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O Patrimônio: Conceito variante no tempo e no espaço e suas representações

Por:   •  2/6/2020  •  Trabalho acadêmico  •  2.212 Palavras (9 Páginas)  •  163 Visualizações

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL

CAMPUS DO PANTANAL

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Trabalho Final como exigência para a conclusão da disciplina: Tópicos Especiais em História I, do curso de História da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (Campus do Pantanal), sob a orientação da Professora Dra. Nathalia Monseff Junqueira.

SANDRO ROBERTO GALVÃO DA COSTA

Corumbá-MS.

2020

O Patrimônio: Conceito variante no tempo e no espaço e suas representações.

O conceito de patrimônio teve definições que variavelmente mudava dependendo do momento histórico; antes porém, é necessário entender que esse conceito tem origem no latim “patrimonium” e que na Roma Antiga esse conceito se referia a tudo que pertencia ao patriarca da família; logo depreende-se que patrimônio tinha inicialmente uma ideia de particularidade, de pertencer à alguém determinado objeto ou coisa.

O livro Patrimônio Histórico e Cultural (2006) de Pedro P. Funari e Sandra de C. Pelegrini trata da trajetória histórica do conceito sobre patrimônio num contexto mundial, da preservação do patrimônio na América Latina, das políticas patrimoniais no Brasil e a gestão do patrimônio cultural. Os autores passeiam por contextos históricos diversos, desde o período romano aos dias atuais; e reservam um capítulo para tratar desse assunto especificamente no Brasil. As primeiras páginas da obra revelam que a evolução do conceito não foi homogênea, no sentido de se pensar formalmente o que seria caracterizado por patrimônio, e assim os autores trazem informações que ajudam a entender essa cronologia, argumentando que a compreensão sobre patrimônio é muito mais ampla do que um simples objeto estático e/ou palpável. Os autores lembram que, por três momentos distintos da história, o patrimônio esteve ligado a algo que era privativo da aristocracia, e que a mudança dessa mentalidade ocorreu a partir do surgimento do Estado-Nação quando então o patrimônio ganha novo significado.

Na sociedade romana o patrimônio era patriarcal, individual e privativo da aristocracia; igualmente na Idade Média a aristocracia clerical manteve esse caráter patriarcal com o culto aos santos e valorização das relíquias, algo não muito diferente dos dias atuais. Em relação à essa questão da proteção da Igreja aos restos antigos do período medieval, Françoise Choay em sua obra A alegoria do Patrimônio (2001) traz grandes contribuições.

Em Restos antigos e humanitas medieval (A alegoria do Patrimônio, 2001) a autora foca nos patrimônios culturais (“restos”) antigos dos pagãos e como eles eram vistos pelos cristãos da idade média. Para a autora, a destruição desses monumentos históricos pagãos se deu na idade média por proselitismo ou descaso das autoridades. O texto traz à tona o papel do Clero como “protetor” do patrimônio histórico já que os monumentos despertavam curiosidade e prazer nos clérigos da época pelo “valor quase mágico” (CHOAY, p. 38) que aqueles refletiam nestes; assim, havia por parte das autoridades religiosas um certo cuidado no trato com as edificações: “Não destruam os templos pagãos mas seus ídolos que neles estão...” (CHOAY, p. 35) revelando um cuidado com as “pedras e o cal” em detrimento da parte cultural religiosa. Importante salientar que esse cuidado da igreja para com os monumentos da antiguidade tinha a ver, segundo o texto, com “as medidas ditadas pela conveniência... as de interesse histórico ou....de afirmar uma identidade por meio dos monumentos” (CHOAY, p. 43). As obras históricas da antiguidade pagã passavam por uma espécie de readaptação (reciclagem); era como que se fossem “reinventadas” para se “readequarem” aos novos moldes culturais e monumentais da sociedade romana cristã; desta forma, a arte e a cultura pagã muitas vezes era utilizada como adornos de catedrais cristãs romanas. 

Em A fase "antigüizante" do Quattrocento, ainda da obra A alegoria do Patrimônio (2001), o monumento histórico começa a estar ligado às noções de história e de arte por uma relação generativa. De um lado os humanistas davam “mais valor” (?) “a história por trás” das esculturas e monumentos – os escritos sobre essas construções, a sua abordagem literária – porque para eles “o testemunho do texto sobre o passado é mais importante que todos os outros” (CHOAY, p. 46). Já os "homens da arte" interessavam-se sobretudo pelas formas (arquitetura e escultura). É no período Quattrocento que se desperta uma consciência do valor histórico e artístico dos monumentos da antigüidade; no entanto, essa conscientização não acarretou uma conservação efetiva e sistemática desses monumentos. A igreja (através dos Papas desse período) é a grande protetora e incentivadora da valorização das construções e monumentos históricos antigos, no entanto, paradoxalmente, é ela também que devasta Roma e “os edifícios antigos da cidade” para alimentar “sua política de (novas) construções”. É ainda nesse período que o monumento histórico passa a ter por base três discursos distintos: o da perspectiva histórica, o da perspectiva artística e o da conservação.

Ainda na vereda do patrimônio da era romana, mais especificamente as construções romanas; Leland Roth - em ‘Firmeza’: como um edifício fica em pé?” (do livro Entender a arquitetura: seus elementos, história e significados, 2017) – aborda esses monumentos sob o aspecto arquitetônico de seus elementos revelando a importância estrutural desses patrimônios e a influência cultural e histórica arquitetônica dessas obras que (originalmente gregas) foram adaptadas pelos romanos em suas construções cívicas e religiosas; orientando que como construímos nos diz quase tanto quanto o que construímos” (p. 42), revelando assim o valor patrimonial da arquitetura, pois as construções, segundo o autor, “são parte da visão que uma cultura tem de si mesma e de sua relação com a história” (p. 42). Nessa abordagem de valorização e do papel histórico dos patrimônios, João Bosco Delvizio em Patrimônio arquitetônico de Corumbá: um olhar sobre a arquitetura moderna na perspectiva da memória e desenvolvimento local (Dissertação de Mestrado, 2004), traz uma contribuição, digamos assim, mais local, ao afirmar que as construções arquitetônicas da cidade de Corumbá-MS “demonstram conexão com os contextos históricos das épocas em que foram edificadas [...] tem na história da evolução urbana da cidade, uma possibilidade para explicação da sua formação” (p. 48); e isso é tão verdade quanto o fato de, na mesma cidade de Corumbá, as construções arquitetônicas de mausoléus de um de seus cemitérios – o Santa Cruz – servirem de representações econômicas, sociais e políticas de famílias tradicionais dessa cidade; assim, para além de ferro, concreto, mármore, cal e cimento, os monumentos e seus “restos” têm muito a nos oferecer do passado gravado em suas estruturas, e neste sentido “cada edificação, portanto, carrega em si não apenas o material de que é composto, mas toda uma gama de significados e vivências ali experimentados” (TOMAZ, p. 2).

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