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Análise do período de dominação islâmica na Espanha: o Califado de Córdoba (929 – 1031)

Por:   •  14/9/2017  •  Artigo  •  4.254 Palavras (18 Páginas)  •  170 Visualizações

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Análise do período de dominação islâmica na Espanha: o Califado de Córdoba (929 – 1031)

Renato Nunes de Siqueira

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Maria Fátima de Melo Toledo

Resumo

O Renascimento Europeu que se inicia a partir do século XIV marca um retorno do pensamento europeu às raízes greco-romanas e representou o estopim de uma forma de pensar que, valorizando e centralizando novamente o papel do homem na história, iria revolucionar todos os campos de conhecimento, em especial a ciência. É pouco considerado, porém, o fato de que as fontes greco-romanas das quais os europeus se valeram para iniciar esse movimento vinham, como obras traduzidas, do mundo muçulmano. Ao longo da Idade Média na Europa, os califados e emirados estabelecidos no Oriente Próximo se tornaram os guardiões do conhecimento antigo guardado nas inúmeras bibliotecas existentes naqueles territórios. A tradução dessa literatura para o árabe e a utilização desse conhecimento por importantes figuras como Ibn al-Haytham, Ibn Sina e Ibn Rushd, entre diversos outros, permitiu a criação de uma ciência no mundo árabe que seria posteriormente analisada e utilizada por séculos por ocidentais trabalhando em todos os campos do conhecimento. A partir dessas constatações, o objetivo deste trabalho é analisar o desenvolvimento da sociedade islâmica desde o século VII, enfocando especialmente, devido à proximidade com o ocidente e o período de relativa estabilidade, o chamado Califado de Córdoba, estabelecido no século X, de modo que possamos compreender qual foi o ambiente cultural em que este tipo de desenvolvimento se tornou possível e qual foi o impacto dessa cultura para o Ocidente

Palavras Chaves: Islã, História Ibérica, Espanha

Abstract

The European renaissance movement which begins in the fourteenth century sets a return of the European thought to its Greco-Roman roots and has represented the catalyst of a way of thinking that, valuing and centralizing again the rule of man in history, would revolutionize all the fields of knowledge, especially science. It is not so considered, though, the fact that the Greco-Roman sources used by the Europeans to get the movement started came, as translated works, from the Muslim world. Through all the middle ages in Europe, the caliphates and emirates established in the Middle East became the guardians of the ancient knowledge kept in the innumerous libraries which existed on those territories. The translating of this literature to Arabic and the using of this knowledge by important figures such as Ibn al-Haytham, Ibn Sina and Ibn Rushd, among many others, has allowed the creation of an Islamic science that would be afterwards analyzed and used for centuries to come by western men from all fields of knowledge. From these considerations, the point of this research is to analyze the development of the Islamic society since the seventh century, specially focusing, due to its proximity to the west and the relatively peaceful period, the so-called Caliphate of Cordoba, established in the tenth century, in a way that we might understand which was the cultural environment on which this kind of development has become possible and which was the impact of this culture to the western world.

Key words: Islam, Iberian History, Spain

Introdução

A pesquisa em andamento, da qual trata o presente artigo, busca realizar uma análise da sociedade islâmica[1] do Al-Andalus, como era chamada pelos árabes e berberes que a invadiram a partir de 710. Pretendemos investigar como se dava o funcionamento da estrutura social naquele território, o relacionamento entre os diferentes grupos que formavam a sociedade, bem como destes grupos com as instituições criadas e como a organização dessa estrutura permitiu o desenvolvimento de uma sociedade onde as expressões culturais e científicas se desenvolviam em um nível altíssimo, expressões que reuniam agentes sociais das mais diversas origens. Para isso, analisaremos como se deu o nascimento do Islã como força político-religiosa no Oriente Médio, observando o desenvolvimento dessa força desde seus anos de formação até a expansão que a levou aos limites do mundo conhecido na época, bem como buscando compreender como as diferentes fases dessa formação contribuíram para a definição da forma que o Islã apresentava na península ibérica. Procuramos enfatizar o período conhecido como Califado de Córdoba, pois esse é considerado majoritariamente o período de apogeu cultural da civilização islâmica na Espanha.

No que tange ao tratamento das fontes, conseguimos acesso, até o momento, aos trabalhos de alguns autores já consagrados da área, que tratam em suas obras a questão do desenvolvimento dos povos de religião muçulmana, ou dos povos árabes após o surgimento do Islã. A primeira dessas obras, em ordem de publicação é a de Bernard Lewis denominada "Os árabes na história", publicado originalmente em 1950. Também utilizamos o livro de Albert Hourani "Uma História dos povos árabes", publicado em 1991. Utilizamos também duas fontes nacionais, a obra "História do mundo árabe medieval", compêndio de Mário Curtis Giordani, publicado em 1975, sobre não apenas a história do Islã, com foco no desenvolvimento dos impérios omíada e abássida, mas também a sociedade em todos os seus aspectos desenvolvida nestes impérios e também nos diversos agrupamentos formados no norte da África e na Península Ibérica; e a mais recente obra de Peter Demant "O Mundo Muçulmano", de 2004, que trata de aspectos históricos e culturais do Islã, analisando não somente a história da formação do povo muçulmano mas como essa religião se envolve com o mundo nos dias de hoje e realizando conjeturas sobre os possíveis caminhos nos quais o Islã pode se envolver no futuro.

Não temos a intenção de, nesta pesquisa, reproduzir os processos de dominação ideológica do Ocidente sobre o Oriente, ao criar uma imagem deste como entidade separada daquele, da forma como Edward Said (1978) alerta que têm sido feitas tantas pesquisas sobre o tema do chamado "mundo oriental".[2] Ao contrário, buscaremos aqui uma aproximação entre os dois conceitos ao mostrarmos a influência do pensamento desenvolvido na civilização islâmica para toda a sociedade européia.

A Península Ibérica, ao longo dos milênios, foi habitada por diversos povos. STRADLING e VINCENT (1984), analisando todo o período Antigo da ocupação do território, mostram que os primeiros vestígios de habitação humana na península referem-se aos povos pré-históricos conhecidos como Iberos. No final dos séculos VII e VI a.c, povos celtas do centro da Europa migraram para aquele território, criando uma cultura mista conhecida como celtibera. Houve também, durante a Antiguidade, a presença de fenícios e gregos, interessados nas riquezas minerais da região. Data desse período a construção de algumas cidades, como Cádis. Aproveitando-se da presença de povoamentos fenícios, os habitantes de Cartago, no norte da África, construíram grandes moradias nas proximidades do território fenício, fundando na margem oeste da península, por exemplo, a cidade de Carthago Nova, hoje conhecida como Cartagena. Com a vitória de Roma sobre Cartago na segunda guerra púnica, inicia-se o processo de romanização do território ibérico.

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