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Resenha de “Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial”

Por:   •  9/12/2022  •  Resenha  •  1.389 Palavras (6 Páginas)  •  83 Visualizações

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Resenha de “Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial”

Edward Palmer Thompson (1924-1993) foi um historiador britânico adepto da teórica marxista e um dos maiores historiadores ingleses do século XX que, durante sua vida acadêmica, por meio da construção histórica da experiência, mostrou que a classe trabalhadora não é construída apenas economicamente, mas forjada coletivamente em termos culturais[1].

O livro intitulado Costumes em comum, estudos sobre a cultura popular tradicional (Companhia das Letras, São Paulo, 1995), é uma de suas principais obras e traça um profundo e inovador diálogo entre a visão marxista da história (social-econômica) e perspectivas culturais de formação e de consciência de classe.

O ensaio “Tempo, disciplina de trabalho e capitalismo industrial” publicado em 1967 em Past and Present, e é republicado 30 anos depois sem alterações. A publicação de Costumes em comum serviu para reunir e detalhar mais claramente a visão de Thompson acerca da Inglaterra e reinterpretar estudos sore o tempo e a economia moral da história social inglesa do século XVIII.

         A obra apresentada aqui não é de toda nova em seus estudos, retomando mais questões previamente trabalhadas, mas incompletas e de revisão de seus antigos escritos. Talvez tal preocupação tenha sido pela delicada situação de saúde em que se encontrava neste período.

O estudo se pauta nos anos entre 1300 e 1650, anos de mudanças importantes na percepção do tempo no âmbito da cultura intelectual da Europa Ocidental. Thompson não discute até que ponto essas mudanças foram causadas pela difusão de relógios a partir do século XIV ou foram sintomas de um novo hábito burguês puritano. Foco é “até que ponto, e de que maneira, essa mudança no senso de tempo afetou a disciplina de trabalho, e até que ponto influenciou a percepção interna de tempo dos trabalhadores? ”[2] E até que ponto a transição para a sociedade industrial, que acarreou numa reestruturação de hábitos do trabalho, se relaciona com a mudança na concepção interna de tempo.

Antigamente, a medição de tempo era relacionada aos processos familiares no ciclo de trabalho e/ou de tarefas domésticas. A regulação do mesmo era condicionada essencialmente pelas diferentes situações de trabalho. A orientação pelas tarefas só era possível em pequenas comunidades de agricultores e pescadores.

O autor propõe pensar em três questões sobre tal dinâmica: a de que este tipo de trabalho é mais “humanamente compreensível”, visto que parece se tratar de uma necessidade; a questão da pouca separação entre “trabalho” e “vida”; e a urgente importância que um trabalho marcado pelo trabalho parece ter, ao contrário de um que não é.

A definição ocupacional do tempo criou uma economia bem regulada. Não é mais a tarefa que rege o tempo, mas “o valor do tempo quando reduzido a dinheiro”. O tempo se transformou em moeda, ninguém passa, e sim o gasta.

Thompson mostra como que na metade do século XVIII “a posse de relógios portáteis e não-portáteis era um sinal de luxo”[3]. Porém, havia relógios não-portáteis mais simples que estava nas mãos das classes mais pobres. O autor observa que sempre que um grupo de trabalhadores melhorava seu padrão de vida, a aquisição de relógios era uma das primeiras mudanças notadas.

Na década de 1790, a importância dos relógios mudou de “luxo” para “conveniência”. Havia uma difusão maior de relógios exatamente quando a Revolução Industrial exigia maior sincronização do trabalho. Tal item era uma urgente necessidade que impulsionava o capitalismo industrial. Além da utilidade, um relógio conferia prestígio a quem o possuísse, servindo até de investimento e poupança, atuando como ferramenta para penhores e pagamento de dívidas.

O trabalho antes da introdução da grande indústria em grande escala movida a máquinas apresentava um ciclo irregular de semana e padrões de trabalho. Estas irregularidades dos dias e semanas de trabalho estavam estruturadas e pontudas pelos feriados e feiras tradicionais. “O padrão de trabalho sempre alternava momentos de atividade intensa e de ociosidade quando os homens detinham o controle sobre sua vida produtiva”[4]. Nesse sentido, o autor propõe a questão de saber se esse não é um ritmo “natural” de trabalho humano.

Os cercamentos dos campos e o excedente de mão de obra no final do séc. XVIII arrochavam a vida dos que tinham empregos regularas, mas não se tratava de uma questão de técnicas novas, como aponta o autor, e sim “de uma percepção mais aguçada dos empregadores capitalistas quanto o uso parcimonioso do tempo. ”[5]

O autor também atenta para as diferenças de percepção de tempo de mães (que permanecem ainda atualmente), que seguem outros ritmos humanos e que não abandonaram completamente as convenções da sociedade “pré-industrial”.

        Thompson tece uma crítica a modelos simplistas que veem a industrialização como um processo único, neutro e tecnologicamente determinado. Ele diz que “a transição para a sociedade industrial desenvolvida requer uma análise tanto sociológica como econômica”[6] e que acima de tudo há nenhum tipo isolado de transição, todas recaem sobre aspectos culturais da sociedade.

O autor não procura estudar apenas as “mudanças na técnica de manufatura que exigem maior sincronização de trabalho e maior exatidão nas rotinas do tempo em qualquer sociedade, mas essas mudanças como são experiências na sociedade capitalista nascente. ”[7]

Ele se preocupa com a percepção do tempo em sua condição tecnológica e com a medição do mesmo como meio de exploração da mão de obra. Além disso, procura abordar mais particularmente várias questões que dizem respeito à disciplina do trabalho, como o governo e regulamentação da força de trabalho rebelde, especialmente no que tange o controle do tempo e da vadiagem. Mostra como há uma clara tentativa de impor o “uso econômico do tempo” por meio da retórica dirigida ao trabalhador.[8]

Outra instituição, que não o trabalho, poderia servir para instituir o uso econômico do tempo, é a escola. A educação era vista como um treinamento para adquirir o “hábito do trabalho”.

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