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SAUL E O SURGIMENTO DA MONARQUIA ISRAELITA

Por:   •  14/11/2018  •  Trabalho acadêmico  •  3.362 Palavras (14 Páginas)  •  156 Visualizações

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SAUL E O SURGIMENTO DA MONARQUIA ISRAELITA        

Texto: PINSKY, Jaime. 2000 - “O povo pede um rei: Saul” In Jaime 100 Textos de História Antiga: Textos e Documentos. São Paulo: Contexto, p. 67-68, 2000.        

38. O povo pede um rei: Saul

E juntando-se todos os anciões de Israel, foram ter com Samuel, em Ramata, e disseram-lhe: Bem vês que estás velho e que teus filhos não seguem as tuas pisadas; constitua-nos, pois, um rei que nos julgue, como o têm todas as nações.[1]

Samuel, pois, repetiu todas as palavras do Senhor ao povo, que lhe tinha pedido um rei, e disse: Este será o direito do rei que vos há de governar: Tomará os vossos filhos, e os porá em suas carroças, e fará deles moços de cavalo, e correrão diante dos seus coches, e os constituirá seus tributos e seus centuriões e lavradores dos seus campos e segadores de suas messes e fabricantes das suas armas e carroças. E também tornará o dízimo dos vossos trigos, e do rendimento das vinhas, para ter que dar aos seus eunucos e servos. Tomará também os vossos servos e servas, e os melhores jovens, e os jumentos, e os empregará no seu trabalho. Tomará também o dízimo dos vossos rebanhos, e vós sereis seus servos. E naquele dia clamareis por causa do vosso rei, que vós mesmos elegestes; e o Senhor não vos ouvirá, porque vós mesmos pedistes um rei.[2]

Mas o povo não quis dar ouvidos às palavras de Samuel; antes disse: Não. Há de haver um rei sobre nós, e seremos também como todas as nações; e o nosso rei nos julgará, e marchará à nossa frente, e combaterá por nós nas nossas guerras.[3]

E quando Samuel viu Saul, o Senhor lhe disse: Eis o homem de quem te falei, este reinará sobre o meu povo. E Saul aproximou-se de Samuel o meio da porta, e disse: Peço-lhe que me digas onde é a casa do vidente. Samuel respondeu a Saul, dizendo: Sou eu o vidente, sobre diante de mim ao lugar alto, para que comas hoje comigo, e pela manhã te despedirei e te direi tudo o que trazes no coração.[4] 

E Samuel tomou um pequeno vaso de óleo, e derramou-o sobre a cabeça de Saul e o beijou, e disse: Eis que o Senhor te ungiu por príncipe sobre a sua herança, e tu livrarás o seu povo das mãos dos inimigos que o cercam. E este será para ti o sinal de que Deus te ungiu príncipe.[5]

1 INTRODUÇÃO

        Até cerca de 1050 AEC[6], os israelitas estavam divididos em tribos unidas por laços étnicos e culturais. Não existia um reino unificado. Estas tribos eram lideradas pelos Juízes, pessoas renomadas que detinham função militar e legislativa. As tribos batalhavam entre si, quando conveniente, faziam alianças contra inimigos em comum. A crescente concentração destas tribos, as crises e inseguranças diante de constantes conflitos com inimigos, além do aumento populacional, fizeram com que se deparassem com a necessidade de unificação para sobrepor as dificuldades em comum.

Neste período, relata-se, através das poucas fontes disponíveis, a necessidade de formação de uma unidade militar entre as diversas tribos existentes para lidar contra a ameaça dos Filisteus, dentre outros povos em constante conflito. O benjaminta Saul foi o chefe militar eleito para liderar as tribos unidas em batalha contra a ameaça iminente, porém não sem oposição de alguns. Assim inicia o processo que conduz as tribos israelitas à uma monarquia.

Em seu reinado, Saul não conseguiu constituir um espaço territorial com fronteiras bem definidas, tão pouco uma administração independente e sem conflitos. Nos recortes do documento utilizado como fonte historiográfica, há evidências de uma desconstrução do personagem Saul ao longo do tempo diante de uma narrativa pela legitimação um reinado davídico, em relação conflituosa com o reinado anterior. Essas alterações do texto serão levadas em consideração e estudadas para melhor compreensão das transformações do período.

Assim, procuraremos identificar os processos que levaram a constituição de uma monarquia israelita, a questão militar e a necessidade de unidade entre as tribos israelitas e a sua condução sob liderança de Saul, além de uma análise crítica para identificação de anacronismos, versões, alterações no texto em períodos distintos e suas possíveis motivações, construindo uma narrativa através da análise da fonte historiográfica e bibliografia especifica.

2 ANÁLISE DA FONTE HISTORIOGRÁFICA        

        As condições que levaram a constituição de uma organização monárquica israelita, nos chega através dos manuscritos copilados por volta do século VI AEC, tomados como escrituras sagradas pelas religiões do tronco judaico-cristão. Essas fontes históricas não foram registradas em seu tempo, não são fatos presenciados por seus autores, mas transmitidas pela tradição oral e copiladas sucessivamente por autores deuteronomistas[7]. Portanto, são fontes indiretas, de caráter voluntário, escritas em variados tipos de materiais e com vestígios da posição ideológica de sucessivos autores ou de seus governantes.

        Estas particularidades permitem ao historiador identificar mudanças na narrativa cronologicamente e suas possíveis motivações. Dentro uma mesma narrativa, é possível reconhecer essas alterações, marcadas por anacronismos e ressignificações dos acontecimentos para cada período histórico. Para sua contextualização historiográfica e arqueológica, é importante identificar a localidade em que foram escritas, a função que têm essas narrativas no âmbito da sua circulação e a forma de linguagem adotada para transmiti-las.

        Cabe ressaltar uma característica da historiografia oriental, antes da influência helenística, na construção do passado como afirmação de um poder político-religioso no presente. A narrativa do passado é feita como forma de legitimar o poder presente e lhe dar sustentação, assim, em constante ressignificação, não se preocupa com uma precisão cronológica ou uma reprodução exata das sucessões dinásticas ou governamentais. O passado permanece aberto a novas interpretações, sempre valorizando o poder atual e depreciando o que lhe for antagônico, sob uma perspectiva política-religiosa inerente ao Mundo Antigo. Dessa forma, destaca-se o caráter institucional dessas fontes historiográficas.

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