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HISTÓRIA SOCIAL

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Por:   •  19/9/2014  •  1.542 Palavras (7 Páginas)  •  335 Visualizações

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Campinas - SP NO 4/5 215-220 1997/1998

Sobre História, de Eric Hobsbawm. São Paulo: Compahia das Letras,

1998.

Valter Pomar*

Sobre História, o livro mais recente de Eric Hobsbawm, reúne um

prefácio e 22 ensaios, escritos entre 1968 e 1997, dos quais apenas seis

nunca tinham sido publicados até agora. A maioria deles (16) foi

apresentada originalmente em conferências, colóquios e aulas magnas.

Diferentemente de outras coletâneas de Hobsbawm disponíveis em

português, esta é “sobre história”, ou seja, reúne ensaios que têm em comum

o fato de abordarem diferentes aspectos do debate acerca da natureza da

história (nos dois sentidos da palavra).

Toda a obra de Hobsbawm é explicitamente atravessada por essa

preocupação, digamos, metodológica. Professor desde 1947, ele organizou

seu primeiro livro em 1948 e defendeu sua tese de doutoramento em 1950.

Desde então, produz copiosamente. Só no Brasil, teve publicadas as

seguintes obras: Capitão Swing, A Invenção das Tradições, da Revolução

Industrial Inglesa ao Imperialismo, Rebeldes Primitivos, Os Bandidos,

Mundos do Trabalho, Os Trabalhadores, Revolucionários, Estratégias para

uma Esquerda Racional, Ecos da Marselhesa, A Era das Revoluções, A Era

do Capital, A Era dos Impérios, Era dos Extremos: o Breve Século XX, além

de um livro sobre jazz e a coleção História do Marxismo, da qual foi

organizador.

Esta produção, concentrada em dois grandes temas (classes

trabalhadoras e história mundial), fez de Hobsbawm um dos mais

conhecidos e importantes historiadores da atualidade. Algo que não deixa de

* Mestrando em história econômica pela Universidade de São Paulo.

216 RESENHAS

ser irônico e surpreendente, nesses tempos de renegados e convertidos, já

que Hobsbawm nunca escondeu sua dupla condição de marxista e

comunista. Situação equivalente, talvez, só a de José Saramago.

O marxismo de Hobsbawm não tem nada de pós-moderno: “o que a

história pode fazer é descobrir os padrões e mecanismos da mudança

histórica em geral, e mais particularmente das transformações das

sociedades humanas durante os últimos séculos de mudanças radicalmente

aceleradas e abrangentes. Ora, um projeto dessa ordem exige uma estrutura

analítica para a análise da história. Essa estrutura deve estar baseada no

único elemento observável e objetivo de mudança direcional nos assuntos

humanos, isto é, a capacidade persistente e crescente da espécie humana de

controlar as forças da natureza por meio do trabalho manual e mental, da

tecnologia e da organização da produção. Aqui reside a importância crucial

de Karl Marx para os historiadores, porque ele construiu sua concepção e

análise da história sobre essa base. E isso significa, basicamente, uma

concepção materialista da história”.

Há, mesmo entre os marxistas, quem considere Hobsbawm um

“ortodoxo”. Claro que sua ortodoxia nada tem a ver com os manuais, mas

para os padrões elásticos atualmente em voga, ele chega a ser chocante.

Como ninguém coloca em dúvida a qualidade de sua obra, há duas

alternativas: ou estamos diante de um caso de esquizofrenia teórica, ou é

exatamente o alicerce “ortodoxo” que sustenta seu trabalho de historiador.

Além desse tipo de debate teórico, Sobre História contém importantes

reflexões sobre a finalidade e as conseqüências do trabalho do historiador.

Em alguns momentos, é como se Hobsbawm estivesse preocupado em

oferecer orientações de “ética profissional”.

Por exemplo: no primeiro ensaio, originalmente uma palestra para

estudantes, ele diz que “os governos, o sistema econômico, as escolas, tudo

na sociedade, não se destina ao benefício das minorias privilegiadas. Nós

podemos cuidar de nós mesmos. É para o benefício da grande maioria das

pessoas, que não são particularmente inteligentes ou interessantes, não têm

um grau elevado de instrução, não são prósperas ou realmente fadadas ao

RESENHAS 217

sucesso, não são nada de muito especial. É para as pessoas que, ao longo da

história, fora de seu bairro, apenas têm entrado para a história como

indivíduos nos registros de nascimento, casamento e morte. Toda sociedade

na qual valha a pena viver é uma sociedade que se destine a elas, e não aos

ricos, inteligentes e excepcionais, embora toda sociedade em que valha a

pena viver deva garantir espaço e propósito para tais minorias. Mas o mundo

não é feito para o nosso benefício pessoal, e

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