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Importância Da Cenografia

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Por:   •  13/10/2014  •  3.050 Palavras (13 Páginas)  •  1.139 Visualizações

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Importância da Cenografia (José Dias)

Uma cenografia não é um telão;

é um envolvimento. Representa-se

em cena, não em frente dela.

[...] Uma boa cena não deve ser

uma pintura, mas uma imagem. [...]

É um sentimento, uma

evocação, uma presença,

um estado de alma,

um vento morno que

ateia as chamas do drama.

Robert Edmond Jones.

Pretende ser compreendido por todos, da mesma maneira, em qualquer parte do mundo. Na verdade, o que para um pode ser uma expressão cenográfica sublime, poderá parecer bastante desagradável para outro. Um cenógrafo, usando material velho, poderá nos deixar sem fôlego com seu trabalho. O mesmo cenário, que nos fascina, a outro pode parecer um amontoado de lixo. Como qualquer atividade artística, a cenografia revela, através do material e das formas que usa, um conjunto de emoções e de idéias relativas e pessoais.

Não há dúvida de que a cenografia é de importância fundamental para o sucesso de uma montagem, devendo servir a inumeráveis objetivos. A cenotécnica, a iluminação e a indumentária permitem uma qualidade no resultado final do espetáculo tal que, cada vez mais, diretores e produtores buscam o auxílio de profissionais considerados competentes e de talento artístico inegável para a elaboração e a realização de seus projetos cênicos.

Mas a arte cênica é uma arte especial, difícil. Cabe ao cenógrafo conciliar uma série de condições para permitir uma resposta à proposta cênica do diretor. Tudo tem que ser previsto, calculado com o maior rigor, para que sejam evitados os exageros, para que não se sacrifique a intenção do dramaturgo, para que se respeite o sentimento exato da concepção cênica, sem apelar para efeitos banais e fáceis. O cenógrafo colabora com o diretor, mas também com o autor, no sentido de que, através dos elementos descritivos que propõe, sejam representados tanto o pensamento do autor, como a verdade cênica desejada pelo diretor. Concordo com o que diz Pierre Sonrel, em seu Traité de scénographie:

Il est cepandant de toute évidence que dans le problème de l’orientation du théâtre de demain, le rôle et la responsabilité du scénographe sont subordonnés à l’inspiration du poète.1

Nada deverá ser esquecido ou abandonado irrefletidamente: e aí entram o talento, o senso crítico, a formação técnico-cultural, a compreensão do texto, a sensibilidade e a capacidade de realizar do cenógrafo.

Podemos dizer, portanto, que cenografia é tudo o que é registrado plasticamente em cena. Não podemos separar cenário, figurino, adereços, iluminação ou até mesmo a marcação de cena, isto é, a movimentação dos atores, porque também estabelecem fluxos, massas, volumes, num determinado espaço.

Se num espetáculo é o cenário que fala primeiro, se ele não transmitir pela linguagem plástica, imediatamente, o clima certo, o público poderá ser conduzido por caminhos errados, distanciando-se do que se poderia chamar de idéia correta da peça.

Por outro lado, a cenografia não pode e nem deve ser a vedete do espetáculo. Mas deve, isto sim, buscar atender às exigências da peça, à proposta da direção: criar uma linguagem para o espetáculo. O cenário não pode ser desenhado apenas para agradar os olhos do espectador e muito menos para satisfazer a vaidade do cenógrafo. O grande artista Santa Rosa (Paraíba, 1909 — Nova Deli, 1956) tinha palavras muito duras para este tipo de trabalho vazio:

Há os que concebem o palco como uma vitrine de produtos de beleza. Com muito it e cor-de-rosa, filós e colunas, um pouco de luz através da qual se pressinta no ar moléculas de pó-de-arroz, tornando o espaço cênico frio e impróprio à verdade teatral, cheia de calor humano.2

Por mais engenhoso e complexo que seja, um cenário por si só não consegue manter o interesse do público por muito tempo, caso a representação seja fraca. Mas se, pela sua exuberância de formas e cores, chama excessivamente a atenção, pode vir a prejudicar a recepção do espetáculo e, com isso, a própria peça.

O trabalho bem entrosado do diretor e do cenógrafo é essencial para a consecução da unidade do espetáculo. Pois, fundamentalmente, o espetáculo, no seu todo, realiza uma convergência de visões, apresentando em cena o resultado da união dosAldo Calvo (1907-1990):

A cenografia é uma arte muito complexa. O cenógrafo é o artista que cria a imagem do espaço cênico em função de um texto, utilizando os meios cenotécnicos de que deveria ter amplos conhecimentos.3

Essa ambientação num espaço tridimensional pode então manifestar as mais diversas concepções de formas volumétricas e esculturais. Não é suficiente que o cenário se afine com o estilo da peça, mas que ele reflita este estilo, que o traduza de tal maneira que o público, tocado pela ambientação, consiga captar o clima da proposta cênica através dessas informações visuais. Obviamente isso nem sempre se processa deste modo: pode ocorrer que a própria concepção do cenógrafo seja de deixar o espaço totalmente livre de qualquer elemento, cabendo então aos atores manipular os objetos cênicos ou passar alguma caracterização essencial através da indumentária, por exemplo.

Em geral cabe à cenografia fornecer os dados sobre o local onde se passa a ação: o dia, a hora, a situação meteorológica, a região ou pátria, além de refletir a situação econômica, política e social dos personagens. Todos esses dados, no entanto, podem ser representados às vezes por soluções muito simples. Um elemento cênico sintetizado, mas bem elaborado em sua forma, cor, textura, pode informar às vezes mais sobre o local, atmosfera e clima de uma cena, e com mais eficiência, do que um grande aparato mal concebido e gratuito. Sobre este aspecto do cenário vale citar mais uma vez Santa Rosa:

A justeza de suas linhas, o discreto sublinhar da ação, bastam-lhe para exercer, com nobreza, a sua função. A sua importância é bem maior quando não é ostentatória, quando apenas sugere em linhas simples o ambiente no qual se desenrolam os sentimentos dos personagens.4

Na cena, o belo tem que ser, antes, necessário. Em outras palavras: a característica essencial do cenário é que ele seja funcional, tenha praticidade. Essa funcionalidade,

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