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O SAGRADO NA CINEMATOGRAFIA DE “MOTHER’ DE DARREN ARONOFSKY

Por:   •  25/1/2022  •  Trabalho acadêmico  •  1.408 Palavras (6 Páginas)  •  65 Visualizações

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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA “JÚLIO DE MESQUITA FILHO”

FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS DE ASSIS

O SAGRADO NA CINEMATOGRAFIA DE “MOTHER’ DE DARREN ARONOFSKY

Gabriela Pinto Reis Mendes

Larissa Santa Rosa

Raul César Medina

Professor: Ricardo Gião Bortolotti

Disciplina: História das Religiões

Assis

18 de janeiro de 2022

O cineasta, roteirista e produtor cinematográfico americano Darren Aronofsky vêm cunhando como sua marca a controvérsia da abordagem fílmica pelo viés religioso, a fórmula, já utilizada em obras anteriores como Noé e A Fonte da Vida, tornou-se mais incisiva em seu filme mother, Thriller de 2017, com cerca de 2 horas de duração e que tem como premissa principal a apresentação de uma metáfora entre criação, evolução e destruição do planeta, se utilizando de uma interpretação pessoal da Bíblia e dos elementos sagrados.

Como afirma Skorin-Kapov, o diretor faz questão de instigar um “sentimento existencial” em suas produções, o que faz jus ao reconhecimento deste como “existencial e filosófico” (2015, p. 153); portanto, por se mostrar um tanto quanto enigmático e subjetivo, suas obras estão sujeitas a uma gama de interpretações e críticas, sendo nas análises de Becker (2019) e Kapov (2015) que nos apoiaremos. Aronofsky aposta numa produção que, segundo Becker, é tão abstrata quanto a teoria criacionista, e que se mostra intrigante já inicialmente pela grafia do título, que se inicia em letra minúscula e se finaliza com um ponto de exclamação, o que se mostra extremamente simbólico, pois a exclamação soa como um grito ou clamor - o que faz jus ao enredo- e a obra se atém em utilizar letras minúsculas para nomear todos os personagens, exceto o personagem Ele.

 Há, portanto, de se fazer dois apontamentos iniciais, o primeiro, que toda a ideia de Sagrado em mother está intrinsecamente ligada ao ideário cristão e, segundo, que esse ideário passa por uma subversão proposital por parte do Diretor. A trama acompanha a personagem Mãe, interpretada por Jennifer Lawrence e sua tentativa de restaurar e manter a ordem da casa, enquanto as ações provocadas pelo bloqueio criativo de seu marido escritor, Ele, interpretado por Javier Barden, impactam negativamente na tranquilidade construída até então por ela.

A dualidade, que norteia muitos dos ideais e preceitos cristãos (RAMALHO, 2016), se faz presente em diversos elementos do filme, sobretudo na própria casa, metáfora de nosso Planeta, que oscila entre a perfeição e a destruição, o inferno e o paraíso. A ambiguidade também é enfatizada no personagem  Ele: ora simboliza o castigo, ora o perdão; ora luz, ora trevas, que não se limita apenas nas atitudes do personagem, mas também na simbologia das cores: o personagem está sempre vestindo cinza, o que, para Becker, representa um equilíbrio entre a luz simbolizada pela cor branca com as trevas simbolizada pela cor preta (BECKER, 2019).

Dessa forma, o filme trabalha com as duas categorias fundamentais dos fenômenos religiosos de acordo com Durkheim (2007): as crenças e os ritos, através de representações e ações que remetem à elementos do catolicismo, como a própria criação divina do mundo e a divisão do “corpo” de Cristo, subvertendo alguma dessas crenças, como a imagem do Deus bondoso e perfeito. Aronofsky utiliza então alguns recursos para que o telespectador associe as personagens à narrativa bíblica, a exemplo da cena em que o Irmão Mais Velho, ao ser contido, recebe um ferimento na testa, representando o sinal posto por Deus em Caim em Gênesis 4:14, tal função narrativa desempenhada pelo Irmão Mais Velho, reforça o propósito do Diretor de fazer uma analogia às crenças e mitologia cristã. (BECKER, 2019, p. 64).

De acordo com Mircea Eliade (2010) o sagrado se manifesta em elementos que não reconhecemos como naturais, à essa manifestação do sagrado o autor propõe o termo “hierofania”, em mother essa manifestação se dá através de elementos ligados à própria casa, que se configura por si só como um personagem do longa, sendo palco de visões perturbadoras por parte da personagem principal, como feridas abertas no chão e até um coração pulsando no interior da parede, a residência, portanto se insere como espaço sagrado, onde os personagens recriam a cosmogonia cristã e os feitos de Deus, incluindo a imitação do cosmogônico trágico e sangrento. De acordo com Eliade:

Instalar-se num território, construir uma morada [...] trata-se de assumir a criação do mundo que se escolheu habitar. É preciso, pois, imitar a obra dos deuses, a cosmogonia. Mas isso nem sempre é fácil de fazer, pois existem também cosmogonias trágicas, sangrentas: como imitador dos gestos divinos, o homem deve reitera-las. Se os deuses tiveram de espancar e esquartejar um Monstro Marinho ou um Ser primordial para poderem criar a partir dele o mundo, o homem, por sua vez, deve imitar essa ação quando constrói seu próprio mundo (2010, p. 48)

É preciso reiterar ainda, que sob a ótica pessoal de Aronofsky, Deus - representado por Ele - assume uma personalidade egoísta e cruel, cujo todos os atos são atos de dor e sofrimento infligidos diretamente à Mãe. Se por sua vez a ideia comum do cristianismo é a de ordem ética, pautada nos sentimentos de amor, confiança e segurança (OTTO, 2007, p. 18), na Obra de Aronofsky, os elementos sagrados passam a ideia do extremo oposto, as ações de Ele colocam em risco a segurança da personagem principal e se opõe ao ideário de amor e confiança que se pressupõe existir em uma relação conjugal, desse modo, o telespectador acompanha a crescente aflição, desconforto e desespero de Mãe em meio aos eventos. Se para Peter Berger (1985) a diminuição da religião causaria a anomia social, a composição das cenas de Aronofsky, uma explosão de acontecimentos que se sobrepõem, causando confusão ao telespectador, nos parece mostrar o contrário, a religião seria causadora do caos.

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