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O Trabalho Familiar nos Seringais do Amazonas Após a Segunda Guerra Mundial

Por:   •  8/10/2018  •  Trabalho acadêmico  •  4.242 Palavras (17 Páginas)  •  172 Visualizações

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O Trabalho Familiar nos Seringais do Amazonas Após a Segunda Guerra Mundial

Agda Lima Brito

Doutorado em História - Ppghs-Uerj, FAPERJ

Analisando fontes orais, mas sem descartar o uso de outras fontes, procuramos desvendar o mundo do trabalho e cotidiano em áreas de seringais do Amazonas entre 1946 e 1966, percebendo que dentro desse período ocorreram mudanças na região, que visavam tentar recuperar a economia na região Norte, como a criação da SPVEA. Nosso objetivo consiste em investigar o trabalho familiar nos seringais, onde homens, mulheres e crianças trabalharam, em uma serie de atividades, buscando a sobrevivência no Amazonas. Ressaltando que daremos maior atenção ao trabalho feminino, nos preocupando com as dificuldades que essas trabalhadoras enfrentam dentro do espaço de trabalho citado.

Palavra Chave: Trabalho, Mulheres, Memória

Analyzing oral sources and official sources, we sought to unveil the world of work and daily life in areas of rubber plantations of Amazonas between 1946 and 1966, realizing that within this period occurred changes in the region that sought to recover the economy in the North region, such as the creation of SPVEA . Our objective is to investigate the family work in the rubber plantations, where men, women and children worked, in a series of activities, seeking survival in the Amazon. Emphasizing that we will pay more attention to women's work, worrying about the difficulties that these workers face within the aforementioned work space.

Keyword: Work, Women, Memory

É importante ressaltar que a história das mulheres, como uma temática própria da História, tem seu período de ebulição por volta de 1970, com o crescimento dos movimentos feministas, que contribuíram para o crescimento deste campo de estudos:

“Apoiada à explosão do feminismo e articulada ao crescimento da antropologia e da história das mentalidades, incorporando as contribuições e dos aportes das novas pesquisas sobre memória popular. Esse foi período chave dessa produção intelectual: as militantes dos movimentos feministas fazem a história das mulheres antes mesmo que as próprias historiadoras a façam. (DAUPHIN, FARGE, 2000, p. 8)”.

Nos anos 1980 passaram a contar com um número crescente de publicações, contribuindo consideravelmente com a discussão acerca da formação da temática história das mulheres e das relações de gênero, segundo Rachel Soihet e Joana Maria Pedro essas pesquisas que englobam esse campo histórico buscam “formas mais eficientes de fornecer legitimidade ao que temos feito”, ou seja, a constituição de um novo campo de estudos, intitulado “História das Mulheres e das Relações de Gênero” (SOIHET E PEDRO, 2007, p. 282).

As autoras demonstram como o campo histórico citado acima vem se consolidando, passando por modificações e enfrentamentos, ao passo que identificam o empenho de uma gama de pesquisadoras e pesquisadores que realizaram suas contribuições na década de 1980 em diante, preocupadas em problematizar a discussão dentro das academias através de eventos, publicações em revistas, dentre outros meios utilizados que foram, no decorrer do tempo, modificando-se e agora inserindo outros estudos de gênero, fazendo emergir essas questões, até o tempo presente[1].

Levando em consideração a extensão da região do Amazonas, a quantidade de seringais que ali se formaram e as lacunas que se encontram presentes nesse período do pós-guerra, achamos importante pesquisar sobre a história de trabalho dessas mulheres nos seringais do Amazonas. Tendo em vista que muitas ainda habitam naquelas localidades, conforme podemos constatar em pré trabalho de campo, assim como algumas mulheres foram para cidade de Manaus, muitas se acostumaram à vida dentro das matas e não sentem mais vontade de sair daquelas localidades, em comunidades como o Japurá, por exemplo, as famílias já se organizaram e criaram sindicatos como o da pesca, a fim de garantirem assistência as famílias, já que segundo os entrevistados o governo não atende aquelas comunidades.

As famílias que foram entrevistadas demonstraram ter criado uma adaptação com os seringais da região, desenvolvendo o que Gerson Albuquerque denomina a “cultura de seringueiro”( ALBUQUERQUE, 2005), que se trata de adquirir do lugar onde vivem as formas de sobrevivência. No entanto com as interferências de outros agentes no meio onde moram, buscamos entender como essas mudanças que incluem o desmatamento vão interferir na vida dessas famílias.

Edward Palmer Thompson aborda os movimentos das camadas mais pobres entre XVIII, levando em consideração as experiências e costumes desses sujeitos, o contexto em que estão inseridos e suas dificuldades. Assim como influenciou gerações a pensar a história com outros olhos, também nos utilizamos desse aporte teórico para pensar os trabalhadores e trabalhadoras dentro dos seringais levando em consideração suas experiências e seu cotidiano. Thompson é referência sobre os estudos que envolvem discussões em torno de cultura popular e cultura dominante, para o autor muitos costumes dos trabalhadores XVIII eram reforçados através de protestos populares (THOMPSON, 1998, p. 13).

Acerca de cultura Thompson fala que ela pode ser também um processo de troca entre, por exemplo, o dominante e subordinado, o escrito e oral(THOMPSON, 1998, p. 17), diante de um processo de conflito torna-se um sistema. Thompson também nos chama atenção para a questão da experiência dos indivíduos, segundo o autor é através dessa categoria que podemos entender a formação desses sujeitos, suas práticas e costumes, ao cruzar essas categorias o autor aponta que:

“Elas também experimentam sua experiência como sentimento e lidam com esse sentimento na cultura, como normas, obrigações familiares e de parentesco, e reciprocidades, como valores ou (através de formas mais elaboradas) na arte ou nas convicções religiosas (THOMPSON, 1981, p. 189)”

A experiência ajuda a entender como os sujeitos romperam com condições que lhes foram obrigadas. Nesse sentindo Gerson Albuquerque pautado nas reflexões de Thompson busca entender as pluralidades desses trabalhadores, afirmando que:

“Desse modo “cultura seringueira”, assim como cultura popular de uma maneira geral, vem carregada de significados que se dão historicamente na vivência de grupos sociais, sendo vista como todo um modo de vida, trabalho, luta num processo de constante mudança e transformação. (ALBUQUERQUE, 2005, p. 36).”

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