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TEMPO DO HISTORIADOR TEMPO DO MERCADOR

Por:   •  24/5/2018  •  Resenha  •  1.014 Palavras (5 Páginas)  •  1.049 Visualizações

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LE GOFF, Jacques. Na Idade Média: Tempo da Igreja e o Tempo do Mercador. Lisboa: Editorial Estampa, 1995.p. 43-60.

Jacques Le Goff (1924-2014) foi um importante historiador francês, que se dedicou ao estudo da Idade Média. Fez parte da terceira geração da Escola dos Annales, dedicando grande parte de sua obra à História das Mentalidades. Fez estudos aprofundados sobre a cultura e mentalidade do homem na Idade Média. Abordou, em suas obras (mais de 40 livros), aspectos sociológicos, psicológicos, religiosos, antropológicos, artísticos, comportamentais, econômicos e sociais. Suas obras são consideradas referências de extrema importância para o estudo da Idade Média.

A grande contribuição dos seus estudos foi no sentido de mostrar a Idade Média como um período dinâmico, ao contrário dos estudos tradicionais anteriores, que mostravam apenas os aspectos econômicos e militares.  Desta forma, ele mudou a visão que havia até então sobre a Idade Média. É considerado um dos principais historiadores da Nova História (Nouvelle Histoire).

O primeiro passo dado pelo célebre medievalista francês para a exploração das representações medievais do tempo encontra-se em seu texto, intitulado Na Idade Média: tempo da igreja e tempo do mercador. Le Goff buscou demonstrar que, durante o período medieval, duas concepções de tempo digladiavam-se: de um lado, o tempo sacramental concebido por teólogos e filósofos cristãos – o tempo da igreja – e, do outro, o tempo pragmático manipulado pelos mercadores – o tempo do mercador.

A Igreja Católica sem dúvidas alguma, deve um papel fundamental na consolidação do Feudalismo. Era a maior e mais poderosa instituição do período. Os clérigos medievais, estavam habituados a tomar a bíblia como ponto de partida para praticamente quase tudo, cogitavam a noção de tempo a partir da tradição legada pelo livro sagrado. Esse tempo teológico começa com Deus e é denominado por ele, então, a ação divina está naturalmente ligada ao tempo.

Segundo o autor, a percepção parte dos clérigos medievais seguia de perto o rastro das reflexões agostinianas, condensadas nas obras Confissões e A Cidade de Deus. Para os membros da Ecclesia Medieval o tempo não possuía importância em si mesmo, mas tão somente quando era visto como um instrumento da irrupção do sagrado no curso da história, como porta-voz dos desígnios da divina Providência. O “tempo da Igreja” era sinônimo de um tempo histórico orientado por e para Deus. E assim, o clérigo medieval voltava-se para o tempo com a mesma postura paradoxal com que lidava com tudo o que pertencia à ordem da criação, a este mundo terreno proveniente de Deus mas manchado pelo pecado e corroído pelo mal: por um lado, ele reverenciava o tempo ao ritualizá-lo como expressão do eterno, consagrava-o como um meio de salvação e santidade por meio de celebrações religiosas; por outro, ao vislumbrá-lo como promotor da dissipação carnal e da nefasta imposição da morte ele o exorcizava pela penitência, pelo jejum, pelo apego ao espiritual.

Pelo texto inferimos que a igreja demarcava o tempo e revertia ele por meio de cerimonias de modo de interferir na vida da sociedade coletiva e isso perdura até os dias de hoje.

Já o mercador – de acordo com Le Goff – vivenciava o tempo de maneira oposta, considerando-o um artefato profano: um quadro rotineiro e habitual de medidas e referências para orientação em meio à trama de acontecimentos que o envolviam, tais como planejamento de viagens, avaliação de ganhos, estimativa de produção, etc. O mercador conquistava o tempo e retalhava-o tal como a um objeto. Impunha-lhe um preço, tratava-o como um índice de cálculos, de projeção de riscos e de realização de lucros: um tempo mensurável, controlável, “mecanizável”, e sobre o qual “[...] agem a inteligência, a habilidade, a experiência e a manha do mercador”.[1]

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