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O Sertão Sergipano E Memórias De Vaqueiros

Por:   •  3/9/2023  •  Artigo  •  5.281 Palavras (22 Páginas)  •  29 Visualizações

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O SERTÃO SERGIPANO E MEMÓRIAS DE VAQUEIROS

* José Adeilson dos Santos[1]

        Em ano de celebração do bicentenário de emancipação política de Sergipe em relação ao Estado da Bahia[2], a Universidade Federal de Sergipe através do seu Departamento de História, promoveu o evento CLIO DIGITAL: memórias e histórias de Sergipe - 200 anos da independência. Evento coordenado pelo professor doutor Antônio Lindvaldo Sousa para realização durante os meses de agosto a dezembro de 2020, de uma série de palestras para debater sobre um tema que viesse a refletir o passado sergipano; focando a História de Sergipe dos anos de 1820 aos dias atuais. Estas palestras para acontecerem por meio das redes eletrônicas (virtuais) de comunicação / plataforma de internet, já comumente chamadas de “lives”.

        E fomos convidados a participar de tão honroso acontecimento. De aceitação imediata de nossa parte, desde logo o primeiro contato quando recebemos o convite do organizador do evento.  E de novo, o nosso imediato entusiasmo para tratarmos de um tema muito próximo de nossa prática de estudo e pesquisa: “O sertão sergipano e memórias de vaqueiros”. Tema que muito tem nos atraído por ser da história cultural e identitária de grande parte do território do nosso Estado. E pela sua dimensão, visto a realidade dos tantos “sertões”, dos tantos vaqueiros e suas memórias nos espaços dos vários “brasis”.

        Pela programação, então, logo voltaríamos a discorrer sobre a temática que foi objeto de pesquisa do nosso Mestrado em História, no ano de 2018, pela renomada Universidade Federal de Sergipe. E para bem constar, tive o apoio e a competência do professor doutor Antônio Lindvaldo como nosso orientador.  No nosso estudo, tratamos da vaquejada pega-de-boi no mato. Manifestação cultural do ambiente dos sertões nordestinos e, por conseguinte, sergipano. E que no (pelo) seu contexto, consideremos o ambiente da pecuária extensiva, da cultura do gado e do couro. E, principalmente, expressamos nomes e histórias de vida dos sujeitos vaqueiros, fazendo a escuta de suas falas; das suas cantorias de aboios e toadas. E como em viagem, passeamos no tempo e nos caminhos das memórias destes personagens. Que nos revelaram fatos, lembranças e “causos” de tempos de gado em caatinga, criando-se à solta. Vezes perdido, vezes tangido.

Assim, portanto, pela ocasião de nossa “live” retomamos caminhos de rastros conhecidos: de homens e de animais. Nas paisagens do sertão sergipano. Reencontramo-nos, portanto, com os passos pelos quais estruturamos a escrita de nossa dissertação de mestrado. Evidentemente, servimo-nos de parte do seu roteiro. Porém, agora, para uma exposição frente á tela do computador. E que legal, tendo a oportunidade de compartilhar com outros tantos saberes, com tantas outras pessoas inscritas e participando do evento; um tema e abordagens da história de parte do nosso torrão (sertão sergipano) e de nosso peculiar homem sertanejo, o vaqueiro. Bem verdade, que pela oportunidade, tenho mesmo (e muito) que agradecer à Universidade Federal de Sergipe pela chancela do evento, e ao professor Lindvaldo pela honra do convite para a minha participação.

        Bem, mas retomando sobre aspectos de nossa “live”, a apresentação da mesma ocorreu na data de 21 de novembro de 2020 e seguiu a explanação dos seguintes eixos temáticos: 1. Definição/caracterização da mesorregião sertão sergipano (referenciando o bioma caatinga); 2. O elemento Humano vaqueiro; 3. a categoria memória e; 4. Destaque às memórias dos vaqueiros no sertão sergipano.

        Então, começamos o nosso bate-papo chamando atenção para os diversos conceitos e categorizações relacionadas ao termo “sertão”. Discussão que fizemos recordar já ter sido bem tratada em parte de nossa dissertação de mestrado. Lá em seu segundo capítulo, com a chamada “No sertão de caatingas, vaqueiros, gado e peleja”.

                E já reportávamos que decorrem diversas acepções, desde as descrições de parte dos dicionaristas a definições dadas pela Geografia, para o termo sertão,[3]. Entretanto, sendo mais comum para o nordestino “sertanejo”, compreendê-lo do ponto de vista físico. Notadamente, como sendo uma região semiárida - de clima quente e seco repercutindo, historicamente, numa povoação mais tardia em relação às regiões do Agreste e a Zona da Mata.

        Deste entendimento, portanto, não se prescinde do elemento humano integrado e em convivência com o referido habitat. Como é o caso dos agricultores, sujeitos às condições naturais (nas condições do tempo de irregulares chuvas e assíduas estiagens). E de modo igual, destacamos a figura do vaqueiro como figura regional (mais) típica, remontando o processo de colonização / povoação dos sertões nordestinos a partir do século XVI, com o predomínio da pecuária extensiva - principal estratégia para ampliar o avanço sobre as terras conquistadas da Bahia à Pernambuco, (com Sergipe incluído). E do Ceará ao Maranhão. Assim como destacou Magalhães:

[...] o período entre 1590, depois da conquista do Sergipe, e 1690, quando a corrente povoadora atinge sul do Ceará e do Maranhão, o mais importante da expansão pastoril. [...] Partindo da Bahia, a conquista do Sergipe levou o gado até o Rio São Francisco, onde as fazendas de criação se desenvolveram rapidamente (Magalhães, 1935 apud HOLLANDA, 2004, p. 221).

                De tal maneira, com a disposição de vastas áreas “de pastos” não delimitados por cercas de arame farpado; permitindo a criação do gado “à solta”. Com liberdade para tomar as matarias, que assim permitiam a dispersão das reses por densa vegetação, de muitas partes sem nenhuma intervenção do homem.

        Como no caso específico de Sergipe onde, desde os seiscentos aos posteriores tempos, as atividades da pecuária bovina se estenderam às suas terras sertanejas. Como bem tomou sentido Freire (1881, p.146) em sua clássica obra História de Sergipe, destacando a importância econômica e estratégica deste ramo, suprindo a carência da Bahia, como capitania e como sede do Governo-Geral.

o gado de Sergipe, além, do contigente economico para formação da riqueza publica, servia também para abastecer a população da Bahia, e o exercito que ainda lutava no norte. A creação do gado era a profissão dominante nesses tempos.

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