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O Ethos Protestante e Sojourner Truth

Por:   •  6/10/2019  •  Artigo  •  2.528 Palavras (11 Páginas)  •  134 Visualizações

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Universidade Federal de Ouro Preto

Instituto de Ciências Humanas e Sociais

Prof.ª Dr.ª Ana Monica Lopes – História Moderna 2019.1

Ana Paula Saraiva – 19.1.3013 - anapaula450548@gmail.com

Mauro César de Castro – 19.1.3041 - maurocesarcjr@gmail.com

O Ethos Protestante e Sojourner Truth: um paralelo acerca da construção da relação individual com a fé

Resumo: o presente artigo tem como foco analisar as diretrizes do protestantismo no contexto de fundação do Estado Moderno, relacionando os parâmetros de construção social do novo homem moderno com a vida da ex-escravizada Soujener Truth, a qual, atualmente, é uma referência para o feminismo negro. A partir do entendimento das características, dos valores, dos costumes, do comportamento, em suma, do ehtos protestante[1] que construíram a nova consciência individual e coletiva, a qual foi crucial para o desenvolvimento do capitalismo e do Estado Moderno, traça-se um paralelo com a influência do protestantismo na vida de Truth, sob o qual ela construiu sua jornada política e social. Com essa perspectiva, torna-se evidente como se aproximam a relação entre a fé e o indivíduo – no sentido produzido pela Reforma Protestante – tanto ao analisar a trajetória de Truth quanto ao analisar a tríade: Estado Moderno, capitalismo e protestantismo.

Palavras-chave: Reforma Protestante; Estado Moderno; Ethos Protestante; Soujener Truth.

Introdução

Ao iniciar as discussões relacionadas às Idade Moderna, muitos aspectos emergem, como o advento do capital, a formação do Estado, os controles sobre os indivíduos, as questões da liberdade e da República. Entretanto, um ponto destaca-se especialmente: o protestantismo no contexto de fundação dos Estados Modernos e suas implicações no conjunto social. Nesse sentido, ao se analisar essa problemática, muito se discorre sobre como o desenvolvimento do Estado e do capitalismo moderno se amparou na ética protestante, isto é, nos novos valores, hábitos e na forma de agir e de pensar - seja individualmente, seja coletivamente - que a Reforma Protestante produziu[2].         

Uma nova óptica, contudo, para se analisar tal tópico é a observação a partir das perspectivas e das vivências dos indivíduos, os quais experienciaram, de modo particular, esses processos. Adotando essa visão, pode-se observar a vida de Sojourner Truth enquanto um exemplo potencial de como o protestantismo opera e é operado no âmbito das relações individuais. Truth embasou seus discursos, sua vida pública e seus princípios políticos na sua crença em Deus e, hodiernamente, é uma referência mundial para o feminismo negro.

Estado Moderno e Protestantismo

Ao discutir questões da História Moderna, são inegáveis as problemáticas relacionadas ao protestantismo.  Nesse sentido, o movimento protestante de meio milênio atrás se torna crucial para a compreensão do Estado Moderno, tendo em vista, fundamentalmente, a reordenação da mentalidade do homem moderno ocidental, por meio da ruptura com a cristandade. Desse modo, tornam-se imprescindíveis as análises acerca das contribuições do Protestantismo para a modernidade.

A Reforma intensificou o conflito que ocorria entre a Europa Medieva e a Europa Moderna nos planos políticos, econômicos, sociais e culturais. A priori, houve – por óbvio – uma grande desestabilidade da Igreja Católica, ao passo que a enfraqueceu e desintegrou a unidade religiosa, política e ideológica que mantinha na sociedade medieval. Isso pode ser entendido tendo em vista que havia uma espécie de sincronia entre Reforma, capitalismo industrial e crescimento econômico de uma força protestante[3].

Ademais, a Reforma contribuiu para uma característica essencial da modernidade: a ética individualista.[4] Como o protestantismo defendia a livre interpretação da Bíblia sem nenhuma interferência de um intérprete oficial, cada indivíduo era responsável pela sua fé. Nenhuma Igreja ou clero influenciava a relação de Deus com o indivíduo. Assim, a devoção era determinada pelo indivíduo autonomamente, uma vez que sua consciência era iluminada por Deus. Ou seja: a relação Deus-indivíduo era pessoal, ajudando a moldar o novo indivíduo europeu do período moderno.

Nessa perspectiva, uma vez exaltada a consciência individual, a Reforma contribuiu para o desenvolvimento do espírito do capitalismo – analisado, profundamente, por Max Weber. Em sua obra A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, o autor não afirma que o capitalismo surgiu devido ao movimento protestante, visto, por exemplo, a existência e o desenvolvimento econômico de cidades italianas, especialmente as do norte[5], em um período anterior. Weber compreende que, na verdade, protestantismodinamizou o capitalismo, uma vez que os homens de negócio protestantes acreditavam ter a obrigação religiosa de enriquecer, e sua fé lhes dava autodisciplina e autoconfiança necessárias para isso. Afinal, a prosperidade era uma bênção de Deus e a pobreza sua maldição, estimulando espiritualmente os calvinistas a trabalharem com desempenho e evitar o ócio.

Com base no discorrido, portanto, o protestantismo produziu uma atitude profundamente individualista que valorizava a força interior, a autodisciplina e o comportamento sóbrio e metódico. Sem fugir, jamais, da interseccionalidade[6] entre capitalismo e protestantismo, é notório que essa movimentação produziu uma nova relação dos indivíduos com Deus: uma relação estreitamente individual.

Trajetória de Sojourner Truth e Protestantismo

Isabella Baumfree, mais conhecida como Sojouner Truth, nascida e escravizada na cidade de Nova York, filha de escravizados sequestrados da Guiné e irmã de doze filhos, foi uma das únicas a ser criada próxima a seus pais. Entretanto, esse contato foi interrompido cedo, uma vez que Isabella foi vendida aos nove anos de idade junto com um rebanho de ovelha por cem dólares e levada para outra fazenda. Ela conta em sua biografia, “The narrative of Soujener Truth” [7], os diversos abusos que sofria dos coronéis, pela sua condição de ser uma mulher escravizada. Após alguns anos, Isabella ainda passou por algumas fazendas até chegar à de John Dumont, na qual aprendeu a falar inglês (embora não escrevesse) e foi obrigada a casar-se com Thomas, outro escravo de Dumont, com quem teve três filhos.

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