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Mulheres

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Por:   •  29/10/2013  •  Tese  •  2.623 Palavras (11 Páginas)  •  331 Visualizações

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Para ascender, mulher tem que ser melhor do que o homem, diz ministra

Para ascender profissionalmente, a mulher "precisa ser melhor do que o homem", diz Eleonora Menicucci, 69 anos, desde 2012 a ministra de Políticas para as Mulheres. Em entrevista à BBC Brasil, Menicucci destaca que, apesar de mais escolarizadas, as mulheres ainda enfrentam uma série de barreiras.

Um exemplo: no ano passado, o maior aumento salarial registrado, segundo a pesquisa de amostra domiciliar do IBGE, foi o das domésticas --as com carteira assinada tiveram aumento de salário real de 10,8%, muito superior aos demais trabalhadores,de 4,6%.

São os governos que definem o percentual mínimo de correção salarial para esta categoria, uma das portas de entrada de mulheres pobres no mercado de trabalho.

No entanto, o quadro geral ainda permanece o mesmo. Em média, as mulheres receberem apenas 72,9% do salário dos homens no país, segundo o IBGE.

Militante feminista, a ministra Eleonora Menicucci é formada em ciências sociais, divorciada e tem dois filhos e três netos.

BBC Brasil - Mesmo com avanços notáveis no mercado de trabalho, vemos poucas mulheres em posições de chefia e, em geral, elas ganham cerca de 70% do salário dos homens. Que passo falta para elas estarem em nível de igualdade profissional?

Eleonora Menicucci - São muitos desafios. O primeiro deles é quebrar o paradigma patriarcal, de valores e costumes, e olhar a mulher como protagonista, de capacidade e autonomia no mercado de trabalho.

Elas são mais escolarizadas que os homens, mas quando entram no mercado de trabalho, salvo no serviço público, a ascensão na carreira é dificultada enormemente. Tem um ciclo de barreiras --entre uma mulher e um homem, opta-se pelo homem. Isso faz com que elas realmente ainda ganhem menos em várias áreas. A única área profissional em que o salário das mulheres subiu mais foi o das empregadas domésticas.

O segundo desafio é que, além de mostrar competência no mercado de trabalho, ela tem que ser melhor do que o homem. Mas temos 85 empresas que aderiram a um programa (do governo federal) de boas práticas de gênero. Ao apresentar relatório do impacto da adesão ao programa, elas recebem um selo.

E na política há desafios também. Embora tenhamos a primeira presidente mulher, só temos 600 prefeitas e 12% de parlamentares mulheres (o que equivale a 45 legisladoras). Também há um patriarcado.

MULHERES AINDA HOJE SÃO VÍTIMAS DE SEU PRÓPRIO MACHISMO

"Muitas mulheres não conseguem se ver fora da órbita do homem e são dependentes da aprovação e do desejo masculino", diz.

BBC Brasil - Você vê traços de machismo ou preconceito em seus ambientes profissional e pessoal?

Mary Del Priore - No ambiente profissional, não vivi nenhum problema, porque desde os anos 1980 o setor acadêmico sofreu grande "feminilização". As mulheres formam um bloco consistente nas disciplinas (universitárias) mais diversas.

Mas, na sociedade, acho que o machismo no Brasil se deve muito às mulheres. São elas as transmissoras dos piores preconceitos. Na vida pública, elas têm um comportamento liberal, competitivo e aparentemente tolerante. Mas em casa, na vida privada, muitas não gostam que o marido lave a louça; se o filho leva um fora da namorada, a culpa é da menina; e ela própria gosta de ser chamada de tudo o que é comestível, como gostosa e docinho, compra revistas femininas que prometem emagrecimento rápido e formas de conquistar todos os homens do quarteirão.

O que mais vemos, sobretudo nas classes menos educadas, é o machismo das nossas mulheres.

BBC Brasil - Mas muitas até querem que os maridos ajudem em casa, mas será que essas coisas do dia a dia acabam virando motivos de brigas justamente por conta do machismo arraigado? E também há mulheres estudadas, ambiciosas e fortes - mas também vaidosas, que ao mesmo tempo querem se sentir desejadas por um parceiro/a que as respeite. Isso é uma conquista delas, não?

Del Priore - Ambas as questões não podem ter respostas generalizantes. Mais e mais, há maridos interessados na gerência da vida privada e na educação dos filhos. Quantos homens não vemos empurrando carrinhos de bebê, fazendo cursos de preparação de parto junto com a futura mamãe ou no supermercado? Tudo depende do nível educacional de ambos os parceiros. Quanto mais informação e mais educação, mais transparente e igualitária é a relação.

Quanto às mulheres emancipadas, penso que preferem estar sós do que mal acompanhadas. Chega de querer "ter um homem só para chamar de seu". Elas estão mais seletivas e não desejam um parceiro que queira substituir a mãe por uma esposa.

BBC Brasil - Como a mulher mudou – e o que permanece igual – no último século?

Del Priore - Temos uma grande ruptura nos anos 60 e 70 no Brasil, que reproduz as rupturas internacionais, com a chegada da pílula anticoncepcional. As mulheres começaram a ocupar postos nos diversos níveis da sociedade, a ganhar liberdade sexual e financeira. Ela passa atuar como propulsora de grandes mudanças.

Quebra-se o paradigma entre a mulher da casa e a mulher da rua.

(Mas) a mulher continua se vendo através do olhar do homem. Ela quer ser essa isca apetitosa e acaba reproduzindo alguns comportamentos das suas avós. Basta olhar algumas revistas femininas hoje. Salvo algumas transformações, a impressão é de que a gente está lendo as revistas da época das nossas avós.

A mulher não consegue se ver fora da órbita do homem, diferentemente de algumas mulheres europeias, que são muito emancipadas. O que ela quer é continuar sendo uma presa desejada.

A (antropóloga) Mirian Goldenberg diz que a mulher brasileira continua correndo atrás do casamento como uma forma de realização pessoal. No topo da agenda dela não está se realizar profissionalmente, fazer o que gosta, viajar, conhecer o mundo – está encontrar um par e botar uma aliança no dedo. Mesmo que o casamento dure uma semana.

BBC Brasil - Quais as amarras das mulheres atuais?

Del Priore - O machismo é uma das questões. Outra, que talvez explique a inatividade da mulher frente a esse padrão, é que, com a entrada num mercado de trabalho tão competitivo, com tantas crises econômicas e uma classe média achatada, a luta pela sobrevivência se impõe sobre qualquer outro projeto.

Essa falta de tempo para

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