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A Análise do Conto “A Menina de Lá” de João Guimarães Rosa

Por:   •  15/12/2022  •  Artigo  •  1.204 Palavras (5 Páginas)  •  124 Visualizações

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Universidade Federal da Paraíba - Campus IV

Disciplina: Literatura de Tradição Oral

Discente: João Victor Carvalho da Silva

Análise do Conto “A menina de lá” de João Guimarães Rosa

CONSIDERAÇÕES INICIAIS:

Sabe-se que o tratamento com a oralidade, sempre foi desgarrado e até visto como desconexo pelos estudiosos, mas com o passar do tempo percebeu-se a riqueza, a qual estava contida nessa oralidade, se pensarmos em literatura oral, evocamos a identidade cultural de diversos povos, que ainda preservam a sua história e conhecimento por meio da oralidade.

É necessário compreender que o precedente da escrita, é a oralidade, dado que é um recurso que é primário para o ser humano, uma vez que somos seres dotados de linguagem. Alguns estudiosos buscaram compreender esses artifícios da oralidade e suas ramificações, uma vez que a escrita passou a ocupar esmagadoramente a preocupação dos indivíduos, como se a oralidade fosse separada da escrita ou até mesmo vista como inferior, “é inútil julgar a oralidade de modo negativo, realçando-lhe os traços que contrastam com a escritura. Oralidade não significa analfabetismo, o qual, despojado dos valores próprios da voz e de qualquer função social positiva, é percebido como uma lacuna” (ZUMTHOR, 1997, p. 27).

A literatura trouxe um novo olhar para a oralidade, conservando alguns traços com o objetivo de demonstrar a riqueza, que predomina por exemplo as narrativas orais, passadas de pai para filho em tribos indígenas. Com o intuito de preservar e perpetuar essas histórias, foi que a escrita ganhou espaço, mas  percebemos traços orais nessas manifestações escritas como poesia, romances, contos e entre outros.

Diante disso, o presente trabalho tem como finalidade realizar uma análise do conto “A menina de lá” de João Guimarães Rosa, à luz das teorias de literatura oral de Paul Zumthor (1993), a qual carrega a noção de “performance” da fala, demonstrando que o corpo, os gestos, todos esses artefatos também comunicam, além de  Walter Ong (1998), que faz uma descrição da importância do som, por meio dessas vertentes teóricas verificaremos como as manifestações mágicas da personagem, são decorrentes de sua fala, ou seja, da verbalização das palavras. Como recurso metodológico realizamos uma pesquisa bibliográfica de cunho qualitativa.

Para melhor aproveitamento da leitura da análise em questão, se faz necessário ler as seções em suas respectivas ordens e divisões que são: considerações iniciais, momento em que capta-se o objetivo do trabalho, qual é o respaldo teórico e entre outros; análise do corpus literário, momento em que de fato é realizado uma leitura minuciosa do conto em questão, fomentando os argumentos levantados com a teoria de Zumthor e Ong, observando como a fala é um artifício místico e poderoso; Considerações finais, destinado para as constatações acerca da análise realizada, sobretudo de que forma a literatura oral está presente no conto.

        

ANÁLISE DO CORPUS:

O texto em questão é bastante peculiar, dado que narra a história de uma menininha, a qual tudo em proferia se tornava realidade, favorecendo a sua família com esses dizeres “mágicos”, repletos de misticismo, porém,  esse falar mágico faz com que a grande protagonista seja refém do seu próprio poder, levando-a morte.

O espaço não é muito descrito, “Sua casa ficava para trás da Serra do Mim, quase no meio de um brejo de água limpa, lugar chamado o Temor-de-Deus.”. Observa-se mais um cenário típico de Guimarães Rosa, o espaço pode ser equiparado a um interior, o que de certa forma irá justificar o uso linguístico. A produção de Guimarães Rosa conta com o número mínimo de personagens, os quais são caracterizados e descritos brevemente, ressalta-se Maria, seu pai e sua mãe:

O Pai, pequeno sitiante, lidava com vacas e arroz; a Mãe, urucuiana, nunca tirava o terço da mão, mesmo quando matando galinhas ou passando descompostura em alguém. E ela, menininha, por nome Maria, Nhinhinha dita, nascera já muito para miúda, cabeçudota e com olhos enormes. (ROSA)  

Para melhorar o entendimento, se faz necessário voltar um pouco no tempo e remontar o período em que para as pessoas, as palavras verbalizadas possuíam um poder mágico, como é assimilado por Ong (1998, p.43), “O som sempre exerce um poder”, dessa forma abordagem adotada na habilidade especial de Maria vem por meio da força do seu falar.

Dias depois, com o mesmo sossego: - “Eu queria uma pamonhinha de goiabada” – sussurrou; e, nem bem meia hora, chegou uma dona, de longe, que trazia os pãezinhos da goiabada enrolada na palha. Aquilo, quem entendia? Nem os outros prodígios, que vieram se seguindo. O que ela queria, que falava, súbito acontecia. (ROSA)

Diante do exposto, os milagres só poderiam ser realizados se a menininha os falasse, demonstrando a força na voz que Ong pontuou, mas os pedidos realizados por Maria eram muito levianos, nada muito circunstancial. Tratando-se de voz, é inegável a contribuição do narrador que em alguns momentos é em primeira pessoa, ora em terceira pessoa.

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