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UMA ABORDAGEM FREIRIANA AO USO DO CINEMA NO CAMPO DA HISTÓRIA: LENDO O MUNDO A PARTIR DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Por:   •  24/6/2019  •  Artigo  •  3.142 Palavras (13 Páginas)  •  280 Visualizações

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UMA ABORDAGEM FREIRIANA AO USO DO CINEMA NO CAMPO DA HISTÓRIA: LENDO O MUNDO A PARTIR DE ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Matheus Braga Dias1

José Vicente de Freitas

Eixo Temático: Paulo Freire em Diálogo com Outros Autores e Autoras

Palavras chave: Cinema. História. Abordagem. Cegueira. Freire.

INTRODUÇÃO

A utilização do cinema enquanto artefato a ser estudado no campo da História faz parte de uma discussão que ganhou seus primeiros debates de fôlego quando da publicação da obra História e Cinema (1992) de Marc Ferro, momento em que possíveis abordagens a conteúdos históricos foram evidenciados pelo consagrado historiador francês da Escola dos Annales a partir do uso do cinema como material discursivo. No Brasil, autores como Marco Napolitano (2005) e Elias Thomé Saliba (2007) também discutem esse universo fílmico em suas intersecções com a disciplina de História – principalmente no contexto do ensino formal.

  • pensando essa ligação entre o cinema e a disciplina de História que o presente trabalho apresenta uma proposta de utilização crítica desse tipo de material a partir de uma perspectiva freiriana de compreensão de mundo, na qual o cinema surge como mediação de uma leitura de mundo que obedece a duas dinâmicas: uma a que compete ao próprio suporte em suas especificidades narrativas, quando a história que se conta pode conter elementos a serem problematizados à luz de um olhar crítico que, consequentemente, leva ao segundo movimento na utilização desse tipo de material, a contextualização objetiva que estabelece com o mundo quando transforma em imagens a representação de uma dada sociedade em suas inflexões cotidianas.

Para realizar tal tarefa interpretativa é feita a escolha de uma obra específica, Ensaio sobre a cegueira, lançada no circuito cinematográfico mundial em 2008, e que hoje se encontra disponível tanto no formato de DVD, como também online, de forma gratuita para download. Se Paulo Freire diz em sua obra Pedagogia da Autonomia (1996, p. 14) que a

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  • FURG - História; matheuschess1@gmail.com

ideologia neoliberal é insensível à utopia, Ensaio sobre a cegueira está, justamente, na margem oposta a essa posição, enquadrando-se como uma produção que trata de um mundo distópico, porém, não aos moldes freirianos, mas sim como antítese, como o retrato de um pesadelo fruto dessa sociedade positiva e cartesiana questionada por Paulo Freire ao longo de seus textos.

Cabe ressaltar que esse é um primeiro esforço, no âmbito ainda da graduação, de aproximar a História e o cinema, mais precisamente o uso do cinema como fonte possível dentro de um campo, de uma lente freiriana que possibilite perceber esse recurso didático como uma ferramenta/suporte capaz de projetar um universo crítico do mundo, evidenciando uma postura política, engajada num esforço que colabore no processo do ser mais (FREIRE, 2015).

O CINEMA COMO SUPORTE INTERPRETATIVO

A abordagem aqui trabalhada diz respeito ao formato qualitativo, visto que se está diante de um texto interpretativo (BAUER & GASKELL, 2015). Nesse sentido, ao utilizar um material fílmico, compreende-se que se está diante de expressões que projetam as maneiras como as pessoas se expressam e falam sobre o que se apresenta como importante, como elas pensam sobre suas ações e as dos outros (GASKELL & ALLUM, 2015, p. 21). Disso deriva o ato do historiador, e por extensão do historiador-educador, em sua investigação, a qual complexifica, justamente, essas referenciais iniciais a partir de um arcabouço interpretativo próprio, que representa uma possibilidade entre várias, ao mesmo tempo em que contribui para a pluralidade de leituras acerca de um determinado objeto.

Ao se valer da abordagem qualitativa a partir do cinema, e encarando esse suporte aqui do ponto de vista da história que conta, mas sobretudo da história que possibilita contar a partir de si sobre o mundo em que vivemos, será utilizado nessa análise interpretativa o que se considera como vetor do debate proposto: a proposição do “E se...”.

Expressão utilizada sobremaneira no conhecimento popular, em expressões cotidianas que demonstram a possibilidade de uma história acontecer de outra forma que não a que se sucedeu, ela também é valiosa para pensar a proposição utópica e distópica que está presente em uma análise fílmica de caráter freiriano, já que essa é condição de mudança. Projetar um “E se...” é estar diante de uma alteridade, a qual pode se manifestar de diversas formas,


criando cenários problematizam essa relação, e com isso buscando formas de superação de situações reais, objetivas dentro do mundo experienciado pelos sujeitos no tempo.

De forma a alinhavar com maior critério elementos de análise, e seguindo a trilha da metodologia qualitativa-interpretativa, opta-se nesse texto em apresentar duas categorias a serem analisadas enquanto horizonte crítico de análise: a ideia de civilização, e a de humanização. Essas serão dois indexadores que encaminharão o debate a ser realizado, visto que se está diante de uma obra capaz de trazer à tona tais elementos como referências para sua própria construção crítica, quando desconstrói um dos sentidos (a visão) que funda a experiência da civilização moderna, ao mesmo tempo em que propõe uma discussão em que a humanidade precisa se reavaliar como tal.

Lançar mundos dentro do mundo é parte do fazer cinematográfico, que perpetua o instante não de maneira aleatória, mas a partir de um ato de escolha. Logo, investigar essas escolhas é estar diante de um espelhamento que pode ajudar a lançar luz sobre um real de forma crítica, transformadora naquilo que busca superar. Assim, fazer do cinema mediação de uma relação pedagógica é deixar que esse ato de lançar mundos no mundo adquira potência no contexto do ensino-aprendizagem que permeia o ofício do historiador.

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA: UMA BREVE FICHA

O filme Ensaio Sobre a Cegueira do diretor brasileiro Fernando Meirelles, é uma produção adaptada do livro de mesmo nome, de autoria do escritor português José Saramago, e que teve sua primeira edição lançada em 1995. A adaptação para o cinema foi uma co-produção entre Brasil, Canadá e Japão produzida entre 2007 e 2008. O roteiro, sobre responsabilidade de Don McKellar, buscou a fidelidade ao livro, sendo a produção reconhecida e elogiada pelo próprio autor.

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