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Ggênese, auge e decadência das ferrovias de são Рaulo

Relatório de pesquisa: Ggênese, auge e decadência das ferrovias de são Рaulo. Pesquise 859.000+ trabalhos acadêmicos

Por:   •  9/5/2014  •  Relatório de pesquisa  •  12.950 Palavras (52 Páginas)  •  179 Visualizações

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PREFÁCIO

O fenômeno da circulação é tão constante e de tão extraordinária importância, comercial e cultural, nas sociedades humanas, que parece residir a base de todo processo de civilização. Já Durkheim distinguia entre “densidade estática”, para significar o número de habitantes por quilômetro quadrado, e densidade dinâmica, mensurável pelo grau de intensidade das trocas econômicas e culturais entre os grupos humanos. Quando Ratzel formulou a sua teoria das migrações que não são outra coisa senão o conjunto dos movimentos em virtude dos quais as coletividades chegaram a grupar-se ou a distribuir-se sobre o solo em cada momento da história, não deixou de insistir sobre estes incessantes movimentos dos povos que nunca se detêm e não apresentam diferenças senão na natureza e na intensidade. Eles podem variar e, efetivamente, se diversificam segundo a natureza dos povos em movimento ou a forma particular de civilização, mas acusam sempre, nos seus avanços e nos seus recuos, a tendência fundamental de todas as sociedades a se deslocarem, quer para estenderem sua base geográfica, quer com o fim de procurarem novos meios de subsistência, quer ainda para se porem em contato e estabelerem comércio com outros ou outras sociedades dos mesmos grupos nacionais.Mas a cada um desses movimentos, migrátorios ou não, coletivos ou individuais, supõe um ponto de partida, um ponto de chegada e um caminho levando de um a outro.

Pelas via de comunicação, de qualquer tipo e natureza, não somente se realizam as trocas comerciais e econômicas; se provêm de recursos e gêneros alímenticios as populações urbanas, se estabelece a ligação entre os centros de consumo e os de produção, se atende as comunicações dos exércitos, ao transporte e abastecimento de tropas , como ao tráfico internacional dos viajantes, mas também se produz e se intensifica a propagação de idéias e de culturas diferentes, se fecundam as civilizações, umas pelas outras, e se realiza um alargamento progressivo do horizonte, nas sociedades mais afastadas dos focos de civilização.

Na evolução da técnica de transporte, o ponto culminante foi a invenção da roda que fez sentir sua influência decisiva em todos os meios de locomoção e continua a exercer papel essencial nos mais diversos sistemas de transportes.”Maravilhoso instrumento ( observa Vidal de la blache) que substituiu as resistências de atrito e de deslizamento pelas resistências muito menores do rolamento”. Mas a importância dos caminhos, - comerciais, religiosos, intelectuais e políticos,no interior dos grupos nacionais, é de tal ordem que não é possível, como já observava Ratzel, uma potência marítima, sem que tenha apoio sobre a terra e estejam sempre em relação com a importância de sua expansão pelo mar suas bases continentais ( população, produção, estradas, etc). Se o equilíbrio se rompeu, o estado, sem fundamentos sólidos, se arriscaria a ruir, ao menor abalo.

Essas novas técnicas de transporte, baseadas no carvão e na máquina a vapor e descobertas na Inglaterra e logo acolhidas na França, não tardariam a expandir-se fora dos países em que se desenvolveram. Em menos de um século, o trilho, libertador da indústria, ganhou o mundo inteiro, apesar das resistências que a príncipio levantou em numerosos países que não perceberam imediatamente o imenso alcance dos caminhos de ferro. Ainda no Brasil, que guardava, com o regime servil, o tipo de economia patriarcal, se iniciaram, nos meados do século XIX, as primeiras construções de estradas de ferro, e circularam os primeiros trens, de que todos saudavam, com entusiasmo, os silvos da locomotiva, mas em que muitos de nossos antepassados não se aventuraram a viajar como passageiros senão com desconfiança e sobressaltos. A despeito de todas as resistências e prevenções, o caminho de ferro ganhava terreno por toda parte e abria perspectivas aos mais arrojados planos de estradas continentais, não só onde se mostravam favoráveis as condições do meio geográfico, mas mesmo onde o meio era hostil e levantava dificuldades quase intransponíveis.

Os russos, no Turquestão, com a construção da estrada de ferro, projetada e executada pelo general Annenkof; os franceses, antes e depois de Liautey, em marrocos e na argélia, os ingleses, em suas possesões e, particularmente na Índia, sentiram desde logo a necessidade de, para consolidarem seus impérios , levar o mais longe possível e em todas as direções o poder dos trilhos que exprimia a vontade de conquista e de colonização. Se, para falar a linguagem das costureiras – observa um general inglês , se alinhava um império colonial com estradas , não se costura senão com o caminho de ferro.

As necessidades da revolução industrial que se opera na europa e, mais tarde, na América do norte, e os grande impérios que se fundam, incentivam poderosamente, se não forçam, desde a primeira metade do século XIX, os progressos das estradas de ferro, levando a maior perfeição da técnica, em pouco mais de uma centúria, esse admirável meio de transportes mecânicos. As companhias inglesas, alemãs, francesas e americanas não cessaram de realizar progressos notáveis, no ponto de vista do aperfeiçoamento de suas locomotivas, de formas simples e de linhas cada vez mais puras até as maquinas ultramodernas e de linhas aerodinâmicas, de hoje, da capacidade de transporte de veículos e da solidez e do comforto dos carros postos a disposição do público.

A máquina e a técnica – a locomotiva, o automóvel e o avião, criaram uma aceleração que se tornou uma necessidade do homem, á procura de velocidade na luta para vencer as distâncias. Nunca o homem pôs o seu bem e o seu fim menos no eterno e no absoluto, mas no contingente e no passageiro. Mas a velocidade é uma função do tempo. As distâncias já não se medem hoje por kilômetros, mas pelas horas que se gastam em vencê-las. A distância do Rio a São Paulo é atualmente , de uma hora, e será amanhã de três quartos de hora. A divisão exata do tempo, que a invenção do relógio tornou possível, é uma das bases mais importantes da civilização técnica, como hoje a concebemos. Suponhasse que os relógios parassem. Toda a vida do século XIX, e a vida contemporânea se deteriam no ato. Três divindades terríveis desalojaram de seu pedestal mitológico as três graças antigas : são a velocidade, a eficácia e o êxito. Todas as três divindades, filhas do mesmo Deus, o deus Praktikos, e que se reconhecem por serem dominadas pela psicose do tempo e por trazerem sempre o relógio na mão. O tempo, escreve Lewis Munford, converte-se em uma mercadoria, em um gênero no sentido em que se havia convertido o dinheiro. O tempo, como pura duração – dedicado a contemplação

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