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Presença Negra em Curitiba

Por:   •  12/10/2018  •  Ensaio  •  1.769 Palavras (8 Páginas)  •  120 Visualizações

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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ[pic 1]

ESCOLA DE EDUCAÇÃO E HUMANIDADES      

CURSO: LICENCIATURA EM HISTÓRIA

DISCIPLINA: História do Paraná

ALUNO: Odir Taborda Correia Junior

ESPAÇOS TURISTICOS COMO FORMA DE NEGAR A REPRESENTAÇÃO AFRO-BRASILEIRA NA CONSTRUÇÃO DE CURITIBA

INTRODUÇÃO         

        A recente história de Curitiba, mostra as várias transformações urbanísticas que marcaram, sobretudo, as gestões governamentais da década de 1990. Tendo isso em conta é possível justificar a criação de vários espaços de lazer, parques, praças e locais de sociabilidade de maneira geral. Esses espaços, é claro, acabam chamando sempre a atenção do público que está visitando a capital paranaense e por essa razão a cidade conta com alguns meios de viabilizar o contado do turista com os espaços culturais e de memória.

        Contudo, quando se pensa em turismo, é importante considerar que os roteiros de visitação contam uma história, nesse sentido, existe uma construção de narrativas que são passadas ao público de acordo com os interesses de quem está organizando a visitação e nesse caso, se trata dos órgãos institucionais da prefeitura de Curitiba. Essa construção de discursos evidencia um problema no que tange a construção de uma história que exalta fatores culturais de interesse – como a imigração de povos europeus – e suprime elementos culturais que estão fora do interesse das instituições de poder, como por exemplo a representação da população afro-brasileira no Estado do Paraná, sobretudo em Curitiba.

        Dessa maneira, o objetivo do presente trabalho é realizar uma análise bibliográfica acerca da construção de discursos do século passado, que negam a participação negra enquanto fator fundamental para a construção histórica da sociedade paranaense. Do mesmo modo, objetiva-se demonstrar como os elementos que buscam rememorar fatores culturais da população afro-brasileira na capital, são claramente deixados de lado e por conta disso, não entram no mapa turístico da cidade. Assim, o tema permite a realização de uma série de problemáticas. Nesse sentido, será que o discurso que tenta negar a participação e a presença negra no Estado ficou nas obras historiográficas do século anterior, ou ainda persiste nas entrelinhas de narrativas contemporâneos institucionais?                 

DESENVOLVIMENTO

        Quando se pensa em turismo na capital paranaense, destacam-se diversas áreas de sociabilidade, como por exemplo o Passeio Público, primeiro parque da cidade e palco de grandes eventos, como a inauguração da iluminação pública no século passado. Outro ponto que se destaca no roteiro turístico de Curitiba é o Jardim Botânico, principalmente para os entusiastas de flores e jardins, se trata uma ótima opção para visitação. Além dos espaços já mencionados, a prefeitura de Curitiba também disponibiliza a linha turismo, que propicia aos turistas um passeio por lugares turísticos notáveis da cidade, ou seja, o ônibus turismo passa por locais de grande relevância para um determinado grupo que, em grande medida, se trata de pontos elencados por grupos dominantes na sociedade. Durante o passeio é possível perceber prédios históricos, construções imponentes e, é claro, projetos da antiga gestão governamental da cidade, como por exemplo, o Jardim Botânico.

        Outro fator relevante a ser destacado se trata da enorme quantidade de monumentos que se referem à imigração no Paraná, sobretudo europeia. Nesse sentido, ao longo do trajeto é mostrado ao público uma série de elementos que buscam lembrar e exaltar a imigração italiana, polonesa, ucraniana, alemã, japonesa e portuguesa, ao passo que o Memorial Africano é claramente deixado de lado, assim como outros locais que representam a memória afro-brasileira no País e no Estado. Ao longo do percurso, o Paço da Liberdade é evidenciado e logo de frente a construção há uma estátua de bronze, de uma mulher negra, Maria Lata D’agua, contudo não se trata de uma homenagem a população negra, mas sim ao escultor Erbo Estezel (MORAES e SOUZA, 1999, p. 8). Além disso, na Praça Santos Andrade existe uma placa de bronze que faz menção a colônia Afro-brasileira, entretanto passa despercebido para boa parte das pessoas.

        É flagrante que a escolha do que é relevante ser mostrado, sobretudo para o público que não é de Curitiba, se trata de elementos que colaborem com a ideia de uma cidade “europeia”, sempre exaltando os costumes dos imigrantes “relevantes” para a elite e suprimindo a cultura que não é bem vista aos olhos dessa mesma classe.

        Esse processo de negação da cultura africana no Estado do Paraná é uma discussão que inicia no final do século XIX. Dessa maneira, ao longo da história a presença negra no Paraná, sobretudo em Curitiba, passou por processos e tentativas de negação. Em grade medida, esse movimento de supressão da história e cultura afro-brasileira no Estado, está diretamente vinculado a gênese da historiografia paranaense com Alfredo Romário Martins.

        Romário Martins, nasceu em Curitiba na segunda metade do século XIX, membro de uma família de origem abastada e, por gerações, pertencente as elites de São Paulo e Paraná. Na juventude viveu em um ambiente intelectual permeado pela elite curitibana da época. Jornalista de formação, atuou como tipógrafo no jornal Dezenove de Dezembro (IURKIV, 2002). Em 1899 foi publicado a obra “História do Paraná” com autoria de Martins. Com este trabalho Romário Martins adentra de fato ao campo historiográfico paranaense e se torna um pioneiro nos estudos acerca do Estado, além de ser considerado um grande defensor do território paranaense (IURKIV, 2002).  Para o presente trabalho, é pertinente analisar a obra destacada anteriormente no que se refere a tentativa de negação da relevância do negro inserido na região do Paraná e de Curitiba. Assim Romário Martins (1953, p.313), “procurando demonstrar que no povoamento do Paraná a raça negra não teve grande representação”. Busca, de certa forma, institucionalizar um discurso que nega a presença negra no Estado.

        Outro autor que tentou escamotear a participação afro-brasileira na construção da história paranaense foi Wilson Martins (1989, p.108) que apontou “o índio e o negro, estes últimos em proporção praticamente insignificante”. Wilson, em sua obra, deixa clara a tentativa de aproximar ou até mesmo igualar o Paraná com a Europa, o próprio título de sua obra, “Um Brasil Diferente”, evidencia isso. Nesse mesmo livro, além de colocar como insignificante a representação do indígena e do negro na formação do Estado, o autor tenta provar a inexistência da escravatura no Paraná.

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