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MISSÃO JESUÍTA NA AMAZÔNIA A PARTIR DAS CARTAS ESCRITAS

Por:   •  27/4/2022  •  Artigo  •  8.025 Palavras (33 Páginas)  •  89 Visualizações

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A MISSÃO JESUÍTA NA AMAZÔNIA A PARTIR DAS CARTAS ESCRITAS PELO PADRE JOÃO FELIPE BETTENDORFF NOS ANOS DE 1671 E 1674 é preciso encontrar um título mais curto

INTRODUÇÃO

A abordagem sobre as missões católicas na América colonial está ligada, recorrentemente, aos aldeamentos missionários, por estes serem parte fundamental do projeto de evangelização nos primeiros séculos de colonização europeia no continente Americano. Para Maria Celestino de almeida (2003), as aldeias religiosas serviram não somente as intenções da catequese, mas também, aos objetivos da colonização, tendo funções e significados distintos para índios, colonos e missionários. Diante dessa visão, a autora argumenta:

Os aldeamentos foram o palco para a inserção das populações indígenas na ordem colonial e, a julgar pelas intensas disputas que se estabeleceram em torno deles, pode-se inferir o considerável interesse que despertavam nos vários segmentos sociais da Colônia. Índios, colonos, missionários e autoridades locais e metropolitanas enfrentavam-se na legislação e na prática por questões relativas à realização de suas expectativas quanto à formação e ao funcionamento dessas aldeias. (ALMEIDA, 2003, 80).

Almir Diniz de Carvalho Junior (2005) afirma que o apoio das ordens religiosas era imprescindível para se consolidar os objetivos lusitanos no território norte brasileiro. O autor pontua que “Conquistar a terra significava também conquistar os homens. Sem a força dos braços aliados seria impossível expulsar as outras nações europeias. Os portugueses não tinham dúvidas quanto a isto.” (CARVALHO JUNIOR, 2005, 55). Dessa forma, ter os missionários religiosos como aliados era importante para a Coroa portuguesa, não só para cumprir o processo de domínio do território, mas também, para o domínio e controle dos nativos e da população que aqui viviam. Diante disso, é importante destacar que

[...]o uso das ordens religiosas pelas coroas ibéricas e particularmente Portugal, na expansão da fronteira de seus domínios coloniais era insubstituível. Como bem assinala Boxer, elas foram o esteio do domínio colonial naquelas regiões fronteiriças. Com elas, era possível muitas vezes às Coroas alcançarem seus objetivos de expansão e controle territorial sem a necessidade do uso de suas forças militares de maneira extensiva, o que tornava menos onerosa esta tarefa. Ao mesmo tempo, mesmo longe das missões fronteiriças, o papel das ordens religiosas nas colônias, na falta de guarnições militares suficientes, era essencial para manter a ordem e lealdade da população colonial. (CARVALHO JUNIOR, 2005, 87)

Assim, os missionários religiosos no Brasil não tinham somente a obrigação de conversão espiritual dos povos ameríndios, mas também, convertê-los ao domínio político europeu, cumprindo o papel de protetores das fronteiras ameaçadas.

Dentre as várias ordens religiosas que vieram para a colônia portuguesa, com o objetivo de evangelizar, a Companhia de Jesus foi umas das que ganhou destaque por desenvolver suas práticas voltadas ao projeto educativo, conseguindo despertar a simpatia dos governantes e posteriormente a autonomia para estabelecer e consolidar sua pedagogia. Tamanha foi a importância de sua atuação em terras brasílicas, que ainda é a que mais se destaca na historiografia sobre a catequização de indígenas no Brasil colonial.

O método de catequização adotado pela Companhia de Jesus tinha o objetivo de transformar, através do processo educacional, não só os indígenas, mas a todos que viviam nas terras da colônia portuguesa. E isso permitiu que os religiosos desta ordem interferissem direta ou indiretamente na formação da sociedade colonial brasileira. O processo de evangelização dos missionários jesuítas lhes garantiu vantagens em relação as outras ordens religiosas na colônia portuguesa na América. Sobre a influência exercida pelos missionários da companhia de jesus no Brasil colonial, Fábio falcão Oliveira (2014) elucida que:

A esse processo damos o nome de hegemonia, tal como escreveu Gramsci, para quem, um grupo social, ao tornar seus valores aceitos e incorporados pelos demais, torna-se também dirigentes, mesmo quando minoritário – como foi o caso dos Jesuítas. Obviamente, trata-se de um processo eminentemente cultural, mas com claras vinculações políticas, pois, no caso dos jesuítas, eles forneceram as bases ideológicas necessárias para dominação política dos colonizadores em decorrência do padroado, isto é, não havia separação entre o Estado e a Igreja Católica em Portugal. (BITTAR, FERREIRA JUNIOR apud OLIVEIRA, 2014, 51-52)

Esta visão de que as intenções dos missionários serviram aos propósitos de dominação colonial da corte portuguesa, é bem visível nas fontes e bastante defendida na historiografia que busca analisar a relação que havia entre os agentes da colonização. No entanto, se olharmos apenas por esse viés, não veremos que as relações, que se construíram durante essas missões, foram muito mais complexas do que a simples obediência a coroa portuguesa. Karl Arenz (2014) quando trata das missões religiosas no Brasil, especificamente na região amazônica, diz que

Com a dupla função de conversão à religião cristã e de integração à economia colonial, a rede de missões moldou a “fronteira granular” nos confins amazônicos. A situação fronteiriça marcou, também, a vida no interior dos aldeamentos onde a evangelização, longe de resumir-se a um discurso dogmático aglutinador, desencadeou processos espontâneos e imprevistos que inflectiram nas visões do mundo e nas práticas culturais dos agentes sociais envolvidos. De fato, ritos e hábitos, foram constantemente resinificados ao ponto de engendrarem uma crescente convergência nos planos simbólico e social. (ARENZ, 2014, 64)

Dessa forma, ao tratarmos das missões religiosas na Amazônia durante o período colonial, devemos entender que estas tiveram aspectos muito peculiares, que foram além do simples cumprir ordens lusas. Devemos levar em consideração, quando falamos de missões religiosas no Brasil colonial, que os diferentes sujeitos dispuseram de alteridade na intenção de alcançarem seus objetivos, construindo relações entre si que merecem destaques. Como é pontuado por Almir Diniz de Carvalho Junior (2005) houve muitas divergências em relação aos interesses, atividades e regras dos missionários religiosos e coroa portuguesa, mostrando que nem sempre havia consenso sobre as intenções das atividades relacionadas ao processo de colonização. Discordâncias essas que estão bem explicitas nos documentos que tratam destes pontos. Diante disso, Carvalho Junior assevera:

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