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A Terra Sonambula

Por:   •  11/12/2017  •  Resenha  •  1.970 Palavras (8 Páginas)  •  801 Visualizações

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RESENHA: COUTO, Mia. Terra Sonâmbula. São Paulo – Companhia das Letras, 2007.

Diogo André Aires Reis[1]

“A guerra é uma cobra que usa nossos próprios dentes para nos morder”

(p.17, fala de Taímo pai de Kindzu)

        O autor dessa fascinante obra, Mia Couto nasceu na Beira, em Moçambique no ano de 1955, e é um dos principais escritores africanos. Atuou como jornalista, estudou medicina e formou-se em biologia. Seu romance Terra sonâmbula foi considerado um dos dez melhores livros africanos do século XX. Em 1999, o autor recebeu o prêmio Vergílio Ferreira pelo conjunto de sua obra e, em 2007 o prêmio União Latina de Literaturas Românicas. Atualmente trabalha em estudos sobre o impacto ambiental.

        Terra Sonâmbula se passa no período pós independência, após 10 anos de intensas lutas, a guerra civil se instala por mais alguns anos, dessa forma o pais passas pelas piores condições para tentar se estabilizar como uma nação independente. Dentro de tão complicada situação Mia Couto conta duas surpreendentes estórias, a do velho Thahir e do menino Muidinga e as aventuras de Kindzu. As estórias vão se intercalando, o que dá esse caráter ímpar a obra de Couto.

        O primeiro capitulo, assim como os demais são compostos pelos acontecimentos nas vidas de Thahir e Muidinga além das aventuras descritas no caderno de Kindzu. A estória começa com a viagem pelas estradas mortas do velho Thahir e do menino Muidinga, estes fugiam dos bandos que aterrorizavam a população no período da gerra civil. Ao acharem um machimbombo (autocarro) incendiado o velho opta por eles passarem a viver por ali enquanto as coisas se acalmavam, mesmo contra a vontade do garoto que não se sentia bem estando entre os muitos mortos que ali estavam.

        Então passaram a retirar os mortos, buscando enterra-los, após o último ser enterrado ali pelas proximidades mesmo, quando retornavam encontraram outro cadáver que diferente dos outros não tinha sido morto queimado e sim por tiros, junto deste encontrava-se uma mala que entre algumas roupas e restos de comida estavam alguns cadernos, estes pertenciam ao jovem Kindzu.

        Embora o velho não dê a menor atenção para os cadernos, o garoto os guarda com zelo, mesmo sem saber do se trata. Mal sabiam eles que estes cadernos seriam a melhor escapatória dos horrores que a guerra trazia. No primeiro caderno Kindzu descreve como é sua vida na vila que nasceu os problemas enfrentados como o pai alcoólatra e uma mãe indiferente a ele, além do sumiço do irmão mais novo, as coisas se complicam ainda mais depois que sei pai morre e sua mãe começa a mostrar sinais de loucura. O que ainda lhe dava alguma alegria era sua amizade com o indiano Surrendra, mas o preconceito contra os árabes acabou forçando-o a partir.  A doença da guerra fez com que aquela vila fosse morrendo, seus habitantes foram todos sumindo. Kindzu após conversar com um adivinho da região que o aconselhou a ir atrás do seu caminho, pois ele era uma homem de viagem, decidido ele partiu atrás de se tornar um guerreiro naparama, pois estes além de serem abençoados pelos feiticeiros, lutavam contra os que faziam a guerra.

        Muidinga foi encontrado quase morto pelo velho Thahir, este o curou e o levou consigo. Entretanto o menino busca saber sobre seu passado, uma vez que este perdera a memória, porém, nada de relevante lhe é revelado, Muidinga percebe que Thahir não gosta de falar como ele foi achado, então para não aborrece-lo mais prefere não fazer mais perguntas. A falta de memória do garoto o leva a ter aqueles cadernos como a sua própria memória.

        É interessante a forma que o autor trata de assuntos ligados às varias culturas existentes em Moçambique, na vila de Kindzu noto como a população esta arraigada à religião. Logo no começo de sua viagem jovem aventureiro passa um momento ímpar, ele sente que seu pai ali estava a se comunicar com ele, entre esses povos a ligação com seus mortos é muito grande, existe um respeito muito grande. A visão de seu pai ali deixou Kindzu contente.

        A relação entre Thahir e Muidinga faz brotar um sentimento bom que os uni a um laço familiar, a fome era demais naqueles tempos, em um determinado momento o menino encontra algumas mandiocas e sem pestanejar iria comê-las, rapidamente Thahir interveio não deixando o garoto comer. Essa cena o fez lembrar de como ele havia encontrado Muidinga, dessa forma resolveu contar para o garoto como o encontrou quase morto após comer mandioca azeda. O menino moribundo iria ser enterrado junto com outras crianças mortas, até mesmo para acabar com seu sofrimento, então o velho intercedeu por ele dizendo ser seu sobrinho.

        Na busca de se tornar um guerreiro naparama Kindzu segue pelo mar, em mais um de seus sonhos, viu um anão que um conduziu a um navio encalhado na busca de mantimentos, o que ele não poderia esperar é ali vivia uma mulher, esta estava buscando sair daquela terra, esta se chamava Farida e havia saído de sua vila, pois lá não era aceita, pois de acordo com as tradições locais irmãos que eram gêmeos não eram bem aceitos entre aquela população, a mãe que tivesse teria que matar uma das crianças. E para sua infelicidade ela nasceu gêmea a mãe escolheu ficar com ela e deu a irmã, sendo que na vila todos acreditavam que a irmã de Farida estava morta, além disso, antes da chegada dela ao navio ela viveu com um casal de colonos portugueses Virginia e Romão, ela acabou sendo abusada pelo colono o que a levou a uma gravidez indesejada. Isso piorava a situação de Farida entre seus conterrâneos, forçando-a a ir embora, tendo que deixar a criança sob a guarda de umas religiosas, anos mais tarde o garoto sumiu sem que ninguém mais soubesse do seu paradeiro.

        Kandzu e Faride tiveram uma boa convivência, o que os aproximou muito, ela era detentora de considerada beleza o que despertava desejo no rapaz, e acabaram se entregando a esse desejo. Kindzu que leva-la consigo, mas ela achou melhor ficar e lhe fez um pedido que ele trouxesse seu filho desaparecido. Sendo assim ele saiu de lá com a missão de encontrar o filho perdido de Faride e se tornar um grande guerreiro naparama.

        Nesse meio tempo Thahir e Muidinga passam por muitas situações diferentes, primeiro eles resolvem deixar o mochimbombo muito por insistência do garoto que não queria ficar mais ali parado, então seguiram nessa caminhada encontraram um velho chamado Siqueleto, que agia de forma indiferente as desgraças que ocorriam por ali, depois conheceram Nhamataca que acreditava ter o poder de cavar e criar um rio, estas experiências iam moldando o garoto fazendo com que ele fosse amadurecendo. E sem falar nas velhas que tiveram o papel de iniciar o garoto a vida sexual, embora isso tenha acontecido de uma forma não muito agradável, pois, Muidinga foi molestado por elas.

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