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OS FATOS HISTÓRICOS NO BRASIL DO SÉCULO XIX RELATADOS POR MACHADO DE ASSIS COMPARADOS À HISTORIOGRAFIA

Por:   •  10/10/2022  •  Trabalho acadêmico  •  2.446 Palavras (10 Páginas)  •  104 Visualizações

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CRISTOPH KLUG (1143873)

EVANILDO DE SOUZA SANTOS (8120968)

SCHULDSON VINICIUS FILGUEIRA GOMES (8108100)

História - Licenciatura

FATOS HISTÓRICOS NO BRASIL DO SÉCULO XIX RELATADOS POR MACHADO DE ASSIS COMPARADOS À HISTORIOGRAFIA

Tutor: Prof. Edgar Bruno Franke Serratto

Claretiano - Centro Universitário

VITÓRIA – BELO HORIZONTE – RIO CLARO

2021

MACHADO DE ASSIS E A HISTORIOGRAFIA

Resumo: Trataremos neste artigo de alguns aspectos históricos relatados por Machado de Assis em seus contos e romances. O material machadiano utilizado será o romance Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881) e os contos Verba Testamentária (1882) e O Enfermeiro (1896). Especificamente nos debruçaremos sobre a questão do costume dos escravos libertos de adquirirem eles mesmos escravos, como também da questão do cargo de Vice-Rei e das eleições para deputado no século XIX. Através da revisão bibliográfica, procuraremos identificar as diferenças e semelhanças nos relatos machadianos com os relatos historiográficos, e o que há de objetivo e subjetivo em seus relatos.

Palavras-chave: Machado de Assis. Século XIX. Literatura. Historiografia.

  1. INTRODUÇÃO

Machado de Assis é o maior escritor de prosa da literatura brasileira e o único com grande reconhecimento internacional. Sendo um dos principais fundadores da Academia Brasileira de Letras, viveu num período da história brasileira repleto de mudanças. Quando nasceu, em 21 de junho de 1839, estava o Brasil nos anos finais da Regência, que perdurou de 1831 a 1840. Em 1888 foi promulgada a Lei Áurea, e sete anos antes nosso escritor publicava a obra que inaugurou sua nova fase literária, Memórias Póstumas de Brás Cubas (1881). Em 1889 ocorreu a proclamação da Proclamação da República, dois anos antes de Quincas Borba (1891) e dez anos antes de Dom Casmurro (1899), uma de suas obras mais conhecidas.  (MIGUEL-PEREIRA, 1936).

Procuraremos analisar neste artigo três fatos históricos relatados por Machado de Assis: a posse de escravos por escravos (do romance Memórias Póstumas de Brás Cubas), as eleições (do conto O Enfermeiro), o cargo de Vice-Rei no Brasil Colônia e como os historiadores trataram sobre os mesmos fatos, bem como da própria forma machadiana de História. Verificaremos o quanto de objetividade e subjetividade há nos relatos de Machado, aprofundando assim o conhecimento sobre obra deste escritor com um ponto de vista histórico. Usaremos como bibliografia artigos de historiadores e, como ponto de partida, além da própria obra de Machado, o artigo da Doutoranda em História Social no Programa de Pós-Graduação em História Social – PPGHIS, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Raquel Machado Gonçalves Campos.

Consideramos importantíssimo aprofundar a obra machadiana sob o aspecto da historiografia, especificamente comparando os fatos históricos citados por ele com o que historiadores disseram sobre esses mesmos fatos.

  1. DESENVOLVIMENTO

2.1 CONTINUIDADE DO ESCRAVISMO POR PARTE DOS ESCRAVOS LIBERTOS

No romance Memórias Póstumas de Brás Cubas, Machado de Assis relata um fato ocorrido com seu ex-escravo que, após ser liberto, comprou ele mesmo um escravo e em certo dia Cubas encontrou-o aplicando-lhe um castigo por haver sido desobediente. Machado não demonstra sequer repulsa ou reprovação na narração, o que nos parece ser um episódio até comum nos séculos XIX e anteriores. Machado de Assis relata que:

“Tais eram as reflexões que eu vinha fazendo, por aquele Valongo fora, logo depois de ver e ajustar a casa. Interrompeu-mas um ajuntamento; era um preto que vergalhava outro na praça. O outro não se atrevia a fugir; gemia somente estas únicas palavras: -- “Não, perdão, meu senhor, perdão!” Mas o primeiro não fazia caso, e, a cada súplica, respondia com uma vergalhada nova.

-- Toma, diabo! dizia ele; toma mais perdão, bêbado!

-- Meu senhor! gemia o outro.

-- Cala a boca, besta! replicava o vergalho.

Parei, olhei... Justos céus! Quem havia de ser o do vergalho? Nada menos que o meu moleque Prudêncio, -- o que meu pai libertara alguns anos antes. Cheguei-me; ele deteve-se logo e pediu-me a bênção; perguntei-lhe se aquele preto era escravo dele.

-- É sim, nhonhô.

-- Fez-te alguma cousa?

-- É um vadio e um bêbado muito grande. Ainda hoje deixei ele na quitanda, enquanto eu ia lá em baixo na cidade, e ele deixou a quitanda para ir na venda beber.

-- Está bom, perdoa-lhe, disse eu.

-- Pois não, nhonhô. Nhonhô manda, não pede. Entra para casa, bêbado!”

 (MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, 1880, pg. 126)

O que Machado pensava a respeito? Ele não se manifestava publicamente; não se metia em polêmicas devido à sua personalidade introspectiva originada pela sua gagueira (MIGUEL-PEREIRA, 1936). Mas o narrador Brás Cubas reflete:

“Saí do grupo, que me olhava espantado e cochichava as suas conjecturas. Segui caminho, a desfiar uma infinidade de reflexões, que sinto haver inteiramente perdido; aliás, seria matéria para um bom capítulo, e talvez alegre. Eu gosto dos capítulos alegres; é o meu fraco. Exteriormente, era torvo o episódio do Valongo; mas só exteriormente. Logo que meti mais dentro a faca do raciocínio achei-lhe um miolo gaiato, fino, e até profundo. Era um modo que o Prudêncio tinha de se desfazer das pancadas recebidas, -- transmitindo-as a outro. Eu, em criança, montava-o, punha-lhe um freio na boca, e desancava-o sem compaixão; ele gemia e sofria. Agora, porém, que era livre, dispunha de si mesmo, dos braços, das pernas, podia trabalhar, folgar, dormir, desagrilhoado da antiga condição, agora é que ele se desbancava; comprou um escravo, e ia-lhe pagando, com alto juro, as quantias que de mim recebera. Vejam as sutilezas do maroto!” (MEMÓRIAS PÓSTUMAS DE BRÁS CUBAS, 1880, pg. 126-127)

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