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As Consequências da Guerra Mundial

Por:   •  15/2/2022  •  Resenha  •  1.152 Palavras (5 Páginas)  •  103 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS FACULDADE DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS

DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA

História Contemporânea II

Izabella Áurea Luiz Silva

Ruínas, tratados e nova ordem social. Dentre outros marcos históricos do século passado, os efeitos socioespaciais da Primeira Guerra Mundial, principalmente para a Europa, são debatidos na obra O século XX: de 1914 aos nossos dias, do contemporâneo historiador René Rémond. Intitulado como As consequências da guerra, o segundo capítulo do livro destina-se a falar acerca das decorrências demográficas, econômicas, territoriais, políticas e sociais do conflito em questão, já na década de 20, após as decisões da Conferência da Paz estarem em vigor.

Sob uma perspectiva sobejamente eurocêntrica, e relacionando os eventos enquanto causa e consequência, o autor inicia o capítulo pontuando as reconfigurações territoriais do continente europeu após a série de tratados formulados na Conferência em Paris. Rémond ressalta o desaparecimento e as fragmentações de grandes impérios, como o Otomano e a Áustria-Hungria, em novas novas nacionalidades, juntamente ao nascimento e multiplicação de outras unidades nacionais e da consolidação das ideologias nacionalistas. Sob o viés do historiador, “a nova divisão territorial assinala o recuo do germanismo e o progresso dos eslavos. [...]” (RÉMOND, 1982:32).

Por esse ângulo, a formação e emancipação de identidades nacionais, além da própria redivisão das fronteiras, relaciona-se ao processo de democratização dos regimes políticos no pós-guerra. Pois a manifestação do desejo por um sistema representativo como forma de governo por parte dos aliados, “inspirados no princípio do direito dos povos de disporem de si mesmos” (RÉMOND, 1982:34), resultou em uma reorganização político-social na década em debate. Nesse sentido, esta nova ordem, dotada de mecanismos que ausentam-se nos impérios históricos, “coroava a marcha da humanidade para uma sociedade mais humana, mais livre e mais justa.” (RÉMOND, 1982:34).

Quanto aos impactos populacionais, econômicos e geográficos, Rémond pontua as recessões nas economias dos países europeus, sendo eles vencedores ou não. Conforme o historiador observa, o declínio financeiro proveniente das guerras é agravado pelas

expressivas perdas demográficas e suas consequências no tecido social. Somado a isso, sanções econômicas impostas pelos tratados entre as nações, a destruição da infraestrutura urbana e do espaço físico, além do endividamento interno e externo adquirido pelos países, são essenciais para a desestabilização monetária que leva às crises na economia europeia nos anos seguintes.

Dentro deste caótico cenário, as relações sociais e políticas também são redesenhadas. Além do advento de um novo “tipo social” (RÉMOND, 1982:37) - o ex-combatente, figura essencial para a constituição dos regimes totalitários - o autor assinala as transformações estruturais do pós-guerra na população civil. Para ele, “a guerra dissociou as estruturas tradicionais” (RÉMOND, 1982:39). Não somente pelas atividades das ideologias revolucionárias, mas também devido às reformulações nas relações de poder entre indivíduos e o Estado que, frente às consequências do conflito, exercem o controle econômico e jurídico da vida social.

No cenário mundial, para Rémond, “a Europa descobre a própria fragilidade”(RÉMOND, 1982:44). Ainda que, segundo o autor, não haja insurreições nas colônias europeias e propicia-se uma breve estabilização da paz, dos Estados e da vida cotidiana no continente, os eventos compreendidos entre 1919 e 1939 exibem uma “inversão de tendência e de um declínio relativo da Europa em relação ao resto do mundo.”(RÉMOND, 1982:44).

Em suma, a narrativa eurocentrada de Rémond eufemiza, em diversas passagens, os fenômenos resultantes da Primeira Guerra Mundial, seja no continente palco do conflito ou no panorama mundial. As condições de paz estabelecidas em Versalhes e a redefinição das fronteiras, vista como “o triunfo do movimento das nacionalidades” (RÉMOND, 1982:32) pelo autor, revela-se, no entanto, como um marco do imperialismo nacionalista europeu, um dos grandes motivadores do conflito, principalmente por parte das Quatro Grandes potências. Os Estados criados ao fim da guerra reúnem, em sua extensão demarcação, uma vasta multiplicidade étnica, de forma que a remarcação fronteiriça despreocupa-se em manter uma coerência etnográfica na formação dos países - como na Romênia, “uma das grandes beneficiárias da paz” (RÉMOND, 1982:30), que passa abrigar consideráveis comunidades culturalmente distintas.

Hobsbawm, em Era dos extremos: o breve século xx (1995), observa que, tanto quanto os impérios, estas unidades territoriais eram multinacionais. Contudo, frente à queda dos Impérios Alemão e Otomano, da decomposição do Império Austro-Húngaro e dos conflitos políticos na Rússia, seria de interesse dos aliados, pela própria hegemonia política e

econômica, centralizar o poder em unidades políticas no Leste europeu, que nascem enfraquecidas e fragmentadas. Não há triunfo ou progresso de nacionalidades quando exclui-se suas representações. O triunfo é exclusivamente das nações aliadas imperialistas.

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