identificada por Bachelard (2003, p. 23-54).

Com representações como estas, a revista iniciou uma experiência de delimitação entre exterioridade e

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